Reyna nos levou até nossos aposentos. Dois quartos compartilhados, onde poderíamos ter um pouco de privacidade. Deixei que Fedra entrasse primeiro, jogando a bolsa que estava nas suas costas no chão, parecendo cansada e um pouco resignada. Me virei para fechar a porta, vendo que Reyna ainda estava ali, me lançando um olhar afiado, antes de abrir a boca para dizer alguma coisa.
Fechei a porta na sua cara antes que ela tivesse a chance, porque o que quer que ela tivesse para dizer, não me interessava de fato. Sebastian desligou para o chão, antes da sua versão humana surgir na minha frente. Me preparei para as milhares de perguntas, mas tudo que ele e Fedra fizeram foram me encarar, como se eu tivesse muito a dizer naquele momento.
—Eu e Sebastian dividimos um quarto. Você pode ficar com o outro. —Indiquei a porta do quarto adjacente, vendo a mandíbula de Fedra se apertar um pouco, como se não fosse aquilo que ela esperasse ouvir. —Não precisam se preocupar com nada aqui. Daren não vai nos entregar.
—O que fez pra ele? —Sebastian questionou, soando pela primeira vez hesitante, como se o fato de Daren ser um demônio fosse um grande problema. Pra mim aquilo era no máximo um ponto positivo. —O que Daren quis dizer naquela hora no corredor?
—Minha história com Daren não é da conta de nenhum de vocês dois. Só precisam confiar em mim quando digo que estamos seguros aqui! —Afirmei, um pouco frustrado com a forma desconfiada que eles me olhavam. —E vai ser por outro tempo. Só preciso de um mapa e uma forma de entrar na sala dos tesouros.
—Até quando você acha que as coisas vão funcionar desse jeito? —Fedra indagou, parecendo perder a paciência. —Você insiste em colocar uma barreira e empurrar eu e Sebastian para longe, como se ficar perto demais de nós dois fosse simplesmente insuportável. Quando eu acho que estamos indo a algum lugar aqui, você volta a ser como antes, mesmo quando tudo que temos feito nos últimos dias é confiar em você!
—Eu não fico cobrando explicações de vocês dois. —Apontei para Sebastian, que pareceu se encolher diante das minhas palavras duras. —Não faço a menor ideia do que você vai ganhar me ajudando, mas você insistiu e aqui está, pronto para ajudar se necessário. Mas por quê? O que está ganhando com tudo isso afinal? —Me virei para Fedra, que tinha as bochechas vermelhas. —E eu também não fiquei insistindo em saber o porquê da morte te dar de presente para Jonas. O que diabos aconteceu entre vocês duas. Então porque você está me cobrando pra saber sobre o que eu fiz ou deixei de fazer?
—Porque diferente de você, Harper, eu não estou preocupada em provar absolutamente nada. Tudo que você faz em relação a nós dois é como se quisesse provar alguma coisa a si mesmo. —Fedra apertou as mãos em punho, balançando a cabeça negativamente. —Você acha que não o conhecemos de verdade. Mas você mesmo se conhece?
—Sim, me conheço o suficiente para saber o que estou fazendo. Minha intenção é deixar o inferno, a sua é voltar pra casa e Sebastian? Bem, tanto faz. —Dei de ombros, porque o garoto também não falava absolutamente nada. —Vamos todos nos separar no final, então não há qualquer motivo para termos qualquer tipo de laço.
—Se é isso que você acha, Harper. —Fedra praticamente rosnou as palavras, parecendo tão irritada comigo naquele instante. —Você só está provando algo a si mesmo dizendo isso. Está apenas provando o que eu acabei de dizer.
Ela não me deixou responder, atravessando o quarto até aquela porta, antes de batê-la com força quando desapareceu no quarto adjacente. Soltei um suspiro pesado, me virando para Sebastian, que estava negando com a cabeça de forma considerável, enquanto olhava para a porta onde Fedra havia sumido.
—Não sei qual o seu problema e se você tem medo de criar laços de verdade. —Sebastian olhou pra mim, antes de pegar suas coisas e ir para o cômodo onde estava a banheira. —Mas eu gosto de você, Harper, e não tenho medo disso, mesmo você sendo um babaca as vezes. E posso dar certeza que com Fedra é a mesma coisa.
Fiquei rígido ao ouvir aquilo, vendo Sebastian desaparecer ali também. Um suspiro pesado escapou pelos meus lábios, enquanto eu encarava o quarto vazio, sentindo uma sensação desagradável esmagar meu coração naquele momento. Virei as coisas na mesma hora e deixei o cômodo, sabendo que precisava conversar com Daren de uma vez para sair dali o mais rápido possível.
