37 - Brincando de dentista

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Francisco estava maravilhado... Ficou ali, na baia da Faísca, admirando Geleia. Um mundo novo transparecia no fascínio em seus olhos negros, um muito diferente daquele que conhecia. Notava que a vida no campo era totalmente o oposto do que havia imaginado. Ele imaginava os camponeses iguais às pessoas da cidade, onde tantos eram indiferentes a tudo. Imaginava que os cavalos já eram comprados prontos...
_ Eu não sabia que os cavalinhos nasciam assim!
Lenice, ao notar o jeito desconcertado que o amigo olhava aquela cena, ficou maravilhada:
_ Tu viu, Chico? O Geleia tem tudo o que precisa com a Faísca... Vamos sair de fininho pra não incomodar eles.
Francisco arregalou os olhos.
_ Sair de fininho?! O que é isso?
A menina explicou pacientemente:
_ É sair sem fazer barulho, Chico.
Ela colocou o dedo indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio.
_ Vem, vamos comer alguma coisa, que tu deve tá com fome da viagem.
Francisco olhou-a, acanhado:
_ Tô sim... Mas eu não quero sair daqui! O Geleia pode precisar de ajuda, ele ainda não consegue levantar...
As meninas acharam a solução:
_ Então vamo' trazer o rango pra cá! E tu fica' ali, onde tu pode ficar olhando o Geleia, mas sem deixar a Faísca nervosa.
Francisco acompanhou-a timidamente até um cantinho da baia, onde estavam palhas secas de cereais.
_ Primeiro, vamo' rechear o bucho!
Francisco arregalou os olhos ao ouvir a frase de Lenice.
_ Depois do lanche vamo' brincá', tá? O Mig vem também, mais tarde.
O jeitinho acanhado do amigo fez as meninas arrumarem um vasto lanche, e compartilharam tudo, para que ele se sentisse melhor.
_ Prova isso, Chico! Essas bolachas de mel foram feitas pela nossa mãe!
_ Experimenta a broa. Elas são receita da vovó... Desmancham na boca! Mmmmm...
As delícias eram provadas uma a uma. Francisco abocanhou uma broa e fez uma careta, que não ficou desapercebida pelas manas:
_ O que deu em ti, Chico?! Tá ruim?
_ Não... Tá uma delícia! Mas tá doendo meu dente... Minha mãe ia me levar ao dentista essa semana, mas ela ficou doente.
As manas entreolharam-se e piscaram.
_ É hora de chamar a Doutora!
Francisco, prevendo que algo estava para acontecer, tentou desvencilhar-se da situação.
_ Olha!!! O Geleia tá de pé! Que bonito!!!
_ Ele vai mamar agora! Não podemos fazer barulho...Vamo brincá lá no cantinho, onde tem as latas!
O menino ainda tentou argumentar:
_ Mas eu quero ficar aqui!!! Quero ficar perto do Geleia... Podemos brincar aqui, né?
As meninas trocaram um piscar de olhos.
_ Tudo bem! Mas sem barulho...
_ Já que o paciente não vai até o consultório, o consultório vem até o paciente!
Francisco arregalou os olhos diante da frase, um pouco complicada para o entendimento do menino. Mas respirou fundo, pois ali tinha acabado de nascer um bebê - um bebê potrinho, mas ainda era um bebê.
_ Consultório? O Geleia tá doente?
As manas estavam ocupadas demais para explicar:
_ Quem vai buscar o equipamento do consultório?
Lenir prontificou-se a buscar o tal equipamento. Saiu correndo em direção à casa e voltou com uma caixa repleta de tralhas e potes. Francisco olhou para a caixa, curioso:
_ Como vão usar essas coisas no Geleia?
Lenice respondeu pausadamente, já segurando o braço do amigo:
_ Chico... Me diz: quem aqui tá com dor? O Geleia?
O menino olhou para o próprio braço, sentindo-se conduzido pela amiga. Em seguida, olhou para o potrinho... E observou Faísca, que lambia o filhote.
_ Bom... Não sei quem tá com dor. Só...
Francisco não chegou a concluir a frase, pois lembrou do dente doendo. Sentiu-se conduzido mais uma vez.
