Capítulo 71: Ele ainda não está morto.

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Enfiei a faca bem no fundo, escutando os gritos dos guardas ao meu redor, quando perceberam que eu tinha me soltando. Mas eles não conseguiram chegar até mim, porque vários homens de armaduras e símbolos da água entraram na varanda, seguindo as ordens de Lancey. Era um jogo perdido pra eles. Era um jogo perdido para Jonas.

Olhei no fundo dos olhos dele, encontrando-os arregalados e assustados, ainda tentando entender o que havia acontecido ali. Afundei mais a faca, escutando ele arquejar e uma lágrima escorrer pela sua bochecha. Então agarrei o cabo e girei a lâmina no peito dele. Girei até o sangue empapar minhas mãos e o último resquício de vida deixar o corpo dele. Saboreei cada segundo daquela morte.

—Harper, temos que ir! —Lancey exclamou, enquanto eu ainda encarava a expressão vazia no rosto de Jonas, agora morto.

—Estou me perguntando o que vai acontecer com sua alma agora que está morto, já que já estamos no inferno. —Sussurrei, mesmo que ele já não pudesse mais ouvir. Lancey me chamou de novo, enquanto mais guardas iam chegando. —Mas percebi que não me importo. Posso ser um escravo, mas pelo menos estou vivo e vou saber como essa história termina.

—Harper! —Lancey gritou, e eu finalmente sai de cima do corpo de Jonas, deixando-o caído sobre seu trono, com o sangue escorrendo para o chão.

Lancey agarrou meu braço e disparamos para fora dali. Uma espada foi jogada nas minhas mãos, enquanto eu olhava para dentro do fosso, procurando por eles. Mas o fosso estava vazio. Ou parcialmente vazio, porque uma criatura havia se soltado e agora grunhia e tentava escalar as paredes, ficando furiosa ao ver as mortes que aconteciam nas varandas.

—Mandei meus homens cuidarem deles. Vamos encontrá-los na saída. —Lancey afirmou, parecendo notar minha hesitação quando percebi que eles não estavam mais no fosso. —Achou que eu ia ficar esperando você dar uma de herói?

—Pensei que você soubesse que estou longe de ser isso. —Retruquei, desviando de uma flecha que cortou meu caminho, antes de erguer a espada e atacar o homem que estava com o arco. —Fedra nunca me disse que vocês eram irmãos.

—Imaginei. —A voz dele veio com uma dor diferente, como saudade. —Nunca convivemos como irmãos de verdade. Quando eu nasci, Fedra já estava nas mãos de Jonas. Seu pai estava morto, mas sua mãe não, mesmo que o luto tenha acabado com ela por várias décadas, até ela decidir recomeçar.

—Com o seu pai. —Falei, entendendo todas as ordens de acontecimentos ali, enquanto negava com a cabeça. —Você veio até aqui porque sabia que Fedra era a sereia do desafio. Mas por que entrou no fosso como os outros campeões, em vez de ir direto até ela?

Lancey não me respondeu de imediato, porque estava ocupado enfiando uma espada dentro de um dos guardas, que caiu morto aos seus pés. Nós dois atravessamos algumas portas, antes de começarmos a descer uma longa escadaria, cheia de soldados.

—Eu nunca disse a Jonas o que queria se vencesse uma batalha no fosso. Ele só presumiu isso. Mas se eu vencesse, o que acha que eu pediria? —Indagou, lançando um olhar afiado na minha direção, enquanto eu acabava rindo. —Eu só não fui tão óbvio quanto você.

—Tenho uma confissão a fazer. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, enquanto nós dois íamos derrubando juntos os guardas que estavam no nosso caminho nas escadas, até chegarmos ao final dela. Lancey olhou pra mim e eu me encolhi. —Coloquei uma poção na bebida de todos os campeões e das criaturas que entram no fosso, pra deixar todos vocês lerdos, pra que nenhum conseguisse vencer.

Lancey abaixou a espada, me encarando com um misto de surpresa e indignação. Imaginei que ele fosse me dar um soco por ter atrapalhado seus planos, já que ele não queria fazer mal a Fedra. Ele só estava tentando recuperar a irmã e eu o atrapalhei.

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