Capítulo 32: Me chame de Harper.

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Sadie havia arrumado um vestido emprestado para Fedra, enquanto os que eu havia encomendado não ficavam prontos. Não acho que ela ficou feliz em emprestar, porque me lançou um olhar que poderia reduzir meus ossos a pó. Mas não me importei com isso, porque com sorte, iria embora dali tão rápido quanto havia chegado.

O quarto estava vazio quando entrei, ouvindo o som da água enchendo a banheira. Não demorou um segundo para a forma humana de Sebastian aparecer e ele olhar para o vestido que eu trazia nas minhas mãos, abrindo um sorrisinho maroto que soava como se ele estivesse tendo muitos pensamentos que certamente não deveria ter.

—Pode entregar isso a ela? —Pedi, estendendo o vestido a ele. Mas Sebastian riu, negando com a cabeça ao se afastar e se jogar na cama.

—Leva você. Ela já viu você pelado, mais do que justo você vê-la pelada também. —Sebastian murmurou, me fazendo ranger os dentes para não soltar alguma coisa grosseira pra cima dele. —Ei, não faz essa cara. As coisas estão indo bem, não estão? A gente se livrou de Jonas.

—É, e agora precisamos nos livrar de Hunter. —Afirmei, apertando o fino tecido do vestido nas minhas mãos, olhando para a porta que dava para o cômodo adjacente. —Fedra e eu temos que jantar com Hunter hoje. Ela me disse que você não andou se alimentando direito.

—Comi o suficiente. —Deu de ombros, balançando os pés cruzados sobre a cama, enquanto eu comprimia os lábios em frustração. —Ouvi a discussão de vocês dois mais cedo. Sabe, acho que Fedra tem sérios problemas com o tipo de vida que levava. Quer dizer, todos nós temos. Mas... pelo tempo que passei com ela enquanto você estava apagado, sinto que ela não se sente alguém de verdade. Ela passou parte da vida sendo propriedade de alguém e agora não sabe como ser diferente disso.

—Eu notei isso. —Falei, soltando um suspiro pesado ao erguer a mão e esfregar minha testa. —Mas acho que nos três temos coisas a aprender agora que estamos longe daquele lugar. —Sebastian me lançou um olhar curioso, mas não perguntou o que aquilo queria dizer, mesmo que eu tivesse notado que ele não havia entendido. —Quero pedir uma coisa a você. Não é uma ordem, é um pedido. Se não quiser fazer, não vou brigar com você.

—Onde você quer que eu vá xeretar dessa vez? —Indagou, abrindo um sorrisinho que me arrancou uma risada genuína, porque a expressão dele era de alguém que estava se sentindo muito importante naquele momento. —Olha só, parece que Fox Harper sabe sorrir.

—Se você descansar e passar a comer direito, posso sorrir com mais frequência. —Eu me aproximei da cama e bati o punho nos pés dele, com o sorriso desaparecendo do meu rosto na mesma hora. —Quero que vá xeretar no quarto e no escritório de Hunter. Preciso descobrir onde ele guarda seu tesouro pessoal.

—Quer aquela pena de corvo de volta, não é? —Sebastian se sentou na cama, me olhando com uma expressão pensativa.

—Isso e outras coisas. Pode fazer isso pra mim? —Indaguei, deixando que ele decidisse dessa vez, apesar de saber que Sebastian sempre esteve com as mãos nas rédeas de tudo, porque se ele tivesse negado qualquer outra coisa que pedi a ele antes, não teria o obrigado também.

—Posso, claro. Tô mofando nesse quarto faz tempo mesmo. —Ele ficou de pé, passando por mim para ir até a porta. Agarrei a jaqueta dele, o fazendo girar o rosto e olhar pra mim. Talvez ele tivesse lido o que eu pretendia dizer no meu rosto, porque abriu um sorriso tranquilo, dando um tapinha esquisito na minha mão. —Eu vou tomar cuidado, não se preocupe, está bem? Sou uma serpente. As pessoas costumam manter distância de serpentes.

Eu o soltei, soltando uma respiração pesada ao vê-lo se transformar, antes de desaparecer de dentro do quarto.

[...]

Fedra estava escondida embaixo de muita espuma dentro da banheira quando entrei no cômodo, depois de bater na porta e ouvir a voz dela dizendo que eu podia entrar. Ela me lançou um olhar afiado quando percebeu que era eu, provavelmente preferindo a presença de Sebastian a minha, o que eu entendia completamente. As vezes eu também odiava estar dentro da minha própria cabeça.

—Trouxe isso pra você usar. Vamos jantar com Hunter essa noite. —Mostrei o vestido a ela. Era um tom verde escuro, com alguns adornos um pouco chamativos demais no decote. —Sadie emprestou, então precisamos devolver isso depois. Mas já providenciei roupas pra você.

—Preferia usar um pano de chão a algo vindo daquela coisa. —Fedra sibilou de dentro da banheira, com as bochechas ficando incrivelmente vermelhas quando sua expressão demonstrou irritação.

—Eu também não gosto dela. Mas não vamos ficar aqui por muito tempo e isso... —Balancei o vestido, antes de depositá-lo sobre a mesinha que havia ali. —É só essa noite, prometo. Temos que fazer nosso papel de amantes nesse jantar. Hunter não pode desconfiar de absolutamente nada. Se ele sequer sonhar que você é...

—Não se preocupe, fingir ser a amante sorridente e feliz de um macho não vai ser um problema pra mim. —Fedra me cortou e eu senti minha coluna ficar rígida com o que aquilo significava. —Estou acostumada a ocupar esse papel.

Apertei minhas mãos em punho, me sentindo tão irritado subitamente, como se uma tempestade estivesse se formando dentro do meu peito. Odiava Jonas e todas aquelas criaturas malditas do território dele cada vez mais. Os olhos de Fedra faiscaram sobre mim, como se ela soubesse muito bem o que eu estava sentindo naquele momento e se sentisse da mesma forma.

—Não vou tocar em você da forma como Jonas tocava, Fedra. —Falei, me sentindo na obrigação de prometer aquilo a ela. —E essa noite, tentarei não toca-la além das mãos, do braço e da cintura. Nenhum lugar além desses.

Ela me encarou por longos segundos, como se pudesse ver todas as coisas que eu escondia dentro de mim. Aquilo me deixou sem fôlego e ao mesmo tempo constrangido, me obrigando a desviar os olhos para o chão. Mesmo coberta de espuma, eu ainda sabia que ela estava nua. E vê-la me olhando daquela forma era como se ela estivesse me despindo também.

—Posso fazer uma pergunta a você, Fox? —Indagou, enquanto eu umedecia os lábios com a língua, ouvindo aquele nome causar uma dor no meu peito, como se uma faca estivesse sendo cravada no meu coração. Mas balancei a cabeça que sim, erguendo os olhos e me surpreendendo com o brilho que surgiu no rosto dela naquele momento. —Você já esteve com uma fêmea?

Engoli muito lentamente, escutando o som do meu coração martelando na minha cabeça. Não desviei os olhos de Fedra, mas também não respondi, porque não fazia diferença mentir quando eu tinha certeza que ela já tinha uma resposta para essa pergunta. Os lábios dela se curvaram em um mínimo sorriso com o meu silêncio, fazendo o calor se espalhar pelo meu corpo como um incêndio.

—Me chame de Harper. —Falei, vendo a surpresa nos olhos dela com a súbita mudança de assunto. —Vou esperar você no corredor.



Continua...

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