Bosque dos Sonhos Mortos

Capítulo 15: Ela sempre sabe.

Não vi mais Sebastian nos dias que se seguiram. Ele não estava na cela com as outras crianças, assim como também não se escondeu nas minhas coisas na caverna. Fiquei me perguntando se ele teria fugido, tendo a certeza de que eu iria morrer e ele deveria ir embora. Mas preferi deixar isso de lado.

Recebi um recado de Jonas revelado quando seria minha luta no fosso, antes de Nilus aparecer e me arrastar para fora das cavernas dos escravos. Havia passado todos os dias depois de ter desafiado Jonas recebendo olhares atravessados dos escravos, que evitavam chegar perto demais de mim.

Nilus me fez pegar todas as minhas coisas também, inclusive minhas moedas de ouro. Fiz de tudo para esconder a pena do corvo e os frascos de poção de cura que havia roubado todo esse tempo, assim como o frasco com a poção que eu e Sebastian usamos nas criaturas e nos campeões dos outros territórios.

Não falei nada quando fui levado para o castelo, atravessando a prisão vertical, onde guardas sussurravam sobre mais guerreiros que haviam descido até a prisão lá embaixo e não haviam retornado. A lembrança das sersis e do vampiro invadiu minha cabeça no automático, mas não me importei com isso quando lembrei que todos eles estavam falhando e eu estava na frente.

—Não acredito que ele vai mesmo permitir isso. —Ergui a cabeça para encarar a dona da voz feminina quando Nilus me levou até um cômodo que parecia uma sala. —Minha líder já teria arrancado a cabeça dele.

Skyler estava sentada em uma poltrona perto de uma lareira, brincando com uma faca entre as mãos, enquanto olhava pra mim com puro desgosto. Haviam sofás, poltronas, mesas com jogos de tabuleiro e livros em estantes. Não era nem perto das salas do castelo, decoradas com ouro. Mas era mais do que eu tinha naquelas cavernas.

—Ele não gosta de ser desafiado, isso é muito claro. —Foi Khan quem respondeu, escorado em uma das portas daquela sala, com um brilho diferente nos olhos. Se ele me conhecia, das minhas visitas a Hunter, eu não fazia ideia. Mas iria ficar longe dele mesmo assim. —Ainda mais com algo tão precioso como uma amante.

—Você vai morrer. —Ignorei o tom de voz sarcástico de Skyler quando Nilus me indico uma das portas que haviam ali.

—Você vai ficar aqui a partir de agora. —Nilus abriu a porta, revelando o interior de um quarto pequeno, com uma cama, uma lareira e um armário. —É um guerreiro, então vai ganhar roupas como tal. Aproveite, não acho que você vá durar muito.

A porta se fechou atrás de mim, enquanto eu observava cada canto como se de alguma forma uma armadilha estivesse me esperando por ali. Meus lábios se comprimiram quando deixei minhas coisas em cima da cama. Havia uma pequena janela, que não revelava nada além da escuridão lá fora.

—Onde você estava? —Indaguei, escutando o chiado da serpente, antes dela surgir de baixo da cama, com os olhos me encarando como línguas de fogo. Sebastian estava ali no segundo seguinte.

—Cuidando da minha parte, como você mandou. —Ele deu de ombros, me encarando com um pouco de frustração. —Skyler já esteve lá. Alguns dos seus homens morreram, mas ela conseguiu sair assim como nos. Já sabe que são sersis lá. Logo a noticia vai se espalhar.

—Todos vão saber que estão procurando no lugar errado. —Comentei, vendo ele balançar a cabeça que sim, enquanto olhava para o meu novo quarto. Era apenas uma farsa de Jonas. Ele estava me fazendo sentir importante, como um guerreiro, para me matar no fosso e dizer a todos que venceu mais uma vez.

—Como você deixou claro pra todos que queria Fedra, achei que deveria fazer algo para que ninguém desconfiasse que ela é a sereia e você está atrás dela assim como os outros. —Ele abriu o armário, fazendo uma careta para as roupas de couro que encontrou ali. —Soltei alguns boatos por ai, sobre uma mulher aprisionada no lago de sangue, na Floresta das Almas Partidas.

—Você soltou alguns boatos? —Eu ri, um pouco incrédulo demais, o que pareceu deixa-lo um pouco ofendido.

—Eles estão desesperados. Acreditam em algum sussurro por ai. —Ele deu de ombros, parecendo avaliar cada canto dali, enquanto eu tentava saber o que estava diferente nele. —Ouvi dizer que Khan, Lacey, Kaled e Skyler irão em breve, depois da sua luta no fosso.

—Querem me ver ser estraçalhado. —Falei, porque era muito óbvio. —Descobriu alguma coisa sobre Fedra? Jonas fez alguma coisa com ela depois que eu fui tirado do fosso aquele dia?

—Ele prendeu as quatro amantes em seus quartos, como um completo louco, como se todo mundo quisesse rouba-las dele. —Sebastian revirou os olhos, bufando como se Jonas fosse um maníaco. —Mas elas está bem. Por enquanto ninguém desconfiou das suas intenções. Acham que você é apenas um escravo burro desejando a morte. —Balancei a cabeça, feliz por saber daquilo. Se desconfiassem que ela é a sereia, as coisas poderiam ficar feias pro meu lado. Jonas certamente iria querer levar vantagem sobre isso. —Hunter também está vindo pra cá ver sua luta.

—Todos estão sedentos por sangue. Fiz um desafio e deixei todos ansiosos por um espetáculo em que serei morto. —Eu ri, balançando a cabeça negativamente. —Continue soltando seus boatos, ou o que quer que seja, por ai. Ninguém pode desconfiar de quem ela é, até que eu vença e a tenha.

—Você já parou pra pensar no que Fedra está pensando sobre isso? —Sebastian ergueu as sobrancelhas pra mim. Os lábios erguidos em um leve sorriso sugestivo.

—Estou fazendo isso para sair daqui, Sebastian. Se Fedra for realmente a sereia, depois que eu vencer o primeiro desafio, iremos por caminhos diferentes de novo. —Afirmei, porque Sebastian estava com ideias distorcidas desde que a viu pela primeira vez no corredor.

—Se você diz. —Ele soltou uma risadinha que me irritou, ao mesmo tempo que me deixou pensativo.

Queria saber o que Fedra estaria pensando. Mas infelizmente não posso ler mentes. Dizem que existe alguém que pode. Mas tenho certeza que isso é apenas uma lenda. Alguém com um poder assim seria assustador. Sinto meus ossos estremecerem só de pensar nisso.

—Mas já pensou no que a morte está achando disso tudo? —Sebastain insistiu, me fazendo olhá-lo. —Ela deve imaginar que você sabe. Ela é a morte, quero dizer. Ela sempre sabe.

Continua...