Capítulo 36: Para te dar sorte.

438 101 33
                                    

Apertei minhas mãos em punho ao lado do meu corpo, me esforçando para não levar as mãos até o corpo dela e toca-la de uma forma que arruinaria as coisas para nós dois. Fedra me encarou com um brilho profundo nos olhos, como se soubesse que não seria fácil brincar comigo daquele jeito, mesmo que meu corpo inteiro reagisse.

No final ela se afastou, umedecendo os lábios com a língua, de uma forma tão lenta que eu tinha certeza de que estava fazendo de propósito. Quando ela se virou e foi até os vestidos que havia ganhado, soltei uma respiração pesada, levando a mão ao meu peito, apenas para ter certeza de que meu coração não ia parar de bater ou acabar explodindo, de tão forte que estava martelando no meu peito.

Sebastian saiu do banheiro minutos depois, com os cabelos úmidos e um sorriso muito grande no rosto, enquanto mostrava a Fedra e eu o quão boas as roupas haviam ficado nele. Fedra se trancou no cômodo adjacente no meio desse tempo, provavelmente para se banhar e colocar um dos vestidos novos. Fiquei pensando nas suas insinuações e também no que ela havia dito sobre a estrela.

—Você não vai se trocar? —Sebastian indagou, quando me viu dobrando as minhas roupas e colocando sobre a cadeira no quanto do quarto. Olhei pra ele por um segundo, antes de balançar a cabeça negativamente.

—Mais tarde. —Falei, esfregando minhas mãos, sentindo os olhos de Sebastian em mim. —Você ouviu o que Hunter propôs?

—Ouvi. —Sebastian sussurrou, olhando ligeiramente para a porta do cômodo onde Fedra estava, como se esperasse que ela aparecesse ali a qualquer momento. —Eu estive nos aposentos dele. Encontrei seu tesouro. Estão guardados em milhares de baús. Sua pena está lá, entre outras coisas incomuns.

—Acha que consigo entrar lá quando estivermos fugindo? —Indaguei, vendo Sebastian comprimir os lábios e dar de ombros, como se não tivesse certeza sobre isso.

—Sabe, quando voltei pra cá, depois que você deixou a cabine de Hunter, encontrei o campeão dele escondido em um ponto, observando a porta do nosso quarto. —Sebastian se aproximou mais de mim, falando baixo o suficiente para me fazer inclinar a cabeça na sua direção. —Não tenho certeza se ele estava observando Fedra ou esperando por você. Mas ele estava lá fora. Acha que ele pode estar desconfiado de algo?

—Não sei, mas não gosto de Khan. —Afirmei, apertando meus lábios quando comecei a pensar no que ele poderia querer ao ficar nos espionando.

Podia pensar que ele estava fazendo isso a mando de Hunter, mas tinha quase certeza de que ele estava fazendo isso por conta própria. Khan podia ser o cachorro que Hunter manda para resolver as coisas, assim como Sadie, mas ele era mais inteligente do que parecia ser.

[...]

Quatro dias depois, estávamos nos aproximando do Vale das Estrelas Perdidas, nos preparando para fugir, enquanto Hunter se preparava para ir atrás de uma sereia que não existia de verdade. Na verdade, ela estava bem ao lado dele, mas eu fugiria antes que ele se desse conta de que havia sido enganado.

Hunter não fez mais nenhuma proposta em relação a Fedra, mas Khan continuou rondando. Sebastian ficou de olho nele nesses quatro dias, o encontrando espionando nosso quarto, como se estivesse caçando qualquer coisa para ir correndo até Hunter e me ferrar. Mas tomamos cuidado com cada passo que demos nesses dias, até hoje.

—Coloque isso por baixo do vestido. —Joguei uma calça para Fedra, vendo-a parecer surpresa por um segundo, enquanto arrumávamos nossas mochilas. —Não vai conseguir nadar de vestido e se eu precisar ajudá-la, vai ser melhor assim.

Fedra assentiu e se afastou até o outro cômodo, enquanto eu colocava as coisas de Sebastian na minha bolsa, misturado com as minhas coisas. Iriamos atravessar a água até as terras de Jonas, além de percorremos o caminho a pé depois, até a sala dos tesouros perdidos. Então não podíamos nos dar ao luxo de levar muitas coisas.