_ Aqui, Chico! Senta aqui!
Lenir apontou para uma lata vazia de querosene no canto da baia de Faísca. Francisco não compreendeu o verdadeiro significado, mas atendeu ao pedido.
_ Tomara que o tratamento pra dor funcione! Primeiro... Mãos limpas!
Lenir aproximou-se de uma torneira, lavou as mãos e enxugou-as em uma toalha que trouxera no interior da caixa. Até aquele momento, Francisco estava gostando da brincadeira, pois pensara que era só sentar e assistir.
_ Agora, coloca o jaleco, doutora...
Lenice vestiu o casaco branco manchado que a irmã trouxera. Abriu a caixa e passou a retirar de lá alguns objetos.
_ Primeiro... Vamos ver esses dentes!
Lenice aproximou-se de Francisco, colocando jeitosamente uns chumaços de algodão no interior da boca do menino, deixando-os presos entre os dentes e a bochecha usando dois palitos de picolé.
_ Já vi o dentista fazer isso...
Ao ouvir a frase de Lenice, Francisco arregalou os olhos, simplesmente amedrontado... Parecia arrependido de aceitar a brincadeira, pois não sabia que se tratava de brincar de dentista. Tentou sem sucesso erguer-se da lata de querosene onde estava sentado. A menina embebeu outro chumaço de algodão com um líquido de sabor estranho e, jeitosamente, foi passando o estranho líquido nos dentes de Francisco...
_ Não pode levantar ainda, Sr Chico! A Dra ainda não terminou o tratamento!
Lenir engrossou a voz para imitar uma pessoa adulta.
_Mmmmmm!!!
As três crianças olharam na direção da entrada da baia, onde estavam Claudio, Arnaldo e Miguel.
_Tratamento? Quem tá fazendo tratamento aqui?
A cena das manas manuseando palitos para mexer na boca cheia de algodão de Francisco era hilária... Miguel não segurou a gargalhada e aproximou-se correndo:
_ Aaaaa, Chico véio! Tu também caiu nas mãos das doutoras?
Arnaldo e Claudio entraram sorrindo:
_ A vítima de número dois da dupla "Lê Lê"...
O menino ficou curioso:
_ Lelê? Quem é Lelê?
Claudio sorriu:
_A dupla Lenice e Lenir! Você foi a segunda vitima. A primeira foi...
Os dois homens dirigiram o olhar a Miguel. Francisco seguiu o olhar dos dois homens e perguntou inocentemente:
_E parou de doer teu dente também? Elas são doutoras boas...
Miguel passou a mão no queixo e admitiu:
_Parou.
Os dois homens alí presentes cruzaram os olhares, em sinal de indagação.
_ Mas... O que vocês fizeram?
As manas entreolharam-se. Lenice confessou:
_ Fizemos chá de folhas de batata doce... É ruim de colocar, mas faz bem pra dor de dente... Nossa mãe que nos ensinou.
Uma risadinha de Arnaldo cortou o ar:
_ É... É ruim, mas é bom!
Francisco arregalou os olhos mais uma vez:
_Ruim? Bom? Como isso? Não entendi...
A gargalhada foi geral entre os presentes. Francisco parecia divertir-se com aquela confusão tão viva e natural... Ali todos pareciam iguais, em sentimento, em risos... Claudio sorriu, sentou-se na lata vazia de querosene, olhou para as crianças e convidou:
_ Vamos renovar nossas energias? Vamos a um lanche? Eu tô morto de fome!
Francisco olhou perplexo para Claudio:
_ Mo... Morto???
Claudio abraçou o menino.
_ É só um jeito engraçado de falar que tô com a barriga doendo de tanta fome, meu guri!
Francisco parecia ter compreendido. Olhou receoso para o potrinho:
_ E o Geleia? Quem vai cuidar dele? Ele também deve tá com fome...
_ Ele tem a mamãe dele, que sabe direitinho como cuidar dele. Ela vai dar de mamar pra ele.Vamos?
Arnaldo interrompeu:
_ Lá no CTG tá tudo organizado pra amanhã. Agora, temos que decidir onde é que o Francisco vai dormir...
