Capítulo 26: Não vamos deixar você.

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Minha mente ficava indo e voltando, me dando vislumbre dos corredores por onde todos os sangue nobre corriam, dos grunhidos do dragão e dos gritos dos guardas de Jonas. A dor consumia cada parte do meu corpo, fazendo meus músculos ficarem paralisados. Eu não conseguia pensar. Não conseguia nem respirar direito, sentindo a escuridão me devorando antes de me trazer de volta, pesando minha cabeça.

Mas ainda podia ouvir a voz de Fedra no meu ouvido, implorando para que eu continuasse acordado. Para que eu abrisse meus olhos. Enquanto Sebastian repetia a mesma coisa a cada segundo, fazendo a frase afundar na minha cabeça e descer até meu coração, como um combustível pra eu tentar lutar contra a escuridão que queria me levar, mesmo que a dor pelo meu corpo me fizesse desejar desmaiar por completo.

—Não vamos deixar você. —Sebastian repetiu, com a voz não passando de um sussurro ao vento. —Não vamos deixar você... Não vamos deixar você.

—Fique com a gente, Fox. —Fedra apertou os braços ao redor de mim, enquanto meus olhos permaneciam fechados, absorvendo todos os sons caóticos ao redor, além do balançar constante do meu corpo à medida que os dois tentavam correr e me puxar junto. —Estamos quase lá. Fique com a gente, Fox...

Um suspiro escapou pelos meus lábios quando o corpo de Sebastian desapareceu, antes de eu desabar no chão com um grito abafado de Fedra quando ela tentou segurar meu corpo sozinho. Meus joelhos se chocaram contra o chão, latejando tanto quanto minhas costas rasgadas, que provavelmente estavam deixando um rastro de sangue pelo caminho.

Desculpa. —A voz de Sebastian estava distante e diferente. Permaneci no chão, com os braços de Fedra ao meu redor e o cheiro dela causando uma sensação de eletricidade pelo meu corpo. Uma faísca querendo acender algo muito maior e mais forte. —Eles não podem me ver. Sadie está vindo. Eu a vi...

Se esconda, rápido! —Fedra mandou, enquanto meu coração se contraia, batendo tão rápido que eu o ouvia na minha cabeça, batendo e batendo contra a minha mente. —Fox, aguente mais um pouco. Por favor, estamos quase lá.

Queria dizer pra ela parar de me chamar aqueles jeito, mas meus lábios pareciam ter sido colados um no outro. Tentei abrir meus olhos, tendo um vislumbre dos seus cabelos roxos, antes de sentir o calor da sua respiração contra minha bochecha. Um tremor passou pelo meu corpo na mesma hora, porque outras mãos envolveram minha cintura. A voz de Sadie era embaralhada na minha cabeça, antes do cheiro metálico do meu próprio sangue revirar meu estômago e eu finalmente apagar.

[...]

Eu acordei algumas vezes, ouvindo vozes abafadas, sentindo meu corpo sendo banhado, o toque macio de uma mão na minha testa. Nenhuma dessas vezes conseguir permanecer acordado, abrindo os olhos o suficiente para ter o vislumbre do teto de madeira, além do rosto de Fedra. Ela sempre estava presente quando eu acordava, com os lábios se movendo como se tentasse falar comigo. Eu nunca conseguia ouvir ou entendê-la, mas sentia sua presença nos meus ossos, o tempo todo.

Quando meus olhos finamente se abriram e permanecerem assim, sem a escuridão me levar de volta, reconheci as paredes de madeira do navio de Hunter. Um quatro simples, com uma cama desarrumada, onde eu estava deitado, um armário e uma cadeira solitária no canto, onde a fêmea de cabelos roxos estava sentada. A cabeça escorada na parede atrás dela, enquanto seus olhos estavam fechados. Não parecia estar dormindo, apesar da respiração suava. Parecia estar apenas perdida nos próprios pensamentos. Os cabelos bagunçados e sujos, além do vestido rasgado. As mãos permaneciam descansando no colo, com os dedos entrelaçados.

Fiquei olhando pra ela, sem mover um músculo sobre a cama. Tinha medo de fazer isso e ela despertar. Meu corpo não doía mais, apesar de eu sentir minha cabeça pesada e a boca muito seca. Minhas roupas limpas deixavam claro que eu tinha mesmo sido banhado por alguém. Isso me fez prender a respiração, sentindo uma onda de calor pelo corpo ao me lembrar do rápido momento que despertei quando estava dentro de uma banheira.

Não conhecia as mãos macias que limpavam meu corpo, mas o cheiro estava grudado no meu nariz, impregnando todos os meus pensamentos. O cheiro de Fedra, misturado com sais de banho e sangue. Pensar que alguém havia me visto nu, além dos outros escravos, me fez desejar voltar a ficar apagado de novo. As cicatrizes nas minhas costas e em alguns outros lugares escondidos pelas roupas, além das tatuagens. Não consigo imaginar o que passou pela sua cabeça enquanto via cada parte de mim.

Um barulho na porta me fez fechar os olhos, tentando suavizar minha respiração e meu coração acelerado, para que quem quer que fosse, pensassem que eu ainda estava apagado. O ranger da madeira do chão deixava claro que havia entrado no quarto, provavelmente se aproximando da cama para me ver. O perfume de Fedra foi abafado por um mais doce e enjoativo.

—Hunter está ficando ansioso. Fox ainda tem a parte dele do acordo para cumprir. —A voz de Sadie chegou até meus ouvidos, me deixando apreensivo quando a senti perto demais de mim. —É melhor que o seu escravo não demore muito para despertar.

—Fox não é mais um escravo! —A voz de Fedra era fria, como se gelo escorresse pelos seus lábios. —Ele quase morreu e acho que Hunter pode compreender muito bem isso. Saia daqui!

—Cuidado. Só porque não está mais embaixo da asa de Jonas, não significa que você passou a ter algum valor. —Sadie soltou uma risadinha que deixou meu sangue fervendo dentro das veias. —Você foi rebaixada, na verdade. De amante de um governante, à amante de um escravo.

—Não. Toque. Nele! —Fedra sibilou, com o rangido da cadeira deixando claro que ela havia ficado de pé, assim que senti a mão de Sadie deslizar pelo meu braço. A risada da vampira causou um arrepio na minha espinha e uma vontade absurda de fazê-la engolir todas as palavras que havia dito a Fedra. —Saia daqui!

Faça-o acordar, ou Jonas virá aqui pessoalmente. —Sadie murmurou, antes de eu ouvir seus passos se afastando e logo em seguida o bater na porta, que estremeceu todas as paredes.

Meu coração afundou no peito quando eu ouvi o suspiro pesado de Fedra, antes de abrir os olhos de novo e observá-la se sentar na cadeira mais uma vez. As mãos escondendo o rosto. Mas eu ainda podia ver a rigidez dos seus ombros, como se ela não soubesse o que fazer. Uma sereia presa à uma vida humana por tanto tempo, navegando em um navio que não está sobre a água e sim sobre o ar.



Continua...

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