Capítulo 50: Hunter está aqui.

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Eu e Fedra voltamos para a mesa depois daquela dança. Meu corpo formigava de uma forma estranha, porque eu sabia que estava entrando cada vez mais em um território perigoso. Sabia que o que estava acontecendo ali traria consequências. Eu não podia fazer mais nada além de me preparar para elas.

—Pensei que iria até a Margery. —Daren murmurou quando outra música começou a tocar. Senti os olhos de Fedra sobre mim, como se ela quisesse saber de quem Daren está falando. —Ela certamente está esperando por você.

—Ainda não está na hora. —Foi a minha resposta, com um leve dar de ombros. —Logo não haverá espaço no meu corpo para ela fazer qualquer tatuagem.

—Ei, a pessoa com quem você faz tatuagens é daqui? —Sebastian indagou, cutucando minhas costelas com a ponta do dedo, de uma forma um pouco irritante. —Posso fazer uma também? Sempre quis ter tatuagens. Deixa as pessoas estilosas. Posso fazer? Você não respondeu.

—Não. —Falei, vendo-o comprimir os lábios e olhar para Fedra, como se esperasse que ela me rebatesse. Mas ela não fez isso, se limitando a continuar olhando pra mim. —Você ainda é pequeno demais pra isso. Pode acabar se arrependendo.

—Não sou pequeno e não vou me arrepender. Me deixe fazer uma. Só uma. —Sebastian segurou meu braço, me lançando um olhar suplicante que me fez bufar, porque Daren parecia estar se divertindo muito ao nos observar. —Só uma tatuagem, por favor. Por favor!

—Uma tatuagem. —Afirmei, vendo-o soltar uma risada animada e comemorar com a mão. Empurrei a cadeira e fiquei de pé, acenando para que ele viesse atrás de mim. —Fedra?

—Vou esperar por vocês nos nossos aposentos. —Fedra ficou de pé ao mesmo tempo que Daren, sinalizando que aquele nossos jantar tinha chegado ao fim. —Vou arrumar as coisas para nossa partida.

—Não vamos demorar. —Olhei para Daren, vendo-o me lançar um sorriso sarcástico, como se minha vida fosse sua peça de teatro favorita. —Passarei para pegar o mapa com você assim que Sebastian terminar.

[...]

Margery era uma excelente tatuadora, porque era silenciosa, não fazia perguntas e seus desejos eram perfeitos. Fiz todas as minhas tatuagens com ela, porque ela costumava aparecer no território de Jonas junto com Daren. Mas agora eu estava no seu próprio espaço pela primeira vez. As paredes eram feitas com caveiras e ossos. As mesas continham pilhas de desenhos feitos pela fêmea. Enquanto as estantes de vidro continham coleções de tintas de variadas cores.

—Isso dói. —Escutei Sebastian resmungar, me virando para vê-lo sentado em uma poltrona, com o braço estendido para a peregrina.

Ela não o tocava, assim como também não segurava a pena que fazia o desenho na pele de Sebastian. Seus olhos estavam fixos nos movimentos que ela fazia, usando a magia que corria dentro de si para criar criar o desenho sem precisar usar as mãos. Diferente da maioria das fêmeas de peregrinos que eu já tinha conhecido. Margery não tinha longos cabelos negros. Ela havia os raspado por completo, deixando os chifres na cabeça bem a mostra.

Todas as partes livres para os olhos da sua pele clara, estava coberta de tatuagens coloridas e vivas, que contrastavam com as asas negras, que se encontravam fechadas atrás dos seus ombros. Ela sorriu para Sebastian ao ouvi-lo resmungar aquilo, antes de me lançar um olhar afiado, como se estivesse se perguntando porque levei uma criança que resmungava muito até ela.

—Já estou terminando. —Foi a resposta dela, antes de acentuar os movimentos da pena, arrancando um gemido de Sebastian, que fez uma carena e olhou pra mim. Tinha certeza que ele tinha se arrependido de querer uma tatuagem, o que era bom, porque assim ele não iria querer fazer outra. —Pronto.

