Capítulo 53: Estamos quase lá.

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Coloquei Fedra sentada em uma pedra, afastando o casaco que Daren havia colocado sobre seus ombros para observar o corte que havia na sua costela. Fedra fez uma careta quando toquei a região, antes de agarrar meus ombros quando depositei a poção de cura ali, por cima do tecido empapado de sangue.

—Gosto dele. —Fedra sussurrou, enquanto me observa cuidar do seu ferimento. Os lábios tremendo como se estivesse com dor. —Daren não é como os demônios que ouvi falar.

—Eu sei. Por que acha que decidi confiar nele? —Falei, erguendo a cabeça para encontrar seus olhos fixos nos meus. A imensidão verde repleta de preocupação e incerteza.

—Mas não concordo com o que ele disse. Acho que deveríamos ir atrás de Sebastian. Não podemos deixá-lo nas mãos de Hunter. —Fedra afirmou, e eu comprimi meus lábios, sentindo um gosto amargo na minha garganta. Sabia que ela estava certa, assim como achava que Hunter estava certo. Eram dois pesos de uma mesma medida.

—Quero ir atrás dele, Fedra. Mas Daren tem razão sobre eu não conseguir proteger vocês dois ao mesmo tempo. —Encarei os olhos dela, terminando o que estava fazendo antes de ficar de pé. —Não sou um guerreiro e nem sei me defender direito. Preciso aprender a fazer isso se quiser sobreviver nesse lugar por mais tempo. Tudo até agora foi por pura sorte.

—Vai deixá-lo para trás? —Fedra me lançou um olhar firme, como se não pudesse acreditar nas escolhas que eu estava fazendo.

—Não, vou apenas agir de forma inteligente. Daren está certo e você precisa perceber isso. Posso libertar você agora, sem os homens de Hunter me caçando por aí. Já tenho que me preocupar com Jonas e quem ele manda atrás de mim. —Limpei o suor na minha festa, sentindo o corte na minha bochecha latejar pela tensão do meu rosto. —Posso salvar Sebastian, Fedra. Mas preciso estar vivo para conseguir fazer isso, ou não vou conseguir ajudar nenhum de nós.

Fedra me encarou por um longo segundo, parecendo preocupada demais para deixar o assunto. Mas por fim ela assentiu, me fazendo relaxar um pouco os ombros, porque não queria ter que discutir com ela sobre isso. A ajudei a ficar de pé, colocando a bolsa de viagem nas costas, enquanto puxava o mapa que Daren havia arranjado pra mim. Tinha um longo caminho a percorrer e não tinha certeza sobre o que iria encontrar.

Durante cinco dias percorremos o território de Jonas em direção ao norte, pra ainda mais fundo da floresta de cogumelos, como revelava o mapa. Caminhávamos a maior parte do tempo e então repousávamos no alto dos cogumelos, longe de chão, quando os animais se tornavam mais ativos. Era cansativo, frustrante e estava exigindo cada gota do meu controle, porque queria chegar lá o mais rápido possível.

Eu quase não dormia, preocupando demais com a nossa segurança. Fedra conseguia descansar por algumas horas, enrolando o corpo macio no meu, buscando meu calor, antes de cair no sono. As vezes eu a deixava dormir mais do que o necessário e em outras eu me sentia mal em acorda-lá cedo demais para partirmos. Mas ela nunca reclamava. Ela estava sempre ali, segurando minha mão para continuarmos a andar.

Nossas conversas eram rasas e rápidas. Perguntas sussurradas sobre o bem estar de cada um. Não estávamos comendo direito também, porque os mantimentos que havíamos trazido estavam sendo racionamos para durarem mais. Tinha a sensação que aquilo era uma prova para saber o quão longe eu iria para sair do inferno. E tinha a sensação que eu estava perdendo.

[...]

Observei Fedra sair do riacho, tentando não focar nas curvas do corpo dela que agora eu conhecia muito bem. Ela se secou rapidamente, colocando o vestido antes de se aproximar de mim para que eu ajudasse a fechá-lo. Quando terminei, ela se virou, lançando um olhar fervente na minha direção, que fez o calor se espalhar pelo meu corpo como rastro de fogo prestes a incendiar e explodir.

