Bosque dos Sonhos Mortos

Capítulo 82: Anjo do inferno.

Me sentei no chão, observando minha respiração sair como uma névoa, enquanto uma risada deixava meus lábios. Tudo estava branco ao meu redor, enquanto o sol tentava aparecer por entre nuvens cinzentas no céu, de onde a neve caia. Deveria estar no inverno ali. A neve embaixo de mim era gelada, mas macia de uma forma que me fez apertar ela entre os dedos até forma uma bola, que joguei pra cima e observei de desfazer.

Fiquei de pé, encarando a floresta ao redor, ouvindo o som dos pássaros ao longe, que provavelmente estavam tentando se esconder do frio também. Meus lábios se abriam em um sorriso, enquanto eu olhava pra cima e fechava meus olhos, querendo sentir apenas a neve caindo sobre meu rosto e o vento frio arrepiando minha pele.

Fiquei alguns minutos assim, apenas apreciando aquela sensação incrível, porque não conseguia acreditar que podia simplesmente sair do inferno agora e voltar. Não que eu tivesse a intenção de voltar, mas a verdade era mais doce do que eu imaginava. E ainda por cima, tinha conhecido a própria deusa da vida. Ela era espetacular.

Encarei a floresta ao redor, me encolhendo quando o frio começou a me incomodar. A ansiedade estava mantendo meu rosto quente, junto com o nervosismo. Queria correr até Sebastian e Fedra, mas não sabia qual seria a reação dos dois ao me verem vivo. E eles saberiam que algo está diferente em mim assim que me encarassem. Meus olhos agora eram vermelhos, assim como os de Daren. Não havia como esconder o que eu havia me tornado.

—Existe outra coisa dentro de mim. —Sussurrei, lembrando das palavras da deusa da vida. Vasculhei aquela coisa no meu interior, sentindo aquela criatura ronronar como se quisesse tomar o controle. A silenciei, sentindo um fiapo de poder diferente dentro de mim. Algo que eu não tinha sentido quando estava no inferno.

Minha atenção se voltou para o céu novamente, quando vi a sombra de uma fumaça negra que subia para o céu, de algum lugar do outro lado da floresta. Lembrei daquele castelo que havia visto quando entrei no corpo de um guarda, sabendo que era pra lá que eu deveria ir de novo. Yaz servia a rainha, então Fedra e Sebastian estavam ali.

Disparei pelas árvores na direção da fumaça, engolindo lentamente, porque minha respiração estava ficando rápida à medida que meu corpo ficava mais frio por conta de toda aquela neve. Meus pés afundavam a cada passo, fazendo com que eu me demorasse muito para avançar alguns quilômetros.

Quando avistei a primeira torre do castelo, soltei um suspiro misturado com uma risada, ainda sem acreditar que estava realmente ali. Mas antes que eu fosse em frente, um grupo de guardas surgiu de trás das árvores, usando armaduras e capas longas, enquanto empunhavam espadas.

—Pare aí mesmo. —Um deles sibilou, apontando a espada pra mim, enquanto eu hesitava. —Quem é você? O que quer aqui?

—O que é isso nos olhos dele? —Um outro soldado indagou, deixando todos eles inquietos e em alerta quando pareceram notar que a cor dos meus olhos não era comum. —O que você é?

—Não vim até aqui fazer mal a ninguém. —Afirmei, mostrando que não estava em porte de nenhuma espada ou faca, mesmo que agora não precisasse delas. Mas eles não sabiam disso. —Só estou procurando duas pessoas. Esse é o reino de Delarian? Eu estou no lugar certo?

—Sim, este é o reino de Delarian. —O guarda que falou primeiro se aproximou, dando alguns passos na minha direção, com a espada ainda erguida. —Qual o seu nome, rapaz?

—Harper. Fox Harper.

—Quem você está procurando? —Questionou, enquanto eu olhava atentamente para os outros guardas, percebendo que eles estavam um pouco tensos e hesitantes em relação a mim.

—Yaz Hargreaves. —Afirmei, sabendo que eles provavelmente conheceriam o nome, já que o yatori servia a rainha.

Os guardas trocaram olhares, como se estivessem conversando mentalmente. Não pude deixar de notar a surpresa de alguns deles. Dei um passo para frente, o que fez todos eles apontarem as espadas de forma ameaçadora na minha direção. Senti uma risada de entalar na minha garganta, porque tinha a sensação que se quisesse, poderia transformar aquelas espadas em cinzas.