Capítulo 19: Quer ouvir minha teoria?

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Sebastian saiu assim que minhas costas estavam curadas e eu desabando sobre a cama. Minha cabeça ainda estava tentando entender o que havia acontecido no fosso e porque aquele lusion não me atacou, se sabia que eu estava interferindo na luta dos outros guerreiros. Além de eu não fazer ideia de quem era a mulher que eu vi.

Uma batida grosseira na porta me fez girar a cabeça e olhar naquela direção, sem fazer menção de me levantar para saber quem era. A batida persistiu, me fazendo bufar e revirar os olhos, frustrado com o quanto eu não conseguia um segundo de sossego naquele lugar. Nem quando eu estava nas cavernas como um escravo era assim.

—Ei, seu merda, abre logo essa porta ou vou passar por cima dela! —A voz de Khan soou do outro lado, fazendo eu me sentar na cama na mesma hora, coma  testa franzida e os lábios se comprimindo de desagrado. —Hunter quer ver você. Sadie veio até aqui busca-lo. Saia dai, ou a vampirinha vai arrasta-lo a força.

—Você é tão sútil. —Ouvi a voz de Sadie do outro lado, o que me fez ficar de pé e me vestir, não querendo que nenhum deles vissem todas as minhas cicatrizes ou as tatuagens que marcavam minha pele. Eram como relíquias pra mim. —Não pensou que se pedisse com gentileza ele viria?

—Estou mesmo ouvindo isso de uma criatura que mata outras para beber seu sangue? —Abri a porta, vendo Khan encarando Sadie com fome nos olhos, como se pudesse devorar a vampira ali mesmo, na frente de todos. —Ele é um maldito escravo. Não os tratamos com gentileza só porque ele decidiu entrar em uma desafio suicida.

—Eu ainda estou vivo, não é? —Falei, fazendo-o olhar pra mim com os lábios franzidos de nojo. —Você também não foi muito longe no fosso, pelo que eu saiba.

Estremeci, sentindo algo frio rastejando pelos meus ossos quando ouvi a risada rouca de Skyler, antes de olhar entre Khan e Sadie e ver a portadora de metal sentada em uma das poltronas, perto da lareira. Seus olhos estavam no livro aberto em seu colo, mas eu tinha certeza que ela não estava rindo do que estava lendo.

—Você é ousado, Harper. Mas essa sua ousadia ainda vai custar a sua vida. —Afirmou, erguendo os olhos até mim. Os cabelos curtos envolvendo o rosto como sombros.

—Não vejo como isso pode ser um problema, quando já estou no inferno. —Sibilei, rangendo os dentes com força. Khan bufou em desdém e se afastou, enquanto os olhos de Skyler se voltavam para o livro, com a sombra de um sorriso nos lábios dela, enquanto Sadie soltava uma risadinha ao meu lado.

—Você sempre foi o meu favorito por isso. —Sabia falou, com a boca se aproximando demais de mim, me deixando tenso. —Hunter deseja vê-lo. Preciso que venha comigo agora.

—Não tenho nada para vender. —Menti, porque na verdade eu tinha algumas coisas sim, mas não queria ver aquele mago hoje. Não vejo como esse encontro poderia ser bom pra mim. Da última vez, ele me deu informações sobre a sereia na prisão vertical. Não queria que ele desconfiasse que Fedra é ela.

—Uma pena, mas ele ainda sim quer ver você. —Ela seguiu em direção a saída. —Venha, Hunter não gosta de ser deixado esperando por muito tempo.

[...]

Sadie me levou até o navio do Colecionador, ancorado no topo do castelo de Jonas. Todos os seus seguidores ficaram me seguindo com os olhos quando subi no navio ao lado de Sadie, me avaliando para saberem se eu era ou não um risco. Hunter estava sentado na mesma mesa do outro dia, bebendo enquanto avaliava as coisas compradas de outros escravos.

—Sente-se. —Ele nem se deu ao trabalho de erguer os olhos. Fiz o que ele mandou, odiando sentir os olhos de Sadie se demorando na minha nuca. Khan, que eu nem havia notado ter nos seguido, subiu no navio também, me lançando um olhar desagradável. Tinha certeza que ele me mataria assim que tivesse a chance. —Sabe, Fox, eu fiquei batendo a cabeça por muito tempo, para chegar a uma explicação para tudo isso.

Mordi minha língua com força ao ouvi-lo me chamar daquele jeito. Infelizmente eu não podia latir insultos na sua direção como fiz com Sebastian, para que ele não me chamasse daquela forma, porque tinha certeza que ia acabar com uma faca cravada no pescoço. Engoli o sangue que inundou minha boca quando cortei minha língua, ficando rígido quando vi os olhos de Sadie escurecerem.

—Você veio até me fazer perguntas sobre o desafio da morte, me fazendo acreditar em coisas que não eram totalmente verdades. —Hunter prosseguiu, ainda mexendo nos objetos na sua frente, evitando me olhar. —Sua língua conta mentiras com muita facilidade. Me pergunto o que mais você anda escondendo de todos.

—Não faço ideia de onde quer chegar com isso. —Rebati, cerrando os dentes. Hunter finalmente olhou pra mim, com os olhos faiscando ambição, como se eu fosse algum tesouro que ele pudesse colocar as mãos e ficar mais rico do que já é. Talvez ele não tenha tanta confiança em Khan agora que ele perdeu sua luta no fosso.

—Quer ouvir minha teoria? —Indagou, abrindo um sorrisinho. —Você veio até aqui e me perguntou o que eu sabia sobre o desafio da morte, ao mesmo tempo que me questionou sobre o que eu sabia sobre o significado da pena de um corvo. Tenho certeza que você sabia o que a pena pode fazer, mas queria uma confirmação mesmo assim. —Ele se inclinou sobre a mesa, erguendo as sobrancelhas. —Então chegamos em Fedra Ridley, que você voluntariamente está arriscando a vida para conseguir. Minha teoria, em vista do que todos estão falando, é que você teve coragem de se deitar com uma das amantes de Jonas, mas não pode ficar com ela de fato porque ela está presa a Jonas, além de você ser um escravo. Mas se você vincular suas vidas por meio de uma pena de um corvo, pode deixar o inferno com ela, se passar por todos os desafios da morte.

—Perspicaz. —Sibilei, observando sua expressão endurecer. —Você acha que eu já estive na prisão vertical e sei o que há lá.

—Você acha, Fox? —O sorriso dele era mordaz. —Pois eu acho que você vai me dizer o que sabe sobre a sereia, antes que eu estrague todos os seus planos indo atrás de Fedra.



Continua...

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