Segui pelo corredor até as escadas, retornando para a sala de entrada. Não me surpreendi ao encontra-lo ali, como se ele soubesse que eu não iria demorar para retornar. Daren estava sentado confortavelmente em um sofá, degustando o que parecia ser uma taça de sangue, de um tom incrivelmente vermelho.
—Você fez um ótimo trabalho ao fugir de Jonas e imagino que deva ter feito o mesmo com Hunter. —Daren murmurou, girando a cabeça para me encarar quando em sentei em um dos seus sofás, bem longe dele. —Isso coloca a sua cabeça a prêmio, sabia?
—Você não precisa de qualquer ouro, sendo um príncipe do inferno. —Sibilei, comprimindo os lábios quando uma taça com um líquido transparente surgiu na mesa de centro, aonde eu estava, enquanto Daren soltava uma risada.
—Tem total razão. A única coisa que posso fazer é me divertir enquanto eles o caçam. —Daren deu um gole no seu sangue, erguendo o rosto para olhar pra mim. —O que você pretende afinal, Harper?
—Por que está me perguntando, se você já sabe? —Olhei pra ele, sem fazer menção de pegar a taça que ele havia trazido pra mim. —Você pode ver o que Fedra é. Sabe a importância que ela tem. Vou ganhar todos os desafios da sua mãe e sair daqui, Daren.
—Um escravo com pensamentos altos. —Daren assobiou, como se isso fosse uma piada. Quase rosnei pra ele, mas me contive o suficiente ao respondê-lo.
—Não sou mais um escravo. Hunter comprou minha liberdade antes de eu fugir. —Afirmei, apertando meus dedos no couro do sofá. —Ele, diferente de você, não se recusou a fazer isso.
—Não seja tão rancoroso, você sabe porque eu não comprei sua liberdade quando me pediu, algumas décadas atrás. —Daren se inclinou sobre o sofá, para mais perto de mim. —Você não me serviria para nada, Harper. Era apenas um escravo com sonhos impossíveis. Se eu te comprasse naquela época, você teria sido morto ao tentar sair do inferno. Pelo menos agora você tem uma chance real de fazer isso. E também, sabe que tudo por aqui é na base do que se pode ganhar em troca. Você já tinha me dado tudo que tinha. Não havia mais nada para me oferecer.
Fiquei em silêncio, umedecendo os lábios com a língua, antes de finalmente me inclinar e pegar a taça sobre a mesa, levando-a até a boca. O líquido desceu queimando pela minha garganta quando o bebi de uma vez só, sobre o olhar fixo é curioso do demônio.
—Sabe, eu imaginei que você iria vir em algum momento, porque você sabe que não existe ninguém que o ajudaria de alguma forma por aqui, além de mim. —Daren prosseguiu, enquanto minha taça ficava subitamente cheia novamente. —Mas por que veio? Do que você está precisando? Já tem a sereia. Então o que está faltando para você vencer o primeiro desafio da minha mãe?
—A sua mãe aprisionou Fedra na forma humana. Preciso liberta-la dessa magia para vencer o primeiro desafio. —Afirmei, bebendo aquela segunda taça, antes de negar uma terceira quando Daren a encheu novamente. —A magia que a aprisiona na forma humana está na sala dos tesouros perdidos. Preciso de um mapa que me mostre onde esse lugar está e como entrar lá.
—Posso te auxiliar quanto a isso. —Foi a resposta de Daren, enquanto deixava sua taça de sangue agora vazia sobre a mesa. —Mas e eles? O que vai acontecer com a sereia e o garoto quando você conseguir ganhar todos os desafios?
—Fedra deseja voltar pra casa e é aonde eu pretendo deixá-la. Não sei quanto a Sebastian, mas saberei o que fazer até lá. —Afirmei, sem hesitar, vendo a sombra de algo divertido e sarcástico passar nos olhos de Daren naquele momento.
—Acredita mesmo nisso, Harper? —A voz de Daren era repleta de satisfação, como se ele gostasse de me ver naquela posição. —Só quero lembra-lo que apenas uma alma será libertada no final desses desafios. Apenas uma. Pense bem no que está fazendo, porque tenho a sensação de que você já está completamente perdido.
Continua...
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Bosque dos Sonhos Mortos
FantasyMergulhe no Mundo das Almas Fox Harper é apenas um dos tantos escravos humanos que vivem nos territórios de Adya, a deusa da morte. Tendo o corpo coberto de cicatrizes, vivendo entre raças poderosas e mortais, ele sabe muito bem que o inferno não é...