Fedra ficaria no navio, aguardando enquanto eu descia para terra firme com Hunter e alguns de seus homens, para que eu mostrasse aonde a sereia estava e os ajudasse a pegá-la. Eu tinha uma pequena ideia de como enganá-los para conseguir fugir e voltar ao navio para pegar Fedra e Sebastian, que deveria aproveitar o tempo que Hunter estivesse fora para pegar algumas coisas do seu tesouro pessoal. O tempo não estava ao nosso favor, mas eu usaria até o último segundo para que aquilo desse certo.

—Está na hora! —Sadie bateu na porta, no mesmo instante que Fedra voltava para o quarto, escondendo a calça que agora usava por baixo da saia do vestido. Pela expressão no rosto dela, não estava muito confortável, mas era necessário. —Hunter está esperando!

—Eu já estou indo. —Gritei de volta, sem fazer menção de abrir a porta, enquanto ficava de pé, vendo a serpente surgir e dar lugar a forma humana de Sebastian. Olhei pra ele por um segundo interminável, sentindo uma sensação ruim no meu peito. —Se alguma coisa der errado, apenas deixe o tesouro para trás e volte pra cá, entendeu? Não se arrisque demais, se isso for colocar sua vida em risco.

—Pode deixar, vou tomar cuidado. —Sebastian prometeu, me encarando como se quisesse me dizer mais alguma coisa.

Estava usando outro conjunto das roupas que eu havia comprado, que deixavam ele com um ar ainda mais jovem do que já ela. Sebastian grudou o corpo pequeno em mim, me abraçando pela cintura, enquanto sua voz soava abafada pelas minhas roupas, já que ele estava com o rosto escondido no meu peito.

—Tome cuidado também. —Pediu, enquanto eu tocava os ombros dele, sentindo uma sensação estranha no meu peito quando Sebastian ergueu os olhos e me encarou, como se esperasse que eu brigasse com ele. Tão rápido quanto havia me abraçado, ele se afastou.

Umedeci os lábios com a língua, tentando afastar a sensação estranha que tomava conta de mim naquele momento, com a lembrança que queimou na minha mente e me levou para uma época em que eu não me importava em ser chamado de Fox. Uma época estranha, quando eu ainda era só uma criança sorridente que pensava que o mundo era perfeito.

—Se alguma coisa acontecer comigo e eu não voltar, quero que vocês dois saiam daqui, entenderam? Vão pra qualquer lugar. —Afirmei, percebendo a surpresa que minhas palavras causaram nos dois. —Vou tentar ser rápido, mas é melhor estarmos preparados para qualquer coisa.

Peguei minha mochila e deixei junto com a de Fedra, antes de recolher aquelas facas que estavam na ponta da cama, prendendo na cintura da minha calça. Uma das que ganhei de presente daquela estrela. Queria poder ajudá-la, mas não podia fazer nada agora, quando nem sabia se iria conseguir sair daqui ileso.

—Harper... —Fedra hesitou quando fui para a porta, parando com a mão na maçaneta, sem fazer menção de me virar para olha-la.

Apenas esperei, sentindo-a olhar pra mim como se não soubesse o que fazer, antes de se aproximar com cautela, tocando meu braço ao parar do meu lado e me fazer girar o rosto para encará-la. Aqueles olhos verdes pareciam um oceano, transbordando com sentimentos tão intensos que me deixaram sem fôlego, quando observei o rosto dela, tentando gravar cada mínimo detalhe, antes de arriscar tudo lá fora.

Fedra soltou uma respiração tremula, antes de se aproximar e colocar uma das mãos na minha bochecha, se inclinando até pressionar os lábios macios e quentes nos meus, fechando os olhos por um momento interminável, antes de se afastar. Senti o calor se espalhar pelo meu corpo, enquanto absorvia aquele gesto como uma explosão de luz dentro do meu peito.

—Para te dar sorte. —Sussurrou, sem nem mesmo piscar ao me encarar, enquanto eu pensava em milhares de coisas para dizer a ela. Mas sabia que nenhuma delas era algo que Fedra gostaria de ouvir, então apenas fui embora, lembrando daqueles olhos verdes e do calor daquele pequeno beijo.


Continua...

Bosque dos Sonhos Mortos Onde histórias criam vida. Descubra agora