Bosque dos Sonhos Mortos

Capítulo 69: Estou confiando em você.

Um espetáculo estava acontecendo no fosso aquela noite. Todos estavam ocupados demais se divertindo com a morte alheia para se preocupar comigo entregando lá, dentro do castelo. Faelynn estava comigo, usando sua magia para encantar e afastar os guardar pelo caminho, o deixando livre.

Seguimos direto para a área pessoal de Jonas, onde suas amantes normalmente eram mantidas. Onde Fedra provavelmente estava. O lugar todo estava silencioso demais, como se estivesse vazio. Mas eu sabia que isso era apenas por conta de todos estarem no fosso naquele momento. Mas não Fedra. Tínhamos passado por um corredor e checado. Jonas estava sentado sozinho, rodeado pelos seus bajuladores, mas sem nenhuma das suas amantes.

Sebastian deslizou para o chão, se transformando no garoto que eu estava acostumado, guiando nosso pequeno grupo até onde ficavam os aposentos de Fedra. Faelynn deu certeza de que ela não estava presa em uma cela. Mesmo não conseguindo ver direito, porque o inferno nublava sua magia, ela sabia que Fedra estava em um aposento normal no castelo.

Nos escondemos rapidamente quando dois guardas surgiram no corredor, indo para dentro de um dos aposentos, que por sorte estava completamente vazio. Quando eles desapareceram no corredor e tudo ficou limpo, seguimos pelo corredor, até Sebastian sussurrar que estávamos perto. Eu estava preparado para qualquer coisa, mas esperava não precisar lutar.

Os treinos que Daren me colocou me deixaram mais forte e até mais esperto. Eu estava atento a todos os corredores, entradas e portas, esperando por qualquer ataque surpresa. Ainda usava aquela cinta de facas ao redor da minha cintura. Mas agora, nas minhas costas, haviam duas espadas, cruzadas em um x, com lâminas maiores que o normal.

—É aqui, se ele não tiver a trocado de lugar. —Sebastian sussurrou, parando na frente da porta, com os lábios tremendo em ansiedade, como se estivesse com medo do que iria encontrar lá dentro. Eu não estava com medo, mas estava com meu sangue fervendo de antecipação, pelo momento que iria poder cravar uma lâmina no coração de Jonas.

Olhei para a Faelynn ao meu lado, vendo-a assentir com a cabeça, deixando claro que estava tudo limpo. Estranhei de início, porque tinha a sensação que Jonas não iria deixar Fedra sozinha depois do que o causamos. Eu estava certo no final das contas, porque assim que Sebastian abriu a porta, dois guardas de Jonas surgiram no nosso caminho.

Agarrei uma das facas, mas Sebastian foi mais rápido que eu, se transformando naquela serpente e saltando na direção de um dos machos, cravando seus dentes na garganta dele, enquanto comprimia seu corpo. O outro macho, um peregrino, veio pra cima de nós, mas Faelynn o atingiu com algum tipo de pó que surgiu da sua mão, que o fez cair completamente imóvel no chão.

—Ele só está dormindo. Vai acordar muito em breve. Não podemos demorar. —Afirmou, me lançando um olhar cauteloso, enquanto eu me perguntei porque ela não avisou antes sobre eles, quando claramente sabia.

Mas não tinha tempo pra isso, porque Fedra estava sobre a cama, com os braços acorrentados na cabeceira da cama. Os olhos dela se arregalaram assim que nós viu, antes de se encherem de lágrimas, como se ela não esperasse nos ver ali. Eu e Sebastian avançamos na mesma hora, correndo para soltar aquelas correntes.

—Harper? —Indagou, como se achasse que eu fosse só uma alucinação. Soltei a corrente que a prendia e toquei seu braço, massageando a pele machucada.

—Shhii, eu estou aqui. —Falei, puxando-à pra mim quando Sebastian conseguiu soltar o outro lado. Fedra se agarrou a mim com força, parecendo mais magra, além dos braços estarem cheio de roxos e cortes, que só me deram mais vontade de arrancar a cabeça de Jonas. —Vim buscar você. Vai ficar tudo bem agora.

—Pensei que você não viria. —Sussurrou, e aquelas palavras atingiram meu coração como uma flecha, cravada bem funda. —Pensei que eu nunca mais o veria. Harper, ela o quer morto. Ela colocou sua cabeça a prêmio. Se Jonas souber... se ele o pegar...

—Eu sei. —Engoli em seco ao ver a expressão nervosa e preocupada no rosto de Sebastian, enquanto observava nós dois abraçados. —Mas Jonas não vai colocar as mãos em mim, Fedra. Sou eu quem vai colocar as mãos nele.

