Capítulo 12: Ela parece ser humana.

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Dei um passo para dentro da escuridão da caverna, olhando pela pequena abertura na parede, com medo de que a morte pudesse me ver ali. Pudesse ver através das minhas roupas, mesmo que Sebastian tivesse se escondido por completo com a sua aparição.

Skyler teve a decência de parecer afetada com o comentário, fazendo uma leve reverência a morte, assim como todos os outros que estavam assistindo a batalha no fosse segundos antes. Um calafrio percorreu meu corpo quando a morte olhou ao redor, o sorriso se tornando feroz.

—Que carinhas são essas? Estão tristes porque nossa querida Skyler conseguiu vencer essa pobre criatura? —Ela soltou uma risadinha, colocando o sapato sobre o corpo morto do devorador, sem se preocupar com o sangue negro que manchava a saia do seu vestido. —Vocês estão indo tão mal nesse desafio que isso chega a ser um alívio. Pelo menos alguém aqui está lutando de verdade por isso.

—Daremos a ela tudo que ela quiser, minha rainha. —Jonas afirmou, me fazendo girar o rosto para encara-lo. Seus lábios estavam comprimidos, enquanto ele tentava não demonstrar a infelicidade por ver a morte ali e por Skyler ter conseguido matar a criatura. —É uma honra receber a sua visita.

—É claro que é. —A morte retrucou, estalando a língua. —Apesar de estar sendo entediante ver todos que estão tentando morrerem. Alguns de vocês não tem senso de diversão. Pensei que ia seria mais divertido.

—Apenas mais algumas almas para suas mãos governarem. —Jonas sorriu pra ela, mesmo que eu pudesse ver a sombra da incerteza em seus olhos, depois de ouvir o que ela disse. Ninguém sabia o que acontecia com aqueles que entravam na caverna lá embaixo. Mas agora eles tinham certeza que todos estavam mortos. Todos menos eu e Sebastian.

—Faça esse jogo parecer bom pra mim, Jonas. —Ela lançou a ele um olhar afiado que poderia reduzi-lo a nada. —Ou vou pegar de volta todos os meus presentes.

Ela sumiu em um piscar de olhos, enquanto suas últimas palavras giravam na minha cabeça como a luz do sol no meio da escuridão. Sai daquele lugar, repassando todas as palavras dela quando soltou o desafio, assim como o que havia acabado de dizer agora. Só ela sabia quem era a sereia. Só ela poderia revelar a direção certa de ir.

—O que foi? —Sebastian indagou quando parei em um corredor vazio, esfregando a testa com força para clarear as ideias.

—Jonas tem quatro amantes. —Falei, umedecendo os lábios com a língua. —No dia do desafio, a quarta não estava presente. Hoje ela estava lá. Elas são presentes que a morte deu a ele.

—Uma delas é a sereia. —Sebastian constatou, parecendo ler meus pensamentos. —Acha que é a quarta que não estava lá no dia?

—Talvez, ou qualquer uma das outras três. —Falei, lembrando que a morte havia perguntado sobre a quarta quando viu que ela não estava presente. —Tenho um trabalho pra você, Sebastian. —Sua cabeça serpenteou para fora da minha camisa e seus olhos enormes me encararam. —Vá lá pra cima e descubra tudo que puder sobre cada uma delas. Não seja visto. Não vou resgatar você se for pego.

[...]

Houve mais uma batalha naquele dia, com Kaled, do Vale das Estrelas Perdidas, sendo colocado para lutar com três lobos negros. Lutar com criaturas das sombras era ruim, mas com três delas era pior ainda. Ele não morreu, além de conseguir matar dois deles e cortar as patas do terceiro, antes de desabar no chão em uma poça do próprio sangue, sendo arrastando para fora do fosso pelos companheiros de território.

Jonas não deu a vitória a ele, mesmo sobre protestos. Ouvi os guardas comentando sobre as batalhas de amanhã. Mais dois deles iriam tentar. Comecei a me perguntar se os governantes iriam mandar mais dois campeões, além de Skyler e Kaled, até descobrir que eles não eram de nenhum dos territórios principais.

Hunter havia dado sua cartada, enviando o próprio campeão. Aposto que ele havia dado ao seu campeão as mesmas dicas que deu pra mim e mais. A diferença é que ele provavelmente esperava vê-lo inteiro, diferente de esperar que eu morresse tentando descobrir onde está a sereia. Ele me ajudou e eu não morri no final das contas. Seu campeão se chamava Khan e eu fiz questão de gravar esse nome, para ficar bem longe dele.

A segunda batalha de amanhã seria de Lacey, um tritão das ruínas do submundo, o território dos sereianos. Considero ele meu maior concorrente, porque tenho apostado que ele pode reconhecer a sereia se a vir, mesmo que na forma humana. Mas também estava torcendo para ter um pouco de sorte e ele não fazer qualquer ideia de quem ela seja.

Não sei com quem os dois vão lutar, mas também não estou interessado em descobrir. Enquanto Sebastian se arriscava para descobrir algo lá em cima, minha cabeça estava ocupada em bolar vários planos que poderiam me colocar frente a frente com uma de suas amantes. Ninguém tinha autorização para vê-las sozinhas e muito menos tocar nelas. Elas eram propriedade de Jonas e qualquer um que ultrapassassem isso, era morto.

Mas talvez existisse uma forma de chegar até elas. Até a sereia, se Sebastian conseguisse descobrir quem ela é. Mas isso também me colocaria de vez dentro desse lugar e a vista de todos. Não só dos guardas, mas de Jonas, todos os sangue nobre e os outros competidores. Pensar que já estou morto nesse lugar, mesmo com o coração batendo, é a coragem que preciso para decidir.

—Harper? —Olhei para o chão, encarando os olhos da serpente que se arrastava pelo chão imundo até os meus pés, com a língua cortando o ar. Sebastian estava na minha frente no segundo seguinte, na sua forma humana sendo bem mais agradável de se olhar que a outra. —Segui cada uma delas. Layla, a de pele negra, é uma vampira. Cora, a de cabelos escuros, é uma elfa. A ruiva...

Ele hesitou, como se não se lembrasse o nome dela, franzindo a testa por alguns segundos.

—Mira. —Falei, vendo ele balançar a cabeça que sim e limpar a garganta.

—Isso, Mira. Ela é uma fada da luz. Mas Jonas esconde o que ela é dos outros usando magia. E ela não parece se agradar muito com isso. —Sebastain torceu os lábios, com uma expressão tensa. —Mas a sua, parece humana até demais.

—Minha? —Sibilei, vendo ele rir e engolir em seco.

—Fedra. Ela parece ser humana. Mas não é real. —Ele apontou para si mesmo. —Sei disso porque eu mesmo finjo ser algo que não sou. Se pudesse chutar, diria que é ela.



Continua...

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