Capítulo VIII

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Era como se vermes estivessem o dilacerando de dentro para fora. A febre em seu corpo não cedia para nenhuma poção, feitiço ou mesmo remédios. Gilbert mal conseguia se estabilizar na realidade, estando num estado quase que completamente alucinatório. Ele via Leya o tempo todo sobre ele, ao lado dele, o rosto enegrecido pelo veneno como no dia em que a encontrou. Ele via a satisfação no seu rosto, em vê-lo sofrendo. Ele tentou atacá-la uma vez, fechando as mãos sob seu pescoço, mas ela apenas sorria, e quando foi separado dela descobriu que ele estava enforcando apenas um empregado.

Laurel levou dias para conseguir estabilizar a condição dele, pois o que o afligia escapava o conhecimento até mesmo de um bruxo pesquisador e experiente como Laurel. Ele nunca tinha visto nada parecido, não era uma maldição, mas também não deixava de ser, era como um vírus que se alimentava da própria magia de Gilbert, mas um criado a partir de anos de rancor e ódio concentrados. De alguma forma Liana tinha sido um veículo para passar a doença. O melhor que Laurel pode fazer foi quebrar a febre e estagnar o crescimento da mancha. Em poucos dias já tinha que subido por todos seus dedos. Laurel considerou cortá-los, mas não impediria o crescimento, pois o que o afligia não era uma mera doença da carne, mas uma mágica. Seu melhor chute era que a própria magia da mulher, sua irmã, até onde ele sabia, tinha se alocado dentro do seu corpo com o objetivo único de destruir o corpo dele.

Mas, identificando que ela precisava de magia para agir, Laurel conseguiu criar uma poção para estagnar o processo. Infelizmente isso significava que Gilbert Gaunt não podia usar magia.

Imagine quão contente ele ficou ao ouvir esse diagnóstico. Ele tentou atacar Laurel, mas o rapaz se livrou dele como se fosse um leproso. Teseu encarou o irmão atentamente, ele reconhecia os sinais. Laurel estava ficando entediado, e certamente não tinha intenção de passar o resto da sua vida cuidando de Gilber Gaunt. Seu objetivo era coletar dados e informações, enquanto que torturando Liana no processo, mas nos últimos dias tudo que ele tinha feito era bancar a babá do senhor Gaunt. Teseu imaginou que eles provavelmente partiriam em breve, e teriam o feito, não fosse pela tarde em que Gilbert o convocou, dessa vez não para pedir uma poção para dor ou para dormir.

Teseu observou como ele tinha envelhecido nos poucos dias, sua atividade e jovialidade pareciam ter sido sugadas dele, assim como sua força. Ele, que sempre tinha uma postura ereta, estava encurvado, enfraquecido, a pele mais flácida ao redor do rosto. Os dedos estavam pretos, e fediam até de uma boa distância. Ele suava copiosamente e lutava para respirar.

_Eu...eu não vou ser vencido por um fantasma – ele tossiu, até falar era um esforço – Eu vou ter o que eu quero.

_Marvolo não tem interesse em...hm, como eu digo educadamente? Entrar sem ser convidado. – Laurel disse com pouco interesse – E também não quer uma poção do amor, porque aparentemente Liana fica chamando por "Ominis, Ominis", e ele não suporta.

As mãos de Gilbert se fecharam ao redor do lençol, seus olhos tinham uma promessa de fúria. Todos ali sabiam que Marvolo só estava em posição para se negar assim porque Gilbert estava acamado. Provavelmente incentivado pela mãe.

_Mas... – Laurel abriu um leve sorriso – É minha opinião que ele não...sente aversão pela menina. Ele gosta da aparência dela, gosta da ideia de roubá-la.

Gilbert levantou a mão trêmula na direção de Teseu, o que fez Laurel arregalar os olhos com interesse.

_Ele...um cão fiel – Gilbert exalou, com dificuldade – Você disse que fez isso, que o tornou assim. Eu a quero assim.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora