Capítulo XIV

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A verdade é que não demorou muito para a rebelião acontecer. Liana e Teseu não ficaram mais do que algumas semanas ali. E não aconteceu porque eles planejaram, mas porque, ao contrário do que Margerie passou a acreditar, a obediência a um sistema opressor não garante sua sobrevivência. Mas estou me adiantando.

Apesar do olhar sempre observador e da clara oposição de Margerie a alimentar quaisquer tipos de "esperança", as meninas vinham diariamente até ela. E Liana não iria negar-se a responder. Então, sempre que tinha a oportunidade, Liana lhe contava histórias.

_É verdade o que você disse para Amanda sobre um cavalo com cabeça e asas de pássaro? – Ana, uma das meninas da sua idade a perguntou.

Liana sorriu com a lembrança de Highwind.

_Sim, são chamados Hipogrifos, e são criaturas magnificas. Metade ave e metade cavalo, são capazes de carregar várias pessoas e voam em uma velocidade sobrenatural. Porém, mais do que isso, são criaturas leais, e, quando você as trata com respeito, são muito amáveis.

_Você voou em um? – indagou Joan, uma de suas colegas.

_Sim, algumas vezes. Voar...não sei se palavras fazem jus. Voar num Hipogrifo é bem diferente de voar numa vassoura, no entanto.

As meninas arregalaram os olhos.

_Vassoura! – exclamaram e uníssono.

E assim Liana passava as vezes uma hora, conversando sem parar. Aqueles momentos eram restauradores de alguma forma, pensar tanto em Hogwarts e poder compartilhar isso com aquelas pessoas era importante para ela. Quando ela achou que as meninas finalmente estavam satisfeitas, Sara se aproximou com um sorrisinho raro de se ver.

_E o seu namorado também veio de Hog..Howarts?

Foi a vez de Liana arregalar um pouco os olhos.

_Namorado? – ela franziu o cenho – Ah, Teseu? – ela se viu rindo – Não, não, não. Ele é um amigo, e...infelizmente nos conhecemos em uma situação ruim.

Sara a observou cuidadosamente, como se analisasse um quebra cabeça, mas não perdeu o sorriso.

_Mas há um namorado, certo? – Liana a encarou um pouco sem fala – Você tem cara de apaixonada, não me engana. Se não é o Teseu, quem?

Liana engoliu em seco e ficou constrangida como não ficava há um bom tempo. Ela sentiu as bochechas e o rosto esquentarem, e sua reação atraiu a atenção das meninas, que se inclinaram na sua direção. Liana não conseguiu encará-la nos olhos e permaneceu olhando para as próprias mãos.

_B-bem...

Ela não pensava nele há um tempo. Ou melhor, não tinha se permitido pensar nele. Mas assim que ela abriu uma brecha ela foi invadida completamente, Liana estremeceu com as lembranças sobrepondo-se uma a outra. Ela ouviu sua voz aveludada, sentiu o toque febril dos seus dedos sempre ansiosos, as pontas levemente calejadas, o sorriso que podia mover completamente seu mundo. Merlim, como ela sentia falta dele, o que ela daria por um minuto que fosse, apenas para vê-lo lendo sob a sombra de uma árvore.

_Ah meu deus! – exclamou Joan, empurrando-a levemente com o ombro – Você está vermelha! Nos conte algo pelo amor de deus, nós merecemos.

_Eu me apaixonei por um rapaz logo que entrei na escola – ela se pegou admitindo – Eu estava vagando pelo castelo, maravilhada, e ouvi alguém tocando piano de longe...Eu segui a música e o encontrei sobre o piano, tocando música sozinho.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora