Capítulo 28: Isso não é o suficiente?

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Quando sai da banheira e comi a sopa que Fedra havia trazido, encontrei ela sentada ao lado da cama, cobrindo um Sebastian completamente apagado na cama. Ele parecia dormir pesado, porque a respiração estava muito calma e ele nem mesmo se moveu quando ela o cobriu, passando de leve a mão nos cabelos dele no segundo seguinte, antes de olhar para trás quando fechei a porta do cômodo adjacente.

—Temos que sair desse navio. —Afirmei, me sentando na cadeira que antes Fedra estava ocupando, quando acordei na cama. —Onde você quer ser deixada? Nas Ruínas do Submundo ou em outro lugar? Precisa me dizer, porque preciso saber o que dizer a Hunter e como prosseguir com o meu plano.

—Eu era das Ruínas do Submundo. —Fedra olhou pra mim, se ajeitando na cama para me encarar de frente. Os olhos verdes parecendo perdidos em um lugar que não era aquele quarto onde estávamos. —Quero voltar pra casa. Mas não posso fazer isso ainda.

—Como assim não pode fazer isso ainda? —Indaguei, erguendo as sobrancelhas, vendo-a abaixar a cabeça como se não conseguisse me encarar. Aquilo me fez franzir a testa, enquanto tentava entender o que estava acontecendo ali. —A morte deu você de presente a Jonas, não é? Por que ela fez isso? Por que ela te tirou da sua casa e te fez ficar na forma humana, servindo a um feérico?

—Ela é a morte. Fazer os outros sofrerem é o dom dela, não é? —Fedra sibilou, dando de ombros, enquanto encarava um ponto fixo no chão. —Os motivos dela não são importantes nesse momento. Nunca quis me tornar amante de Jonas. Só queria voltar pra casa. Mas não posso fazer isso agora, porque a morte me aprisionou como humana. —Fedra finalmente ergueu a cabeça e me encarou. —Liberte a sereia aprisionada... Não é me tirar de Jonas ou do Bosque dos Sonhos Mortos.

—Era isso que você queria contar a Sebastian, mas não teve tempo? —Indaguei, vendo-a balançar a cabeça que sim, enquanto eu sentia a raiva queimar no meu sangue, me dando conta de como as coisas eram ainda mais difíceis do que pareciam. —Como ela te aprisionou?

—É uma magia simples, mas poderosa o suficiente para me manter como humana, mesmo que eu entre na água. Não vou me transformar até a magia ser destruída. —Fedra ficou de pé, apertando a saia do vestido entre as mãos, enquanto andava para perto da porta. —A magia está aprisionada em uma relíquia, na sala dos tesouros perdidos.

—No Bosque dos Sonhos Mortos. —Soltei, apertando minhas mãos em punho. —Então vamos ter que voltar naquele lugar?

—Se tiver uma ideia melhor de como me libertar, estou aberta a ouvir suas sugestões. —Fedra rebateu, como se não gostasse do tom de voz frio que eu usei. Aquilo em fez comprimir os lábios, porque não estava com raiva dela por aquilo, mas com raiva da morte por brincar com todo mundo com esse maldito desafio. —Sabe o que é essa sala?

—Onde todas as coisas perdidas, de todos os mundos e dimensões vão parar. —Falei, soltando uma respiração pesada, antes de erguer a mão para esfregar minha testa com força. —Você sabe em que relíquia a magia está presa?

—Não faço a menor ideia. —Fedra desviou os olhos de mim quando a encarei. —Já tentei ir até lá para procurar a relíquia, mas nunca consegui ir tão longe, porque Jonas sempre me pegava e eu não podia deixar que ele descobrisse o que eu era. Mas está lá.

Fechei meus olhos, escondendo meu rosto entre as mãos enquanto tentava pensar em como resolver aquela situação toda. Tínhamos que voltar pra lá, mas estávamos perto da Fortaleza dos Corvos, se afastando do castelo de Jonas cada vez mais. Afastei as mãos do rosto, tentando me lembrar do que eu sabia sobre a sala dos tesouros, pensando em como poderia chegar lá. Fiquei de pé quando tive uma ideia, sabendo que era a hora de sair daquele quarto.

—Cuide de Sebastian. —Falei, olhando para o garoto que dormia pesado sobre a cama, sem fazer ideia de como nossas vidas estavam prestes a virar o caos. Quando saíssemos daquele navio, eu iria atiçar a fúria de Hunter e ele iria me caçar por todo o inferno. Mas eu também não tinha outra escolha. Não deixei de ser um escravo de Jonas, para me tornar o escravo de outro ser. —Vou falar com Hunter.

—Como vamos sair daqui? —Fedra indagou, enquanto eu passava por ela para alcançar a porta. Quando não respondi, ela segurou meu braço, me fazendo sentir o calor e a maciez da sua pele em contato com a minha, causando um frenesi dentro do meu peito quando me virei para encara-la. —Precisa me dizer algo, Fox. Não me deixe no escuro. Sebastian me disse para confiar em você, que você me ajudaria. Mas não faço ideia do que passa na sua cabeça.

—Vou te libertar e te levar pra casa, isso não é o suficiente? —Indaguei, sentindo os dedos dela apertarem com mais força o meu braço, enquanto seus lábios tremiam como se ela quisesse retrucar. —Você viu todas as cicatrizes no meu corpo. Sou feito de todas elas e um punhado de merda. Pode confiar em mim para levá-la pra casa, porque preciso disso pra vencer o desafio da morte. Mas não confie em mim além disso. Trapaceei para que os outros campeões não conseguissem vencer. Enganei Hunter e vou enganar quantos forem necessários para sair daqui. —Afirmei, tirando a mão dela do meu braço, vendo seus olhos perdendo o foco à medida que me ouvia. —É isso que está na minha cabeça. Quero sair daqui.

—E o que vai acontecer com Sebastian? —Questionou, olhando para o montinho sobre a cama. —Você vai deixá-lo aqui? Vai abandoná-lo em algum lugar? É isso que ele pensa que você vai fazer, sabia? —Fedra voltou a me encarar. Algo como fúria dançando no belo rosto humano. —Ele tem certeza que você vai deixá-lo em algum momento, mas mesmo assim confia em você cegamente. Eu não entendo essa relação de vocês dois e como isso está sendo benéfico pra ele!

—Sebastain não é responsabilidade sua para se preocupar com o que vai acontecer com ele. —Afirmei, vendo que minhas palavras a deixaram surpresa e sem saber o que dizer. Eu não deixaria Sebastian em qualquer lugar. Eu não o abandonaria depois de vê-lo e senti-lo desesperado para me ajudar quando estávamos fugindo. Mas isso não era da conta de Fedra, nem de ninguém. —Vou te deixar em casa, Fedra. Depois disso, você nunca mais vai ver eu e Sebastian de novo.


Continua...

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