Capítulo 14: Fox Harper.

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Todos no fosso ficaram em completo silêncio quando terminei de falar, olhando para Jonas como se quisessem saber qual seria a reação dele. Jonas estava mudo, imóvel e olhava pra mim como se nunca tivesse me visto antes. Fedra, ao seu lado, estava me encarando inexpressiva, com os olhos queimando sobre mim, como se ela pudesse me incendiar.

—Você quer uma das minhas amantes. —A voz de Jonas veio repleta de incredulidade. Mas ainda sim, concordei com a cabeça. Não iria desistir depois de ter ido tão longe. —Eu não costumo dividir, escravo. Posso arrancar sua cabeça por sugerir tal coisa.

—Eu não estou sugerindo nada. Estou fazendo um desafio. —Afirmei, sem sequer respirar, com o coração entalado na garganta. —E se eu vencer, não quero dividi-la com você. Quero ela pra mim.

Depois de segundos em completamente silêncio, o fosso explodiu em risadas e gritos de todos que assistiam, me xingando e mandando que Jonas acabasse comigo. Não abaixei a cabeça e não hesitei, encarando a expressão incrédula e depois irritada de Jonas quando ele percebeu que eu falava sério.

—Qual é o seu nome, escravo? —Jonas indagou, erguendo a mão para calar a todos.

O silêncio pareceu deixar aquele fosso menor, assim como a tensão ameaçou pesar sobre meus ombros. Limpei a garganta e olhei para Fedra, porque ela era a única coisa que me dava coragem naquele momento. Seus olhos pareciam confusos e até surpresos.

—Harper. —Sibilei, soltando o ar com força. —Fox Harper.

Espero que todos se lembrem do meu nome quando eu sair desse lugar. Espero que a morte se lembre do nome daquele que venceu seus desafios e conseguiu sair do inferno. Não me importo mais de me esconder, contando que eu consiga vencer isso aqui.

—Muito bem, Fox. —Jonas olhou para Fedra, que não tirava os olhos de mim, como se eu fosse uma miragem. Ele a olhou de cima a baixo e então voltou a me encarar. —Vou permitir isso apenas pela sua coragem. Se vencer, prometo que darei ela a você. Mas se perder... —O sorriso dele era cruel e grotesco. —Torça para que não saia vivo desse fosso.

Ele fez um sinal para o ogro, que me agarrou e me arrastou para fora dali. Escutei Jonas gritando com os guardas, tendo um vislumbre dele puxando Fedra para longe antes de eu ser jogado no chão do corredor. Me perguntei se ele poderia fazer algo com ela, com raiva do que eu propus. Mas tentei acreditar que não, por mais difícil que fosse.

[...]

Sebastian desapareceu no momento que fui colocado nas correntes, engolindo todos os gritos que se entalavam na minha garganta enquanto era chicoteado sem parar, por horas seguidas. Nilus fez questão de distribuir as chibatadas em mim, deixando minhas costas em carne viva e meu sangue empoçado no chão aos meus pés.

Durou muito mais do que todas as outras vezes. Não conseguia andar quando eles terminaram, porque a dor estava paralisando todo meu corpo. Fui arrastado até meu canto na caverna, jogado sobre os trapos imundos onde eu dormia e deixado lá. Não ousei me mover quando eles saíram, nem quando senti a serpente se enroscando nas minhas pernas. Apaguei antes de pensar em qualquer coisa.

Quando acordei de novo, minhas costas não doíam mais. A caverna ao meu redor estava tomada pela escuridão e o silêncio persistia. Sebastian estava ao meu lado, escondido entre os panos no chão, na sua forma de serpente. Havia sangue seco no chão e nas minhas roupas, mas minhas costas não sangravam mais.

—Usei poção de cura em você. —Ouvi ele sussurrar em meio a escuridão, parecendo hesitante. —Roubei lá do castelo. Suas costas já estão curadas, mas não consegui trocar suas roupas.

—Obrigado. —Consegui falar, ainda sem me mover.

Tinha medo de fazer isso e acabar me desmanchando ali no chão, porque estava me dando conta do que havia feito. Do que teria que fazer em breve. Meu coração parecia mais pesado dentro do meu peito, enquanto meu sangue parecia gelo puro, queimando minhas veias.

—Ele vai tentar te matar. —Sebastian murmurou, me fazendo fechar os olhos e aperta-los. Ele tinha razão. Ele não estava mentindo.

—Preciso me preparar para a batalha no fosso. —Falei, ignorando a queimação na minha garganta. —Temos que descobrir com quem eu irei lutar. Você precisa ficar pronto para descer até as cavernas embaixo do fosso.

—E se você morrer? —Questionou, soando um pouco preocupado demais.

—Então você sabe onde estão minhas coisas. Pode sair daqui e ser livre. Viver no inferno sem ninguém o caçando. —Afirmei, ignorando o tom apreensivo dele. Não era a hora para ser sentimental. Não éramos nada um do outro para ele se preocupar.

—Fox... —Ele tentou me chamar, mas odiei ouvir o som do meu nome.

—Harper. —O corrigi, ouvindo o som da serpente se aproximando de mim. Mas não olhei pra ele. Não ousei me importar com nada naquele momento, a não ser pensar no que eu precisava fazer. —Se concentre na sua parte, Sebastian, que eu vou me concentrar na minha.

Finalmente me sentei, rangendo os dentes quando meus músculos latejaram como se eu estivesse parado a muito tempo. Tentei ficar de pé, me sentindo muito fraco, a ponto de minha visão ficar embaralhada. Era difícil até mesmo respirar, porque algo estava comprimindo meu interior.

Consegui ficar de pé, sentindo os olhos de Sebastian em mim. Mas não parei até chegar a outra caverna para me banhar. A água fria relaxou meus músculos tensos, enquanto eu lembrava dos olhos de Fedra quando apontei para ela e a reivindiquei pelo desafio. Talvez ela tivesse ideia do porque eu estava fazendo aquilo, ou estava me considerando um completo maluco.

Me limpei e voltei para o meu lugar. Sebastian não estava mais ali, o que me fez suspirar aliviado. Não queria lidar com alguém fazendo perguntas que eu não sabia responder. Não tinha mais tempo pra dúvidas ou hesitação. No momento que pisei naquele fosso, estava condenando a minha vida.


Continua...

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