Capítulo 11: Portadores do metal.

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Nada faz os sangue nobre gritarem tanto quanto uma luta na arena. Eles amam esses espetáculos. Amam ver o sangue a morte pairando sobre quem entra naquela pequena arena. Para os escravos, uma pequena abertura na parede em uma das cavernas nos permitia ver as batalhas lá dentro, apesar de poucos de nos terem coragem de ir assistir.

Hoje tomei a liberdade de entrar naquela caverna, encontrando alguns poucos escravos ali. A batalha estava prestes a começar e os membros da elite já estavam se colocando nas varandas para observar o campeão de outro território perder a vida ali. Tinha certeza que eles iriam gritar muito mais do que em qualquer outra luta.

Aquela também era a minha oportunidade para observar todos eles e tentar descobrir qual era a sereia. A morte deveria ter dado alguma dica. Ela não ousaria deixar todo mundo no escuro. Estávamos deixando passar alguma coisa. Uma palavra. Uma frase. Algum gesto que deixe claro quem é que todos estão procurando.

—O que você acha? —Sebastian sibilou, a língua cortando o ar quando a cabeça saiu pra fora da minha camiseta, ao lado do meu pescoço, me fazendo ficar rígido.

—Vamos apenas observar. —Olhei ao redor, apenas para ter certeza que não havia nenhum escravo prestando atenção em mim. —E não fique falando, ou todos vão desconfiar.

—Não faça isso. Não faça aquilo. Fique quieto, Sebastian. Vá ficar com as crianças, Sebastian. —Resmungou, me fazendo ranger os dentes em frustração pela sua boca enorme e pela sua incapacidade de ficar quieto por muito tempo.

Mas por sorte um dos portões do fosso começou a subir, revelando uma fêmea de cabelos negros muito curtos, pele clara e rosto fino, repleta de tatuagens e piercings. As roupas pareciam ter saído direto de uma batalha. Couro e algumas partes metal, além de detalhes em ouro e ossos. Os olhos negros viajaram por todas as pessoas que a assistiam, enquanto seus lábios se enrugavam em reprovação.

—Meus amigos, deixe-me apresentar Skyler, a campeã da Floresta das Almas Partidas. —A voz de Jonas viajou pela multidão, que gritou enlouquecidamente. Alguns fizeram sons de vaia pra ela, enquanto outros apenas gritavam para que o oponente fosse chamado.

—O que ela é? —Sebastian sussurrou, enquanto meus olhos não deixavam a fêmea enquanto eu tentava descobrir o que ela era. Não parecia féerica, nem elfa, o que era mais comum ali. Seu corpo esguio e cheio de curvas longas chamavam a atenção a medida que ela caminhava para o centro do fosso.

Olhei para a varanda onde Jonas estava, com os olhos brilhando em sangue, louco para ver o que iria acontecer com ela. Ao seu redor, suas quatro amantes se mantinham de pé, olhando sobre o parapeito o fosso. Cada rosto uma mistura de nojo e ansiedade. Foquei meus olhos em Fedra, com as mãos firmes no parapeito e uma expressão impassível no rosto. A mais bela das quatro, com a sombra de algo frio e afiado nos olhos.

—Acho que eu sei o que ela é. —Sebastian chamou minha atenção, enquanto o portão oposto do que Skyler havia saído começava a subir. As paredes pareceram estremecer, enquanto o ar parecia parar ao nosso redor.

—O que ela é? —Indaguei, sem receber uma resposta, porque Sebastian estava mais ocupado em se encolher e se esconder embaixo da minha camisa quando a criatura passou pelo portão aberto, com ossos e carne retorcida formando seu corpo enorme, como de um cervo, assim como os chifres enormes e a boca que cortava seu rosto, repleta de dentes tão afiados quanto as garras nas patas.

—Um devorador. Ela vai enfrentar um maldito devorador! —Um dos escravos que estava ali exclamou, antes de disparar para fora da caverna, como se não quisesse ver o que iria acontecer ali.

—O que é essa coisa? —Sebastian indagou, enquanto eu não tirava os olhos da criatura parada na saída do portão que se fechava atrás dela. Sua cabeça estava virava para o chão, assim como os dentes que escorriam saliva da sua enorme boca.

—São criados com sangue e magia. Matam tudo que se meche e contaminam aqueles que conseguem ficar vivos. São rápidos e carniceiros nojentos. —Falei, umedecendo os lábios com a língua quando vi Skyler avaliar a criatura, sem parecer com medo. —Não enxerga direito, então ficar parado é sua maior chance. Se ela captar seu movimento, então você já está morto. —Skyler continuou imóvel, assim como a criatura. —O que você acha que ela é?

—Portadora. —Sebastian soltou, o corpo de serpente deslizando pela minha pele no exato momento que Skyler se movia, correndo na direção da criatura, que saltou sobre ela quando captou seu movimento. Ela se jogou no chão, escorregando por baixo da criatura enquanto uma lança de metal surgia na sua mão.

O tempo pareceu parar quando ela lançou aquela arma contra o devorador, acertando a lateral do seu corpo. A criatura grunhiu, sangue negro manchando o chão quando se chocou contra a parede perto de onde eu estava, me fazendo dar um passo para trás. Gritos explodiram quando Skyler disparou na direção dela de novo, criando duas espadas em suas mãos, antes de saltar e finca-las nas costas da criatura, antes que ela se recuperasse do primeiro golpe.

Algo desagradável rastejou no meu peito quando a besta caiu morta no chão e todo fosso ficou em silêncio, como se eles não fossem capaz de acreditar que ela havia conseguido vencer aquela coisa mortal. Mas Skyler já estava saindo de cima da criatura, erguendo a cabeça para encarar Jonas com puro desdém.

—Como vencedora, você deve me dar passagem segura por suas terras. —Skyler exclamou, erguendo a espada e apontando pra ele. —E me fornecer homens para descermos até a sereia na sua prisão vertical.

O silêncio se seguiu enquanto Jonas a encarava com uma expressão raivosa e lívida, como se ele pudesse mata-la com suas próprias mãos. Mas era claro que nenhum governante iria mandar alguém fraco até aqui. Eles mandaram os melhores. Só que isso também não faz diferença, porque eles estavam indo até uma caverna cheia de sersis, loucas para devora-los.

—Não costumo gostar de portadores do metal. —A voz da morte fez os pelos do meu corpo se arrepiarem, antes dela surgir no fosso ao lado da criatura morta, com um sorriso lascivo nos lábios. —Me lembram uma certa rainha que ousou me ludibriar.




Continua...

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