As gêmeas correram até o visitante:
_ Diz que vai ficar aqui, vai? Temos uma coleção de quebra-cabeças. Sabemos que tu gosta muito...
Francisco parecia nem ter escutado o que as meninas falaram sobre o jogo. Olhou perplexo para as gêmeas, pois não se imaginava dormindo em uma casa estranha, onde duas meninas "criativas"comandavam as brincadeiras. Olhou para Miguel, e, timidamente, fixou o chão. Claudio interveio, sorrindo:
_ Xiiii!!! Temos quatro crianças e um problema... Quem se habilita a achar uma solução?
Arnaldo sugeriu:
_ Como temos um aniversariante amanhã, poderíamos aproveitar e...
Os dois homens entreolharam-se, como se fossem ter a mesma ideia. Claudio sorriu e sugeriu:
_ Mas é claro! Temos lugar sobrando! Você e o Miguel ficam aqui. Assim as crianças ficarão todas juntas!
_E nós também!!! Pra cuidar de quatro crianças dessa idade e criatividade já é preciso um batalhão do exército...
Claudio sorriu:
_ Assim, amanhã, será mais fácil organizar tudo pra irmos até o CTG. Vou pedir pra Tina arrumar os quartos de hóspedes. Os meninos dormem em um, e tu pode dormir em outro.
_ Pois pra mim qualquer cantinho serve, meu amigo. Se eu souber que as crianças estão bem, vou dormir feito pedra!
Os dois homens ficaram ali, combinando os trâmites do dia seguinte, enquanto as crianças já correram até a cozinha. Francisco puxou Lenir para o lado:
_ Eu não entendi... Teu pai disse que tava com tanta fome, mas... Ele não veio pra comer...
A menina puxou o amigo pela mão:
_ Coisa de gente grande, Chico... Fala uma coisa e faz outra... Nosso pai faz isso... Ele, às vezes, esquece de comer...
Miguel, que vinha pulando num pé só, parou de repente:
_ E isso não faz mal?
A menina olhou tristemente para o amigo:
_Faz... E já teve que ir ao hospital por causa disso... Fez uns exames e teve que fazer tratamento...
_Verdade? O que ele tinha?
A menina relatou, com a voz embargada:
_ Uma tal de úlcera... Ele tava muito doente... Mas fez tratamento... Parece que ainda tá tomando uns comprimidos...
_Mas então, vai lá... Vai lembrar teu pai de comer... Ou a tal da úlcera vai dar dor nele de novo...
Lenice correu até o pai e de Arnaldo, e puxou-os pela mão, na direção da cozinha.
_ Vem, paizinho... E seu Arnaldo também... Nós já arrumamos o lanche!
Claudio olhou surpreso:
_Mas que beleza de gurias! Assim, nós estaremos salvos da senhora fome!
_ Pois é isso mesmo, paiê! Com a gente, a "senhora fome" vai lá pro"bicho mau"...
O lanche foi servido diante de um clima animado. Após o término, as crianças invadiram a biblioteca de Claudio.
_ Guardamos aqui os jogos que gostamos. Vamos montar quebra-cabeça?
Francisco, naquela ocasião, sentia-se como em uma casa mágica... Primeiro, presenciou o nascimento de um potrinho, depois, como em um passe de mágica, duas meninas acabaram com sua dor de dente, e, por último, o seu jogo favorito... E, a presença de seus melhores amigos...
_Chico! Mas tu é muito rápido no jogo! Assim não vale!
_ O que"não vale"?
_Vale sim... Chico... Não dá ouvidos pra elas!
Tina escutara a conversa das crianças. Juvenal já comentara sobre o autismo do filho, e de suas habilidades.
_ O Chico tem uma habilidade especial pra montar jogos, crianças... Essa habilidade não é pra qualquer um! Vocês têm outras habilidades... Mas vamos aproveitar todas essas habilidades agora, pra ir jantar. Depois, poderão jogar mais um pouquinho só, porque amanhã todos pularão cedinho do ninho, pro aniversário do Miguel!
Tina era uma mãe zelosa, mas sensata. O fato dela ter alguns problemas de saúde fez ela estudar muito sobre terapias alternativas para resolvê-los. E dentro das suas pesquisas, aprendeu que muitas limitações são normais... E as habilidades especiais também são... Por esse motivo compreendia perfeitamente Francisco.
