Bosque dos Sonhos Mortos

Capítulo 67: Mate o ladrão.

Encarei as correntes nos meus pulsos, engolindo o nó que havia se formado na minha garganta. Sadie se aproximou, estalando a língua enquanto trazia as chaves para abri-las. Não precisava de muito para saber que ela não estava feliz com as decisões de Hunter. Ela queria que ele me matasse. Queria meu sangue dentro do cálice que ela bebe todos os dias. E eu tinha tirado dela isso, mais uma vez.

—Espero que Jonas corte a cabeça daquela vadia. —Sibilou pra mim, enquanto eu apertava a mandíbula com força para não rebater, esfregando meus pulsos doloridos quando as correntes caíram.

Sua atenção se desviou da estrela que estava do meu lado. Sadie exibiu uma expressão de puro desdém quando precisou de ajoelhar para tirar as correntes que prendiam os tornozelos da estrela. Não olhei pra ela em nenhum momento, mesmo que ela estivesse do meu lado. Precisava me concentrar no papel que tinha que desempenhar ali.

—Isso não é um acordo. Espero que se lembre disso. —Hunter estalou os dedos e o navio começou a subir com certa velocidade, fazendo a estrela tropeçar para frente. Ela teria caído se eu não a tivesse segurado, sobre o sorriso ardiloso do mago. —Mate Jonas. Talvez assim minha raiva por você diminuía um pouco.

—Você vira atrás de mim assim que se sentar no trono. —Retruquei, escutando a risada ácida que ele soltou, sem fazer questão de negar.

O navio de Daren surgiu logo acima de nós, como se ele nunca tivesse tido a pretenção de se afastar desde que pisei naquele convéns. Pude ouvir os gritos de alerta quando eles notaram a aproximação e não demorou muito para os dois navios estarem lado a lado. Olhei para todos que estavam lá, desejando ter um vislumbre dos cabelos roxos de Fedra.

Encontrei apenas a expressão fria e indestrutível do demônio, ao lado de Sebastian, tão ansioso e esperançoso que a visão quase esmagou meus ossos. A prancha foi colocada entre os navios e acho que Daren deve ter visto a verdade nos meus olhos, porque não mandou que seus homens se preparassem para qualquer embate.

—Sadie irá com você. Ela será meus olhos e ouvidos até você terminar isso. —Hunter afirmou, enquanto eu puxava o ar com força, tentando ignorar o incômodo que senti ao saber que estava longe de estar livre, porque Sadie seria minha sombra o tempo todo.

—Pode ir primeiro. —Sussurrei para a estrela, ajudando ela a subir na prancha, antes de soltar sua mão quando ela caminhou para o outro lado e pisou no convéns do navio de Daren, sobre o olhar cauteloso de todos.

Não me surpreendi ao ver a atenção do demônio nas asas brancas atrás dela, recolhidas. O olhar se demorando na pele negra da estrela e nos cabelos incrivelmente brancos. Ela parecia um ponto de luz no meio de todo aquela escuridão do inferno. E isso pareceu chamar a atenção de Daren, assim como a estrela olhou para o demônio por tempo demais, antes de se virar para me observar atravessando a prancha.

Sebastian veio correndo. Desviando dos marujos no caminho, antes de grudar o corpo em mim quando cheguei do outro lado. Ele me abraçou com tanta força que parecia não acreditar que eu era mesmo real. Passei meus braços ao redor dele, tocando sua cabeça que estava enterrada na minha barriga, sentindo um aperto na garganta.

—Por favor, Daren, arrume um dos aposentos para Sadie. Ela ficará conosco por alguns dias. —Falei, me referindo a vampira que tinha acabado de atravessar a prancha e pulado para o convéns do navio. Daren assentiu, me olhando atentamente, como se tentasse entender todos os contornos daquela situação. —E para a senhorita...

—Faelynn. —A estrela murmurou, enquanto eu a olhava, me dando conta de que não sabia o nome dela até aquele momento. Voltei a olhar para Daren, vendo os olhos dele brilharem em curiosidade, antes de ele assentir e começar a dar ordens aos marujos.