Capítulo 6: O Colecionador.

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Fui levado para fora daquelas cavernas, até uma torre que dava para uma enorme  extensão de pedra no alto do castelo. Com uma visão completa de todos os territórios. Ao longo do vasto Bosque dos Sonhos Mortos, com árvores que mais pareciam cogumelos gigantes luminescentes, de formatos estranhos e assustadores. Toda a área que ia de uma ponta a outra das águas centrais era liderado por Jonas Norton.

Logo após o rio que cortava os territórios, surgia uma florestas tão viva quanto essa, apesar das árvores parecem mais esqueletos do que qualquer outra coisa, escondendo um lago de águas tão vermelhas quanto sangue. Sem folhas. Sem animais. Pelo menos não animais que você ficaria feliz em ver. Mas sim aqueles que podem te devorar com uma única mordida. A Floresta das Almas Partidas era governada por Zuri Aldrich.

O Vale das Estrelas Perdidas ficava ao sul, com montanhas que impediam de ver a floresta escondida entre os picos cobertos por sombras. Dizem que o próprio castelo fica dentro das montanhas que formam o vale e é quase impossível entrar lá sem ser morto pelos homens de Lauren Stravos.

Eu podia ver também as torres da Fortaleza dos Corvos, a morada da deusa da morte. Dizem que falar seu real nome aqui no inferno pode acabar chamando-a. Não tenho certeza, porque nunca ousei sequer pensar no seu nome real. A fortaleza da morte ficava sobre uma faixa de terra sobre o lago central, onde eu também podia ver a sombra das ruínas do submundo. O lar de todos os seres aquáticos desse maldito lugar.

O imenso navio do Colecionador estava atracado ali, suspenso no ar com magia. Parei de olhar para todas aquelas terras e caminhei até a rampa que havia sido colocada até o chão de pedra, vendo a vampira que trabalhava como não direita dele aparecer.

—Como vai, Harper? —A vampira puxou o ar com força quando me aproximei, jogando os longos cabelos loiros para trás ao soltar uma risadinha. —Me surpreende o quanto você cheira bem. Os outros escravos fedem como carne podre.

—Tenho certeza que eles não se importam muito em parecer cheirosos, pra você não ficar tão tentada. —Comentei, vendo os olhos azuis de Sadie se iluminarem com malícia, enquanto seu rosto bonito e mortal se abria em uma expressão de predador.

—Suba, Harper, Hunter já está aguardando por você. —Afirmou, gesticulando para a rampa. Passei por ela e subi para o navio, sentindo Sadie me observando por trás, o que me deixou em alerta. Vampiros eram sempre um risco a mais para se preocupar.

O convés do navio estava repleto de criaturas, andando de um lado para o outro, carregando e descarregando caixas. Hunter, o Colecionador, estava sentado em uma mesa bebendo, enquanto seus homens passavam ao redor. Ele ergueu os olhos escuros quando me aproximei, com a boca se repuxando em um sorriso quando me viu. Ele parecia jovem, assim como todo maldito ser daquele lugar.

—Olá, Harper. —Ele indicou a cadeira do outro lado para que eu me sentasse. —Quer beber alguma coisa? —Neguei com a cabeça, observando Sadie se colocar ao lado de Hunter. Beber também era uma péssima ideia, porque você nunca sabe o que colocam na sua garrafa. —Espero que tenha coisas boas pra mim hoje. Os outros escravos foram apenas uma decepção atrás da outra.

Puxei as coisas que havia roubado na última ida no castelo e as coloquei sobre a mesa, empurrando na direção de Hunter. O mago soltou uma risadinha, passando a mão pelos cabelos loiros, enquanto negava com a cabeça de leve. Ele analisou cada coisa que havia ali. Objetos de decoração, pulseiras, facas. Qualquer coisa com ouro ou ossos servia.

—Sempre roubando dos sangue nobre. —Ele estalou a língua, estendendo a mão para Sadie. Ela deixou o saco de moedas cair sobre a mão dele, enquanto eu sentia meu interior se revirando com a possibilidade de ele me pagar mais do que da última vez. —Te dou 10 moedas de ouro.

—20 moedas. —Rebati, vendo ele cerrar os olhos e rir.

