Capítulo XII

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Haviam cinquenta e sete pessoas ali.

Cinquenta e sete bruxos nascidos-trouxas que confiaram na pessoa errada. De diferentes idades, todos recrutados por um duque. E toda aquela operação acontecia num castelo presenteado à ele, Gilbert Gaunt, como uma recompensa pelo seu serviço social. Se encher os bolsos na monarquia podia ser considerado "serviço social". Levantado no século 11 no rochedo de Cashel, o castelo que já tinha servido como base para invasões da normanda era uma bela fortaleza. O que dificultava bastante um sonho de escapar, mas ela já tinha estudado toda aquela estrutura com Silver.

Como ela esperava, eles não olhavam com cuidado para os prisioneiros, então quando chegou a hora de descer, ninguém reparou que haviam dois a mais. Os prisioneiros não disseram nada também, mas Liana sentia a desconfiança crescente. Ela não os culpava. Assim que desceram separaram-nos em grupos femininos e masculinos, o que também já era esperado. Sinceramente, aquela era uma operação mais de Silver do que dela. Era a pequena elfa doméstica que passou anos pacientemente retirando informações, uma a uma, sempre sem criar suspeitas, sempre leal aos olhos do senhor. Quando Liana a indagou sobre o que a levou a reunir as informações, ela admitiu que esperava passá-las para Ominis. Após a morte de Leya, ele era o seu verdadeiro senhor, embora ela não pudesse servi-lo. Mas Silver passou anos fazendo o que podia, até mesmo protegendo o medalhão que continha a maldição de Ominis.

Porém, com tudo que tinha acontecido, ela decidiu confiar tudo que tinha à Liana. Agora, era responsabilidade dela, e Liana sentia em seus ombros, as vidas das pessoas ali. Elas escoltaram seu grupo para dentro do castelo, por corredores escuros, iluminados por somente poucas velas. Até alcançar um alçapão grande, ali, eles os fizeram se despir das roupas e vestir os uniformes do castelo, enquanto aproveitavam para fazer uma inspeção nos prisioneiros. Liana vestiu o uniforme sujo, um simples macacão preto e uma camisa também preta. Ela vestindo os sapatos gastos quando observou uma garota, não devia estar além dos seus quatorze anos, se aproximar devagar de um dos guardas.

_S-senhor?

O guarda era claramente um bruxo das trevas, para quem sabia reconhecer um. As vestes escuras, as tatuagens de cobras nos braços que mostravam sua fidelidade e serviço aos Gaunt.

_Esse é o Orfanato Excelsior? – ela tremia ao falar – Para crianças-

_Cale a boca, sangue-sujo! – ele berrou de volta, abanando a varinha – Sempre isso, toda vez que eles chegam. – ele disse, reclamando na direção da bruxa que o acompanhava.

A menina se encolheu, e, uma menina, bem alto e encorpada decidiu se impor. Liana viu a decisão se formar impetuosamente nos olhos dela. Viu como ele analisou os dois guardas e o restante da sala, os guardas não estavam armados com nada, para uma pessoa normal duas pessoas não poderiam conter sete. A coragem viera até ela provavelmente porque os desamarraram.

_Foda-se essa merda de orfanato – ela bradou – Eu não vou ficar nesse castelo no fim do mundo.

E avançou na direção do homem. Liana estava longe demais para ajudar, e o sorriso no rosto do bruxo das trevas era de puro deleite. Ele simplesmente balançou a varinha e a menina foi jogada para trás, contra a parede. Foi quando a histeria começou.

Algumas crianças pareciam menos chocadas, talvez porque elas mesmas talvez já tivessem operado feitiços sem querer, mas a expressão de confusão e desespero era a mesma. Os que provavelmente nunca tiveram um contato tão explícito com magia surtaram completamente.

_Satã! – berrou uma outra menina – Satã!

_Que bosta, Howard. – reclamou a bruxa – Ainda não passaram pelo treinamento, isso não é problema nosso.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora