Capítulo 4: Liberte a sereia aprisionada.

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Todos pareceram prender a respiração quando a viram ali. Meus dedos se firmaram ainda mais ao redor da maçaneta da porta, com a sensação ruim que me invadiu, como gelo rastejando pelos meus ossos até meu coração. Ver a morte daquela forma nunca era um bom sinal.

—Que carinhas são essas? —Ela soltou uma risadinha, soltando aquele corvo que saiu batendo as asas para longe. —Não estão felizes em me ver?

—É claro, minha rainha. —Jonas se colocou de pé, fazendo uma leve reverência enquanto pegava a mão estendida da morte e deixava o beijo demorado nela, antes de se afastar com um sorriso de falsa adoração. —A que devemos a honra dessa visita?

—Andei ouvindo boatos de que meus dois príncipes e minha princesa estão brigando entre si. —Ela segurou o queixo dele, erguendo a sobrancelha. —É sempre tão adorável ver o quanto vocês três se amam.

Jonas abriu um sorriso dolorido, como se a menção dos outros dois lideres fosse uma maldição. Não eram boatos que a morte ouvia. Era a mais pura verdade sobre como esses territórios viviam. Ela sabia disso, mas gostava de se divertir enquanto os observava se matar aos poucos.

—Estava pensando. —Ela deslizou para fora do parapeito da varanda, ficando de pé na frente de Jonas. —Em esquentar um pouco mais as coisas por aqui.

—O que minha rainha quer dizer? —Jonas pegou a mão dela, a guiando para se sentar no lugar que antes Jonas havia ocupado. A três fêmeas se afastaram na mesma hora, com a cabeça baixa quando a morte olhou para cada uma delas e abriu um sorriso radiante.

—Onde está a quarta? —Indagou, ignorando a pergunta de Jonas. Ele olhou para as três fêmeas com luxúria, como se elas fossem objetos em sua posse.

—Está ocupada no momento. —Jonas murmurou, fazendo a morte enrugar os lábios em algo como insatisfação. —Seus presentes sempre são muito bem aproveitados.

—É claro que sim. —Ela riu, enquanto dois corvos pousavam no parapeito atrás de Jonas, deixando-o visivelmente tenso. —Tenho uma proposta aos meus três territórios e todos aqueles que ainda possuem uma alma.

Soltei uma respiração pesada, ficando surpreso quando aqueles dois corvos se transformaram nos outros dois lideres. Eles jamais pisavam nos outros territórios pessoalmente. Mas a morte havia os trazido até ali. Colocado os três frente a frente. Não deveria significar algo bom. Aqui nada significava algo bom.

A governante da Floresta das Almas Partidas era Zuri Aldrich, uma feérica de pele negra e cabelos volumosos, além de olhos chamativos em um tom de verde. Lauren Stravos era o feérico governante do Vale das Estrelas Perdidas, o terceiro território da morte. Sua pele era tão branca quando a de Jonas, mas os cabelos eram tão negros quanto o da própria morte, e os olhos tão acinzentados que o deixavam com o ar mais mortal dos três.

Os três governantes trocaram olhares desagradáveis, que deixava claro que tentariam se matar se a morte não estivesse na frente deles, os observando com um sorriso descarado. Cada um deles queria mais poder do que tinham. Cada um queria mais mortes do que poderiam ter.

—Sorriam meus caros amigos. —A morte sibilou, com o sorriso dançando nos lábios e os olhos brilhando como um predador. —Eu proponho um desafio!

—Um desafio? —Zuri se inclinou para a morte, com os olhos verdes surpresos. —Quando foi me buscar, minha rainha, estava esperando tudo menos isso.

—Eu imagino o que estava esperando. —Jonas murmurou, fazendo a feérica lançar um olhar mortal a ele.

—Parem de brigar. É tão tedioso. —A morte estalou a língua, alisando o tecido negro do vestido que usava. —Tenho algo mais divertido pra vocês. A qualquer um que deseje deixar minhas terras.

Meu coração parou de bater, assim como o coração de todos aqueles ali presentes. A morte soltou uma risadinha ao ver o que causou, ficando de pé. Ela desviou dos três governantes petrificados, se dirigindo a todas as sacadas daquele fosso. Para qualquer um ali que quisesse ouvir.

—Eu darei alguns desafios e qualquer um com um coração corajoso o suficiente pode tentar. De sangue nobre ou não. Se passar por todos eles e conseguir sair inteiro, provando desejar e ser merecedor da vida, darei como prêmio a ida pra superfície. Ao mundo dos vivos. —A morte se inclinou sobre o parapeito, sorrindo como uma cobra para todos os olhos que a encaravam. —Porém, isso é um jogo solitário. Apenas um de vocês poderá ser livre. Não vão existir regras, então que o mais esperto vença.

Dei um passo para trás, ainda segurando a porta aperta, sentindo cada músculo do meu corpo latejar quando ela começou a se transformar em inúmeros corvos. A tensão dominou meu corpo, fazendo minha garganta secar e ficar difícil respirar.

Liberte a sereia aprisionada. —A morte sibilou, com os corvos que um dia foram ela voando em círculos no centro do fosso. —Que o desafio comece!

Os corvos voaram para o topo aberto do fosso, se dispersando por cada canto do inferno, onde sussurrariam sobre o desafio que a morte havia feio. Em breve todos saberiam sobre o prêmio que ela estava prometendo. Em breve todos estariam tentando vencer o primeiro desafio.

Fechei a porta e corri na direção das escadas. As palavras dela estavam queimando na minha cabeça como uma profecia, a cada passo que eu dava para dentro das cavernas dos escravos. Quando cheguei até lá, devolvi o balde e o pano imundo ao seu lugar, antes de ir para o meu canto na caverna.

Me escorei na parede, vendo meu peito subir e descer, enquanto as chicotadas nas minhas costas não pareciam doer mais, porque minha cabeça estava em outro lugar naquele momento. Na primeira oportunidade em décadas que eu tinha pra sair desse lugar.

—Liberte a sereia aprisionada. —Sussurrei o desafio, sentindo o peso daquelas palavras na minha língua. —Liberte a sereia aprisionada.

Esfreguei as mãos na calça, sentindo a tensão sumir do meu corpo quando soube que faria isso. Que lutaria até o final para passar por cada desafio e sair dali.


Continua...

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