Bosque dos Sonhos Mortos

Capítulo 79: Sonhos se tornam pesadelos.

Encontrei Daren sentado no sofá do seu escritório, observando a parede como se ela fosse muito interessante. Estava segurando um cálice, onde deu um longo gole quando eu entrei e fechei a porta. Outro cálice surgiu sobre a mesa, que ele gesticulou para mostrar que era pra mim. A peguei e observei o líquido quase incolor.

—Como isso funciona? —Indaguei, sabendo que Daren iria entender do que eu estava falando. Ele se ajeitou no sofá, enquanto eu me sentava na outra ponta, fazendo uma careta quando dei um gole e senti o gosto amargo descer pela minha garganta.

—A criatura que habita nossa pele é astuta. Você pode estar no controle, mas ela vai tenta-lo para rouba-lo de você. Não é uma coisa ruim. Incontrolável, se você não souber equilibrar o poder. —Daren olhou pra mim, respirando fundo como se pensasse no que me dizer. —Nos alimentamos de tudo. Esperança, sonhos, desejos, almas. Quando você prova pela primeira vez, sente o poder dentro de você aumentando de forma intensa. É como um vampiro quando bebe o sangue de uma espécie diferente pela primeira vez.

—Você também bebe sangue. —Afirmei, engolindo em seco quando Daren riu, negando com a cabeça.

—Existe duas coisas que dão mais poder a nós, Harper. Faz aquela criatura dentro de nós ficar com sede. Nós deixa mais poderosos. Bebemos sangue como os vampiros, sim, mas não chega a ser uma necessidade como eles tem. Nos alimentamos de outras coisas. —Murmurou, enquanto eu deixava a taça de lado, me sentindo enjoado com aquele assunto. —Mas nada é mais forte do que sangue dado de boa vontade. Podemos beber o sangue de alguém que isso não ira acontecer nada com ela, além de deixa-la fraca e nos fortalecer. Mas se dor dado de bom grado, você entende, porque já fez isso comigo.

—Um pedaço da alma é dado junto e é feito uma ligação. Você pode me controlar, se quiser, já que já dei meu sangue duas vezes pra você.

—Podia controla-lo. Agora nossa ligação não serve de nada. Um demônio não pode controlar outro. —Daren afirmou, me fazendo erguer as sobrancelhas. —A segunda coisa, é roubar e devorar a alma de alguém. Podemos fazer isso agora, mas precisamos de um acesso muito grande a nossa magia. Mas na nossa forma natural? Podemos apenas desejar aquela alma que ela virá até nós. Mais de uma, dependendo da sua fome. A sensação de devorar a alma de alguém é indescritível.

—Por que a morte não faz isso? Não devora almas?

—Ela é a morte encarnada, Harper. Ela já é poderosa por si só. Todas as almas pertencem a ela assim que morrem. Ela não precisa beber sangue ou roubar uma alma como nós pra se sentir poderosa. —Daren afirmou, me fazendo engolir em seco e assentir, porque estava começando a entender aquilo. —Vai precisar aprender a se controlar, porque a criatura sempre vai desejar mais e mais. É como um vício.

—E a sua mãe? O que acontece agora?

—Ah, ela já sabe que você voltou, é claro. Deve estar pensando em uma forma de me punir por isso. —Daren deu de ombros, como se não estivesse preocupado de fato com isso. —Não me importa. O que você pretende fazer? É um demônio agora. Ninguém pode mata-lo. Podem tentar, mas jamais conseguiriam.

—Não conseguiram antes. —Falei, fazendo Daren rir, enquanto eu encarava o chão, me perguntando até onde aquele poder poderia me levar. —Preciso aprender a controlar esses poderes. Nem sei direito quais são e até onde posso ir. —Lancei a Daren um olhar frio, vendo o sorriso que se abriu nos lábios dele, como se soubesse que eu estava prestes a fazer algo impensado. —Sua mãe não pode me matar, não é?

—Não, ela não pode. —Daren se inclinou, sorrindo como um predador. —Vai perceber que irrita-la é meu melhor passatempo aqui. Pode fazer o mesmo.

—Acho que sei por onde começar.

[...]

Sai da morada de Daren para aquela floresta de cogumelos ao redor. Estar ali me fazia lembrar de Fedra e de Sebastian, das horas de caminhada cansativa e dos acampamentos improvisados. A sensação era quente contra meu sangue, porque pensar que eles estavam longe desse lugar era bom demais. Jonas jamais colocaria as mãos em Fedra de novo, assim como a morte. E Sebastian estava com o irmão de novo.

Deixei aquele poder recém ganhado escorrer pelo meu sangue e pela minha pele, me deixando inquieto. Daren deixou claro que não era difícil e eu só precisava controla-lo. Puxei aquele poder de dentro de mim, deixando que ele explodisse ao meu redor. Fechei meus olhos quando senti meu corpo se desfazendo, se transformando em milhares de corvos.

A magia queimou em cada parte do que eu era feito naquele momento, enquanto eu me sentia presente em cada um daqueles corvos à medida que eles subiam para o céu escuro, se misturando com as sombras, antes de voar na direção do Bosque dos Sonhos Mortos. A sensação foi muito mais libertadora do que eu esperava. A sensação de poder me deixava sem fôlego. Eu sempre precisei ser mais inteligente que os outros, mas agora podia simplesmente ser mais forte.

Os corvos atravessaram o céu até o castelo, que parecia estar no meio de um espetáculo no fosso. Jonas poderia ter morrido, mas nenhum daqueles seres iriam mudar. Eles iam continuar adorando ver o sofrimento dos mais fracos. Se deliciando com a morte, enquanto ficavam confortáveis nos seus lugares perfeitos.

Hunter estava sentado no trono que antes pertencia a Jonas. Sadie estava do seu lado, se deliciando com um cálice de sangue. A raiva explodiu de dentro de mim, quando aqueles corvos mergulharam pelo túnel do fosso, chamando a atenção de todos que estavam naquelas varandas. Eles caíram no mais profundo silêncio, desviando os olhos dos corvos, como se esperassem ver a morte.

Mas em vez disso, os corvos se juntaram no parapeito da varanda de Jonas, até darem lugar ao meu corpo. Hunter se assustou quando me viu, enquanto o cálice deslizava das mãos de Sadie para o chão. O silêncio do fosso explodiu em sussurros e arquejos de surpresa, enquanto eu olhava fixamente para o mago.

—Harper? —A voz dele veio repleta de incredulidade. —Falaram que você havia morrido. Como você...

—Mas eu morri. —Abri um sorriso pra ele, observando-o ficar de pé muito lentamente, parecendo assombrado. —Mas estamos no inferno, Hunter. Deveria saber que aqui, sonhos se tornam pesadelos e veem atrás de você.

Continua...