Capítulo III

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Liana passou a noite tentando abrir a maldita caixa.

Não cedia. Ela até machucou os dedos de tanto que tentou puxar aquele maldito cadeado fora, mas, obviamente, estava preso por magia. Em certo momento, no ápice da sua frustração, ela jogou a caixa longe. Ela não conseguiu voltar a dormir, sua mente ficava voltando para o sonho. Leya, quem quer ela fosse, tinha vivido naquela casa, e devia fazer parte da família pelo tratamento que recebeu do rapaz empregado. Ela também sabia que Leya estava certamente apaixonada por aquele rapaz misterioso, mas que isso provavelmente não tinha ido bem. Algo a dizia que tinha haver com o menino na porta, os olhos infinitamente frios sobre ela. Liana sentiu um arrepio sem saber porque, apenas de se lembrar.

Será que era uma tia de Ominis? Mas a única tia que ela tinha ouvido não tinha esse nome, era Noctua. Então aquela não era Noctua, mas outra tia? A cabeça dela estava girando.

Os dias que se seguiram não foram muito diferentes.

Ela passava o tempo trancada, continuava passando pelas sessões de Laurel, que não voltou a fazer outra sessão de tortura tão agressiva. A noite ela era obrigada a jantar com Marvolo, tinha que aturar as tentativas exaustivas de conversa, a falsa doçura. O suspense só o tornava mais intragável do que o normal, era um insulto à inteligência dela ele realmente acreditar que Liana podia abrir uma brecha que fosse de amizade para ele.

Um dia, Silver tinha aparecido no quarto para trazer mais livros enviados por Marvolo. Liana decidiu se arriscar, ela não tinha como abrir aquilo sozinha de qualquer jeito.

_Silver...

A elfa arregalou devagar os olhos já enormes. Era provavelmente a primeira vez que ela a chamava. Liana tirou a caixinha debaixo do travesseiro, e ela viu o choque que percorreu o corpo da pequena elfa. Então ela reconhecia.

_Onde você...como?

Liana foi honesta.

Ela contou sobre os sonhos que vinha tendo, sempre absurdamente realistas e perturbadores. Ela disse que viu a menina escondendo a caixa debaixo da madeira abaixo da cama. Silver se aproximou devagar, os dedos finos pairaram sobre a caixa, e Liana viu no seu semblante algo que ela conhecia bem demais...luto.

Silver tinha amado aquela menina, a dona da caixinha. "Minha senhora gostava dessa poção", ela a dissera certa vez. Liana não tinha prestado muito atenção, mas ela tinha se referido a uma mulher, não a Gilbert.

_Consegue abrir? – ela se arriscou ainda mais. – Acho que ela está tentando me dizer algo.

Silver continuou encarando a caixa, tanto que Liana pensou que ela não tinha a ouvido. Seus olhos ficaram úmidos, e quando Liana pensou que ela iria chorar, Silver recobrou a postura.

_Encantamento de bruxo que só pode ser desfeito por bruxo.

Liana sentiu as esperanças desaguarem para fora do seu corpo.

_Então é inútil...não tenho minha varinha.

_Pf – Silver soltou algo similar a um suspiro debochado. – Bruxos...arrogantes – ela reclamou, e começou a caminhar na direção da porta – Com toda magia do mundo na palma das mãos... – ela se virou antes de sair pela porta, a lançou um olhar sério – E não sabem usar.

E saiu.

Liana encarou as próprias mãos, " na palma da mão". Isso a lembrou de algo que ela já tinha ouvido, como as varinhas eram condutores, que aumentavam o fluxo já existente. E Natty, ela também a disse que de onde ela vinha eles não usavam varinhas.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora