Demorei para responder sobre aquilo, apesar de saber que Sebastian estava certo. Haviam olhos e ouvidos por todo lado quando desafiei Jonas por sua amante. Era óbvio que isso havia chegado até a morte. Ela acima de ninguém, sabia meus verdadeiros motivos. Sabia que um escravo qualquer estava tentando vencer seu jogo.
—Não sei, Sebastian. Só espero que ela não me atrapalhe por isso. —Afirmei, sem conseguir parar de pensar que havia sido retirado daquelas cavernas. Que não era mais considerado um escravo e sim um guerreiro. —Preciso que você descubra com quem eu vou lutar. Tenho que saber se tenho alguma chance ou vantagem.
Saber com quem eu iria lutar também iria me dar a chance de saber se o outro tem algum ponto fraco, apesar de eu achar que qualquer uma daquelas criaturas não tem nenhum.
—Eu estou tentando descobrir já. —Sebastian se deitou na minha cama, como se o quarto fosse dele. Enquanto eu ia até o cômodo adjacente e percebia que havia uma banheira ali, com água quente fluindo magicamente por ela, sem parar. —Mas Jonas ainda não decidiu. Ele quer o pior dos piores, Fox.
—É Harper! —Sibilei, girando nos calcanhares para ver a expressão tranquila de Sebastian, como se ele não se importasse com o fato de eu não gostar de ser chamado pelo meu nome.
—Eu andei pensando sobre isso, sabia? As piores coisas que ele tem lá embaixo são os devoradores, o lusion e aquele dragão. Estou chutando que ele te dará o dragão, porque ele ainda não foi mandado para o fosso.
Fiz uma careta, pensando no tamanho daquele dragão lá embaixo. Era impossível pra mim imaginar uma forma de vence-lo. Ele era forte, mil vezes maior do que eu e ainda tinha poderes. Eu poderia ser incinerado, congelado, ter meus ossos quebrados ou ser partido no meio. Qualquer uma das opções eram muito, mas muito ruins.
—Vou dar mais uma volta e ver se descubro algo. —Sebastian virou uma serpente de novo, se arrastando para baixo da cama, o que me deixou pensando se havia algum buraco ou túnel ali. —Eu tomaria cuidado com os outros se fosse você, Fox. Eles podem tentar te matar.
Tenho quase certeza que ele ouviu o rosnado que saiu dos meus lábios. Estava falando algo que eu sabia muito bem. Óbvio que eles tentariam me matar. Brincar comigo como se eu fosse o jantar deles. Mas Sebastian só estava querendo ser irritante, falando meu nome como se quisesse deixar claro que estava irritado comigo por algum motivo.
Ele podia ficar, porque eu não me importava. Tirei minhas roupas e tomei o primeiro banho quente em décadas, sentindo meu corpo inteiro relaxar com a água quente. Poderia me acostumar com aquilo. Poderia mesmo.
[...]
Ele havia escolhido o lusion. Aquele que me encarou com sangue nos olhos quando desci para dar comida para as criaturas. O único capaz de saber que eu havia dado uma poção para deixar tanto os guerreiros como as criaturas mais fracas. O único que provavelmente não bebeu a poção, mesmo que Sebastian tenha decido lá e feito tudo de novo, como eu o havia ensinado da primeira vez.
—Tem certeza que quer fazer isso? —Sebastian indagou, enquanto me ajudava a vestir aquelas roupas de couro que haviam sido me dadas, com algumas partes que pareciam uma armadura.
Nilus havia aparecido mais cedo para me perguntar que armas eu queria. Ele me deu quatro opções, que não pareciam muito boas. Uma espada, um conjunto de facas, um arco e um suporte de flechas, ou um lança. Nunca havia pegado uma espada na vida e tinha certeza que não saberia empunha-la.
Arcos são complicados quando você não tem qualquer noção de mira ou precisão para atirar. Lanças eram tão pesadas quanto espadas e parecia uma aposta idiota.Escolhi o conjunto de facas. Mais leves. Mais fáceis de carregar. Além de eu ter certeza que o lusion partiria pra cima de mim na mesma hora. Então seria mais pratico usar uma faca se ele estivesse em cima de mim.
—Podemos dar outro jeito de chegar até Fedra. —Sebastian insistiu, me fazendo comprimir os lábios e balançar a cabeça negativamente. Se eu desistisse agora, tinha certeza que Jonas arrancaria minha cabeça e depois mandaria meus membros despedaçados para a cozinha. Eu seria o jantar da noite. —Fox...
—Pare de me chamar assim! —Eu o segurei pela camisa, vendo que aquilo o pegou de surpresa. —Eu já te falei várias vezes. Pare de me chamar assim!
—Você me chama pelo meu nome o tempo todo. —Retrucou, batendo no meu braço para que eu o solta-se. Mas só o segurei com mais força ainda, sentindo uma frustração enorme, além de raiva. —Por que está tão irritado? É só a porcaria de um nome.
—Meu nome é Harper. Foi o nome que eu escolhi pra mim. —Eu o puxei para mais perto, a ponto de tirar seus pés do chão quando seu rosto ficou na altura do meu. —Fox é o nome de um garoto que foi vendido pelos próprios pais e mandando para o inferno para ser um escravo. Você sabe qual é a sensação de ser vendido como a porcaria de uma mercadoria? —Indaguei, com as palavras saindo mais afiadas que as laminas das facas sobre a cama. Ele se engasgou, com o rosto pálido e os olhos arregalados quando balançou a cabeça que não. —Se me chamar de Fox de novo, vou vende-lo pra prior criatura que encontrar aqui e ai você vai saber a sensação.
—Seus pais...
—São monstros piores do que os que vivem aqui. —Eu o soltei de forma brusca, vendo ele cambalear para trás. —Eles não me deram nada além de um nome, antes de me jogarem aqui quando eu tinha 7 anos. Estou sobrevivendo aqui a mais de 5 séculos, graças a eles. —Ele pareceu assustado com aquela informação. —Não me chame de Fox e não fale sobre meus pais. Se seguir essas duas regras, não teremos mais problemas, entendeu?
Alguém bateu na porta. Tinha certeza que era Nilus, ou algum ogro vindo me buscar para a luta. Esperei o balançar positivo de cabeça que Sebastian me deu, antes de caminhar até a cama e pegar as facas, vendo ele desaparecer do quarto como serpente antes de eu abrir a porta, encontrando o peregrino ali.
—Hora de entregar sua alma a morte.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bosque dos Sonhos Mortos
FantasyMergulhe no Mundo das Almas Fox Harper é apenas um dos tantos escravos humanos que vivem nos territórios de Adya, a deusa da morte. Tendo o corpo coberto de cicatrizes, vivendo entre raças poderosas e mortais, ele sabe muito bem que o inferno não é...