Capítulo 13: Quero fazer um desafio.

456 123 37
                                    

Eu tenho um plano. Não é o mais genial do mundo e provavelmente irei morrer. Mas talvez se eu tiver sorte, consiga minha liberdade e até mesmo a sereia. Sebastian acha uma ideia completamente idiota, só que também não importa, porque não é ele quem ira arriscar a vida no final das contas.

Tenho poucas horas na manhã seguinte para agir, antes que as duas lutas aconteçam. Faço Sebastian se esgueirar lá pra cima e invadir a sala de um dos curandeiros pessoal de Jonas, roubando uma poção que eu sabia que seria essencial para que eu vencesse. Depois o mando para o castelo, para encontrar os dois campeões e dar um jeito de dar uma gota da poção a cada um deles.

—Pronto. —Sebastian se transformou em um garoto depois que retornou lá de cima, me jogando o frasco de poção com o que havia restado dela. Tinha um bom punhado para mais algumas tentativas, apesar de eu esperar conseguir de primeira. —O que diabos isso faz? Não vai mata-los, vai?

—Se você colocou só uma gota, como eu disse, não. —Sibilei, gesticulando para que ele se transformasse de novo. Ele o fez, rastejando até se esconder embaixo da minha camisa de novo. Pelo menos uma serpente rastejando pelo meu corpo não era mais minha maior preocupação. —Vamos para a segunda parte.

Havia pedido para Nilus para levar a comida das criaturas presas embaixo do fosso. Não era um serviço que os escravos gostavam e também não queria mandar Sebastian sozinho lá para baixo. Tinha certeza que ele preferia enfrentar os sangue nobre do que aquelas bestas. Mas ele iria comigo, porque se tudo desse certo, ele teria que fazer aquilo de novo, só que sozinho, porque eu iria estar ocupado demais lutando pela minha vida.

Desci para as cavernas abaixo do fosso, pegando os baldes cheios de carne podre com os guardas que ficavam a entrada do portão, antes de descer pra lá sobre o olhar malicioso deles, que esperavam que eu fosse pego e despedaçado por uma das criaturas. Não estava com medo. Estava determinado a fazer tudo da melhor maneira possível para vencer.

O portão se fechou atrás de mim, me deixando sozinho ali com uma serpente no corpo e um bando de criaturas presas em jaulas, loucas para me matarem. Engoli o desconforto e fui em frente, escutando o rangido dos baldes a medida que eu seguia pelo corredor até as escadas, já ouvindo os uivos, rosnados e grunhidos grotescos do que havia preso lá.

—O que há aqui? —Sebastian sussurrou, observando a caverna que se abria a nossa frente. —Que tipo de criaturas?

—Devoradores, metamorfos, lobos negros, dragões, rastejadores...

Enruguei os lábios quando parei em frente a cela de um lusion, uma criatura monstruosa que flutuava pelas sombras e tinha o poder de se transformar em alguém importante para a pessoa que o olhava. Mas estávamos no inferno e não havia ninguém importante pra mim, então eu via quem ele era de verdade. Uma criatura cheia de dentes e olhos brancos bestiais. Estava virado pra mim, me encarando com sede nos olhos.

Dei comida a todos eles, evitando chegar muito perto da jaula do dragão, porque não tinha muita certeza do que saia pela boca dele. Haviam quatro tipos de dragões diferentes e cada um deles conseguia ser pior que o outro. Quando terminei, peguei água e dei para todos também, me ocupando em colocar uma gota de poção na água. Não tinha certeza qual deles seria levado para o fosso, então precisava cuidar para que todos bebessem a poção.

—E agora? —Sebastian indagou, quando caminhei para fora daquele lugar, sentindo os olhos de todas as criaturas em mim.

—Agora a gente espera, até o momento certo para eu agir. —Afirmei, me surpreendendo com o sorriso que se abriu nos meus lábios.

[...]

A primeira luta ocorre logo depois que retorno, torcendo para que de tempo da poção agir. Não vou assistir, mas fico perto para conseguir ouvir os gritos dentro do fosso e o que está acontecendo lá. Khan, o campeão de Hunter não conseguiu ganhar, mas o rastejador mantando para lutar com ele também não o estraçalhou como todos esperavam. Ambos pareciam mais lentos e perdidos, o que fez Jonas decretar um infeliz empate.

Enquanto a segunda luta acontece, com o sereiano Lacey lutando contra o lusion, não tenho muita certeza se meu plano irá dar certo como na outra luta, porque lusions são inteligentes, dotados com o dom da sabedoria, apesar de ninguém ter coragem de ir até eles fazer perguntas, porque todos que tentaram foram mortos.

—O que você quer? —O ogro rosnou ao me ver subir o restante das escadas.

Podia ver o macho pálido e de longos cabelos brancos tentando matar o lusion, pelas grades do portão fechado. Aquilo me fez hesitar por alguns segundos, porque sabia o que me esperava se fosse em frente. Podia sentir a própria hesitação de Sebastian ao se enrolar com mais força na linha das minhas costelas.

—Eu perguntei o que você quer? —O ogro me empurrou, me fazendo girar a cabeça para encara-lo, com o gosto da morte invadindo minha boca.

—Quero fazer um desafio. —Afirmei, escutando o som de batidas anunciando o fim da batalha, enquanto o ogro me encarava com escárnio.

—Um desafio? —Ele gargalhou, junto com os outros guardas que estavam ali. Mas me mantive firme, erguendo o queixo para desafia-lo, enquanto o portão era erguido e Lacey era arrastado para fora, sem vencer e também sem perder, porque o lusion o havia deixado inteiro, com apenas alguns arranhões pelo corpo. —Vamos ver o que Jonas acha disso, escravo.

Eu fui empurrado para dentro do fosso sujo de sangue, enquanto o lusion ainda era puxado por correntes pelo portão oposto. As varandas estavam cheias, com todos aqueles seres gritando. Meu sangue gelou quando cada par de olhos se voltou pra mim, com nojo, confusão, surpresa e um desejo louco de sangue.

—O que temos aqui? —Jonas se inclinou sobre o parapeito, os olhos brilhando em diversão ao me encarar, enquanto meu coraçao martelava no peito e o sangue latejava na minha cabeça, como se fosse explodir. Sebastian ficou rígido contra mim, enquanto meu próprio corpo entrava em alerta.

—Ele deseja fazer um desafio. —O ogro exclamou atrás de mim, fazendo uma onda de risadas varrer todo o fosso, com todos me olhando como se eu fosse um pedaço de carne, pronto para ir para suas mesas.

—Um desafio? —A voz de Jonas saiu repleta de sarcasmo. Mas olhar para a expressão séria de Fedra ao seu lado me deu coragem o suficiente para erguer a cabeça e o encarar com todo nojo que existia dento de mim.

—Sim, um desafio. —Afirmei, alto o suficiente para todos ouvirem. —Quero lutar nesse fosso, como um guerreiro.

—Quer tentar encontrar a sereia na prisão como os outros? —Jonas riu ao dizer aquilo, fazendo a sombra de um sorriso surgir nos meus lábios quando ergui a mão e apontei para a fêmea ao lado dele.

—Não, se eu ganhar, quero ela.


Continua...

Bosque dos Sonhos Mortos Onde histórias criam vida. Descubra agora