_ Pro banheiro, lavar as mãos, crianças... Um minuto e a janta sai!
Francisco olhou-a acanhado, mas arriscou a pergunta:
_ Tia Tina... A janta vai onde? Por que ela vai sair daqui?
As meninas trocaram olhares com Miguel, mas ninguém se atreveu a rir da pergunta do amigo.
_ Não, Chico! A janta não vai embora... Ela não vai sair daqui... Isso quer dizer que já tá pronta. Tá sentindo o cheirinho? É batata acebolada...
_ A especialidade da mamãe... Gosta de batatas?
_ Eu não como batata... Não gosto... É ruim...
Miguel se meteu na conversa:
_Nem na maionese? Vi tu comendo maionese que tua mãe fez, naquele dia que estive lá...
_ Maionese sim... Mas, batata... Não gosto...
O assunto se estendeu até as crianças chegarem à mesa:
_ Mãe! O Chico disse que não gosta de batatas... E o Mig falou que ele se empanturrou de maionese de batata no outro dia!
Tina olhou para Francisco com ternura:
_ Pois isso é do gosto dele, e faz parte da limitação dele também. Esse menino é igualzinho a vocês... Vocês também fazem birra quando eu faço polenta. Não comem de jeito nenhum!
Francisco pareceu despertar ao ouvir a palavra "polenta"... Seus olhos negros brilharam:
_ Polenta? Eu gosto...
Tina abraçou o menino:
_Maravilha! Tenho um parceiro pra dividir a polenta que acompanha a batata acebolada que fiz! Graças ao bondoso Deus, temos comida pra todos os gostos!
A mesa do jantar estava repleta de delícias caseiras, que eram especialidades de Tina. Ao término da refeição, Claudio anunciou:
_ Agora, que todos estão bem alimentados, vamos seguir a tradição das noites de sábado! Vamos nos reunir ao redor do fogão à lenha, pra mais uma sessão de histórias... Quem será o primeiro a contar?
Francisco olhou curiosamente para Miguel:
_O que é essa "sessão de histórias"?
O amigo explicou, cochichando:
_ É tradição aqui na casa das manas! Todo sábado à noite, a família e os amigos se reúnem ao redor de uma fogueira, pra contar histórias...
Francisco encolheu-se.
_ Fogueira? Aaaai... Tenho medo de fogo...
A expressão de medo nos olhos de Francisco fez Miguel colocar a mão no ombro do amigo:
_ Não te preocupa, Chico! Quando é frio que nem hoje é aqui na cozinha mesmo, ao redor do fogão à lenha... A fogueira eles fazem lá fora, em noites de sábado de verão!
Francisco respirou fundo e suspirou de alívio. Claudio percebeu os cochichos dos dois meninos e não perdeu a oportunidade de fazer o convite:
_ E aí, Miguel! Um de vocês quer contar a primeira história?
Francisco, timidamente, fez menção de esconder-se atrás de Miguel, segredando em voz baixa ao amigo:
_ Eu só sei histórias de caminhão... E essas acho que ninguém vai querer ouvir...
Claudio, que tinha um ouvido apurado, percebeu a timidez do visitante, porém, ouviu o que ele falara e abraçou o menino.
_ Pois a gente vai gostar muito da história de caminhão que tu conhece, Chico! Quer fazer a honra de dividir tua história com a gente?
Diante do convite tão amável e espontâneo de Claudio, Francisco aceitou:
_ Mas... Ela é uma história pequena...
Miguel, ao notar o impasse de timidez no amigo, pôs a mão em seu ombro:
_ Pois eu garanto que vai ser uma das melhores histórias que eu já ouvi, Chico! Senta naquele banco e vai soltar o verbo!
Mais uma vez Francisco olhou interrogativamente para Miguel.
_"Soltar o verbo"??? Como é que se faz isso?
Miguel abraçou o amigo e o conduziu ao banco de madeira, pertinho do fogão à lenha.
_ "Soltar o verbo"é "falar"... Senta, que a história vem!