Ficar perto dela era cada vez mais difícil, porque precisava me controlar em não pensar no quanto eu a queria de novo e de novo, mesmo que estivéssemos mantendo distância desde que saímos do território de Daren. Eu estava ocupado demais tentando prestar atenção em tudo ao nosso redor, enquanto Fedra estava preocupada com Sebastian. Não tínhamos tempo para nada além disso e isso estava roubando todas as minhas energias.

—De olho em tudo. —Falei, antes de me afastar na direção do riacho, começando a tirar minhas roupas, antes de entrar na água rasa e fria para me banhara. Tínhamos feito aquilo algumas vezes. Um ficava de guarda enquanto o outro se banhava. Era rápido, desconfortável e necessário.

Sai da água depois de me limpar, sentindo meu corpo inteiro ficar arrepiado pelo vento gelado, mas também porque sabia que Fedra estava olhando pra mim. Os olhos devorando cada parte do meu corpo como se eu fosse a única coisa que ela desejasse. Na maioria das vezes consigo ignorar isso. Mas as vezes me deixa sem fôlego pensar que ela me deseja com a mesma intensidade que eu a desejo.

Me vesti rapidamente, enfiando as mangas da camisa nos braços, antes de ficar tenso quando senti a presença de Fedra atrás de mim. Engoli em seco, soltando uma respiração pesada quando ela deu a volta a parou na minha frente, tocando meu peito nu, fazendo meu coração disparar dentro do peito, enquanto o ar escapava pelos meus lábios.

—O que vai acontecer quando me libertar? —Questionou, traçando o contornos das minhas tatuagens com a ponta do dedo, deixando um rastro de calor pelo caminho. Parecia que Fedra era capaz de queimar minha pele só com aquele gesto.

—Não posso fazer promessas a você, Fedra. —Segurei a mão dela, engolindo o nó que havia se formado na minha garganta, sentindo meu peito se contrair com o significado daquela pergunta. —Posso cumprir as que já fiz, mas não posso fazer nenhuma outra.

Apertei a mão dela, vendo seus olhos brilharem sobre meu rosto, enquanto seus lábios tremiam como se ela quisesse me dizer muitas coisas, mas não conseguisse. Soltei o ar com força, ignorando o som do meu coração batendo na minha cabeça, quando me inclinei e capturei os lábios dela com os meus. Minha mão se embrenhando nos cabelos molhados, segurando sua nuca e aprofundando o beijo quando mergulhei minha língua na sua boca.

Fedra não hesitou em me beijar de voltar, raspando as unhas nas minhas costas quando me abraçou com força, grudando o corpo contra o meu. Minha mente virou um borrão de desejo, porque estava tão tenso e tão frustado com os últimos acontecimentos, que só queria me perder no corpo dela por um momento, para sentir que ainda estava vivo. Para sentir que ela ainda estava ali.

Mas não podia fazer isso no momento. Não no meio daquela floresta esquisita, onde qualquer ser ou criatura poderia surgir e nos ver. Não podia baixar a guarda demais naquele lugar. A beijei com força, sentindo o corpo quente contra o meu e seus suspiros de prazer se perdendo nos meus lábios, antes de me afastar, observando o rosto vermelho e o peito subindo e descendo com força, enquanto ela me encarava como se quisesse mais.

—Temos que continuar. —Falei, deslizando meu polegar pelos lábios de Fedra, vendo-a fechar os olhos e assentir, como se não fosse bem aquilo que ela quisesse. —Estamos quase lá. Logo você estará livre e poderá voltar a ser uma sereia, como deve ser.

Fedra soltou o ar com força, puxando meu rosto para me beijar de novo. Os dentes mordendo meus lábios com força, a ponto de eu sentir o gosto de sangue na minha língua. Mas isso não me fez parar de beija-la. Em vez disso, apenas a puxei mais para mim, devorando os lábios dela uma última vez.

Me afastei dela a contragosto, fechando minha camisa e vestindo a jaqueta. Fedra me observou em silêncio, antes de eu pegar a bolsa e jogá-la sobre as costas, estendendo a mão pra ela. Então voltamos ao nosso percurso, com a escuridão devorando cada pedaço daquele lugar.


Continua...

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