Ela se afastou para me encarar, tentando entender o que eu queria dizer com aquilo. Deixei que Sebastian a abraçasse e depois me ajudasse a tirá-la da cama. Faelynn já estava segurando uma capa, que jogou sobre os ombros de Fedra. Acho que ela ainda estava absorvendo o que eu havia dito, porque não questionou a presença da estrela, além de ficar me olhando.

—Você fez outro acordo com Hunter. —Fedra constatou, provavelmente se lembrando da conversa que nós dois tínhamos tido com Daren. Quando não respondi, ela se afastou de Sebastian e parou na minha frente, com uma expressão resignada. —Fez ou não fez?

—Não é hora pra falarmos sobre isso, Fedra. Vim até aqui para recuperá-la. Faelynn vai levá-la até onde o navio de Daren está. —Afirmei, enquanto via ela desviar os olhos para as espadas nas minhas costas e para as facas na minha cintura. —Tenho um trabalho a fazer. Não por Hunter. Por mim mesmo. Por todos nós.

—Por que você nunca divide seus planos comigo? —Questionou, abraçando o próprio corpo frágil, enquanto um gosto amargo tomava conta da minha boca. —Você se entregou a Hunter de boa vontade. Quem me garante que não vai fazer isso com Jonas agora também?

—Jonas só tinha uma coisa que eu queria, que era você. Mas você está comigo agora. Não tenho porque me entregar a ele. —Falei, vendo o medo que estava marcando os olhos marejados de Fedra. Me aproximei dela, tocando sua bochecha. —Eu não contei antes, porque sabia que tentaria me impedir. Mas eu precisei fazer aquilo por Sebastian. Eu só não esperava que a morte fosse buscá-la e que você acabasse nas mãos de Jonas de novo.

—Tenho a sensação que vou perder você, Harper. —Fedra sussurrou, enquanto sua testa encostava na minha e ela fechava os olhos, deixando as lágrimas escorrerem pelas bochechas. —E você sabe disso, mas está agindo como se não fosse nada. Como se eu estivesse enganada.

—Pois não deveria ter essa sensação. Esqueceu que o que eu mais desejo é viver? —Falei, abrindo um sorriso com o quão fácil aquela mentira saiu pela minha boca. Era uma verdade antes. Mas não mais. Não agora.

Fedra abriu os olhos e me encarou, buscando a verdade nas minhas palavras. Deslizei a mão até a nuca dela e a beijei, sabendo que aquilo talvez a desse alguma certeza. A beijei com toda a raiva que existia dentro de mim, antes de me afastar quando Sebastian se aproximou de nós dois. Fedra ainda estava olhando pra mim, mas passou o braço ao redor dos ombros do garoto. E ali, bem na minha frente, estava a verdade sobre o que eu mais desejava.

—Você vai voltar para o navio com elas. —Afirmei, observando Sebastian negar com a cabeça na mesma hora.

—Eu vou com você. Eu posso te ajudar. —Sebastian exclamou, enquanto eu lançava um olhar a estrela, vendo-a me olhar como se prometesse levar os dois até o navio, sem que nada de ruim acontecesse.

—Estou confiando em você. —Falei pra ela, ignorando os protestos de Sebastian, que agora agarrava meu braço, insistindo que iria comigo. —Estou confiando os dois a você. Por favor, não me decepcione.

—Eu não vou. —A estrela afirmou, estendendo a mão na direção de Fedra.

Fedra hesitou, olhando pra mim como se seu coração estivesse se partindo, antes de ir até Faelynn e segurar sua mão. Sebastian ainda estava do meu lado, me encarando com uma expressão determinada. Mas eu não podia colocá-lo em risco. Se tudo desse certo, ele estaria com o irmão em breve.

Puxei a espada quando a porta se abriu de repente, e o quarto foi tomado por guardas de Jonas. Faelynn puxou Fedra para trás dela, enquanto eu agarrava Sebastian e o puxava para perto de mim. Eles nos cercaram rápido demais para que eu pudesse fazer alguma coisa, enquanto nos quatro ficamos juntos no centro do cômodo.

—Espero que vocês não tenham a pretenção de ir embora sem antes falar comigo. Seria uma falta de respeito tremenda. —Jonas entrou nos aposentos, com um sorriso enorme no rosto, parecendo não estar nem um pouco surpreso com a minha presença ali. —Que bom que voltou pra sua casa, Harper. Um escravo nunca se esquece de onde veio, não é?

Olhei para trás dele, vendo Sadie surgir ali, com um cálice de sangue na mão. Ela sorriu pra mim, antes de erguer o cálice como se estivesse fazendo um brinde a mim. Só então percebi o que estava acontecendo. Só então percebi que Hunter tinha feito uma jogada e vencido.

Continua...