_ Tá... Essa história minha mãe me contou...
O silêncio imperou por alguns segundos... Francisco respirou fundo e começou:
_Era uma vez um homem sério, que tinha uma família, uma casa e um caminhão muito bonito e grandão. Um dia, o dono de uma vinícola foi procurar ele, pra que ele levasse um caminhão cheio de vinho pra capital...
Os olhares de todos os presentes estavam embasbacados, fixos naquele menino, que, sem notar, contava sua própria história...
_ Minha mãe conta que era uma noite escura, que tinha muita chuva e vento... O homem que tava levando o vinho pra capital teve que parar, numa estrada onde não morava ninguém, porque lá tinha uma árvore caída...
A essas alturas, a atenção entre os presentes à história de Francisco chegou ao extremo... Estavam todos com os olhos fixos no visitante, que seguia sua narrativa:
_ O motorista do caminhão bonito e grandão saiu pra tentar puxar a árvore caída, mas não conseguiu... Aí ele viu que tavam na estrada um homem e um menino...
Os olhos de todos os presentes já encontravam-se marejados, pois já conheciam a história...
_Minha mãe disse que o homem foi levar o menino dali e buscar um amigo que tinha uma motosserra, pra tirar a árvore...
Os olhos de todos os presentes não se desgrudavam daquele menino que contava a narrativa da história. Ninguém ousava interromper...
_ E... Quando ele ia entrar no caminhão dele pra levar o vinho pra capital, caiu em cima dele o galho de outra árvore...
Lenice, Lenir e Miguel já estavam às lágrimas, àquelas alturas da história de Francisco. Ele, para tentar amenizar o efeito da história, continuou:
_Mas minha mãe disse que o bondoso Deus fez os dois homens voltar lá e ajudar o homem do caminhão.
Francisco estava tão empolgado no relato da história que não notara a reação dos ouvintes... Finalizando...
_Papai do céu fez aqueles homens ser bonzinhos e salvar a vida do homem do caminhão... E... E... Fim!
Francisco, ao terminar a história, olhou para a expressão dos presentes... Claudio e Arnaldo estavam boquiabertos, admirados. Um bater pausado de palmas de Tina seguiu-se de uma salva de palmas de todos os presentes.
_ Vocês... Gostaram da minha história?
O menino parecia não acreditar que aquela história tinha mexido tanto com os presentes.
_ Gostamos... E muito! Meu guri! Foi uma das histórias mais bem contadas que já ouvimos! Parabéns!
Francisco parecia não acreditar na reação daquelas pessoas. Sentiu-se todo orgulhoso pelo elogio.
_ _Agora me diz, meu guri... Tua mãe disse mais alguma coisa sobre esse motorista de caminhão?
_ Não... Só disse que ele poderia ter morrido, ali, na estrada. Ela me falou que meu pai contou essa história pra ela...
Os adultos presentes na sessão de histórias entreolharam-se. Compreenderam que dona Terezinha poupou o filho da pior parte da história.
_ Agora, a próxima história! Quem???
As histórias que se seguiram foram mais simples: de pescador, criador de galinhas, entre outras... Faltando alguns minutos para às dez horas da noite, Claudio anunciou:
_ Atenção, meninos e meninas! Dez horas da noite é hora de estar nos ninhos... Já pro banheiro... Fila pra escovar os dentes e fazer xixi... Não quero ver nenhum colchão molhado amanhã de manhã!
O ar imperativo de Claudio fez as meninas erguerem as mãos e bater continência:
_ Pois não, capitão!
Os galos do sítio de Claudio despertaram assim que os primeiros raios de Sol atingiram o horizonte. Miguel saltou da cama e acordou o amigo.
_ Vamo lá, Chico! Vamo corrê pro banheiro, antes das manas... A gente toma um banho quentinho e já fica chique pra ir pro CTG!
Os dois meninos estavam prontos num zás-trás. Quando Lenice e Lenir saíram do quarto, já os encontraram arrumados.
_ Agora é nossa vez de usar o banheiro!
Miguel e Francisco adentraram na cozinha, onde imperava o cheiro de café passado e de uma deliciosa omelete colorida que fumegava no fogão à lenha.



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