Margery se inclinou e pegou a pena, que desapareceu das suas mãos. Ela usou um pano úmido para limpar a tinta em excesso da tatuagem, antes de piscar para Sebastian e se afastar. Ele ainda estava com uma careta quando se levantou, caminhando na minha direção enquanto segurava seu braço com a palma virada pra cima.

—Por que um cervo? —Indaguei, vendo a tatuagem em tom preto que ele havia feito, em formato de cervo, na parte de baixo do seu braço, perto do pulso. Sebastian a encarou por um segundo, antes de dar de ombros e suspirar. —Tudo bem, vamos.

Toquei o ombro dele e o guiei para a porta, puxando uma moeda do bolso e a lançando para Margery, que sorriu pra mim ao recebe-la. Sebastian foi o caminho todo em silêncio, parecendo incomodado com a dor. Parei com ele na frente da porta do escritório de Daren, puxando uma poção de cura do bolso.

—Vá para o quarto ficar com Fedra. Preciso conversar com Daren uma última vez antes de irmos. —Depositei o frasco na mão dele. —Peça para Fedra passa-lo em você. Vai aliviar a dor e fazer a tatuagem cicatrizar mais rápido.

Ele assentiu, se afastando cabisbaixo. Balancei a cabeça negativamente, sabendo que provavelmente não deveria tê-lo deixado fazer uma tatuagem, mas é difícil convencer ele do contrário quando ele enfia algo na cabeça. Eu sabia que ele não me deixaria em paz até eu dizer sim.

Não precisei bater na porta do escritório de Daren, porque ela se abriu por conta própria. O macho estava sentado atrás da longa mesa de madeira, observando o mapa do inferno aberto sobre ela. Me aproximei, ignorando o som abafado que a porta fez quando se fechou atrás de mim.

—Seu mapa, Harper. —Ele o empurrou pra mim, abrindo um sorrisinho afiado. —Basta tocar nele, que ele mostrará o caminho certo do que você procura.

—Obrigado por ter me ajudado até aqui. —Falei, pegando o mapa e o enrolando, antes de o enfiar dentro da minha jaqueta. Daren assentiu, como se ouvir um "obrigado" não fosse muito comum pra ele.

—Me procure se precisar de mais alguma coisa. —Daren afirmou, enquanto eu comprimia meus lábios e encarava a mesa na frente dele. —O avisarei quando tiver noticiais sobre Yaz. Mas não sei o que pretende fazer se eu o encontrar. Ele ainda estará no mundo dos vivos e Sebastian...

Daren parou subitamente de falar, ficando rígido. Os pelos do meu corpo se arrepiaram quando percebi que ele se concentrava em alguma coisa muito longe dali. A tensão exalando dele, enquanto meu coração disparava dentro do peito. Alguma coisa estava errada. Alguma coisa estava muito errada.

—Hunter está aqui. —Daren ergueu os olhos para me encarar, a expressão rígida se transformando em algo sombrio e frio. —Alguém os entregou, mesmo sobre minhas ordens. Vá, agora! Vou tentar conter o caos para você. Mas precisa ir agora!

Não esperei por outra palavra dele. Disparei para fora do escritório, escutando o som de bancadas e gritos que deveriam estar vindo da entrada da mansão de Daren. Atravessei o corredor em segundos, sentindo o sangue latejar na minha cabeça, sabendo que precisava ser rápido.

Mas Fedra não estava em lugar nenhum dos nossos aposentos, assim como Sebastian. Os móveis estavam revirados e os espelhos quebrados, como se alguém tivesse brigado ali dentro. Como se Fedra tivesse lutado antes de ser arrastada para fora. O risco de sangue pelo chão seguia pelo corredor, na direção oposta ao som do caos.

Engoli o nó da minha garganta, puxando duas daquelas facas presas a minha cintura, sabendo perfeitamente quem havia nos entregado. Disparei pelo corredor, seguindo aqueles rastros de sangue pelo caminho, sentindo a fúria tomar conta de cada parte do meu corpo, queimando de uma forma tão grande que eu sabia que os mataria quando os encontrasse.


Continua...

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