—15 moedas, ou pode pegar tudo isso e voltar para aquela caverna imunda onde você dorme. —Sibilou, me fazendo cerrar os punhos embaixo da mesa. Concordei com um mínimo movimento de cabeça, vendo a expressão sarcástica no rosto de Hunter. —Sempre é bom fazer negócios com você, Harper. Me diga, você está me vendendo coisas a décadas. Já deve ter um bom número de moedas de ouro guardadas, caso outro escravo não tenha o roubado. O que pretende, hein?

—Comprar minha liberdade. —Afirmei, porque sabia que precisava de muito mais do que eu tinha para consegui-la. —Você ouviu falar sobre o desafio da morte?

Os olhos de Hunter se fixaram nas moedas quando ele começou a tirá-las do saquinho e contar meu pagamento. Mas vi a sombra de um sorriso se abrir nos lábios dele.

—Está interessado em tentar? —Sadie indagou ao lado dele, me fazendo erguer os olhos para sua expressão maliciosa. —Se deseja tanto morrer, ficarei grata em fazer isso por você.

—Não vou morrer. —Falei, sem sequer hesitar. —Vou vencer e sair daqui.

—Gosto do seu senso de coragem. —Hunter murmurou, soltando uma risada. —Apesar de alguns aqui considerarem isso burrice.

Ele empurrou as 15 moedas de ouro pra mim, fazendo meu coração disparar quando peguei o punhado e escondi na minha calça. Hunter se inclinou sobre a mesa, virando a garrafa de bebida na boca, sem desviar os olhos de mim. Por fim ele a soltou quando estava vazia, umedecendo os lábios com a língua.

—Todos os territórios estão polvorosos com esse desafio. Muitos estão desesperados pra sair daqui e prontos pra agarrar essa oportunidade. Zuri, Lauren e Jonas estão escolhendo seus melhores homens como seus campeões. Não querem deixar as terras inimigas vencerem. —Ele riu, balançando a cabeça negativamente, enquanto brincava com uma moeda entre seus dedos. —Mas até agora ninguém conseguiu nada. Existem boatos que a morte escolheu proferir o desafio aqui, porque é aqui que a sereia está.

—Onde? —Indaguei, vendo ele erguer as sobrancelhas com o sorriso se tornando sombrio.

—Já esteve na prisão vertical? Aquela torre enorme onde todos os prisioneiros de elite ficam? —Balancei a cabeça que sim, sem tirar os olhos da moeda nas mãos dele. —Há uma caverna no final daquelas escadas. Dizem que a sereia está aprisionada lá. Mas todos que tentaram entrar lá, não conseguiram sair. Então ou é mentira, ou apenas uma armadilha.

Pensei sobre aquilo, lembrando do último dia que estive naquela prisão, limpando aquela cela imunda onde encontrei a pena do corvo. Sabia que haviam celas intermináveis até o solo, só não sabia o que cada uma delas guardava dentro de si.

—Os líderes estão teorizando que serão três desafios. Um para cada território principal. —Hunter prosseguiu, enquanto eu guardava cada uma daquelas informações. —Mas eu acho que não.

—Por quê? —Indaguei, vendo ele olhar pra mim e erguer as sobrancelhas, parecendo decidir se deveria me contar ou não.

—Acho que serão cinco. —Ele deu de ombros. —É só uma aposta, posso muito bem estar errado. Como posso muito bem estar certo também.

Suspirei, batucando os pés no chão. Tinha certeza que a morte não facilitaria nem um pouco. Tudo que ela pudesse fazer para nós matar e se divertir a nossas custas, ela faria sem pensar duas vezes.

—Se eu fosse você, Harper, descobriria o que existe embaixo daquela prisão, sem morrer no processo. —Ele jogou a moeda pra cima e ela girou no ar, antes de cair sobre a mesa e ele a empurrar pra mim. —Isso pode colocá-lo na frente de todos os outros competidores. —Deu de ombros. —Mais uma moeda, para dar sorte.

—Você acha que eu vou morrer, por isso me deu todas essas informações. —Peguei a moeda sem pensar duas vezes, guardando-a antes que ele mudasse de ideia. Hunter soltou uma risada alta, pegando outra garrafa de bebida quando um de seus homens passou ali. —Tenho uma última pergunta. O que sabe sobre as penas dos corvos?

Os olhos dele chegaram a brilhar quando ouviu minha pergunta, com um sorriso muito, muito grande se abrindo nos lábios.

—Isso, meu amigo, pode comprar sua liberdade, ou qualquer coisa que desejar.



Continua...

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