Capítulo 80: Quero seus ossos como troféu.

239 83 40
                                    

Todos que estavam ali começaram a correr quando as garras surgiram das minhas mãos. Fechei meus olhos quando Hunter disparou para longe, como um covarde, enquanto aquela besta escondida sobre a minha pele se revelada. A transformação foi esquisita e rápida. Aquela criatura simplesmente explodiu de dentro de mim, fazendo o trono voar até a parede e se despedaçar.

Senti uma fisgada na coluna com o peso de longas asas que se abriram, enquanto a criatura tomava o controle do meu corpo. Escamas que pareciam com as de dragão cobriram meu corpo, com um tom parecido com cinzas de uma fogueira. As garras cresceram até minhas mãos desaparecem, enquanto os músculos se dobravam dentro de mim, fortalecendo minhas costas para suportar o peso do meu corpo com as asas.

A besta tinha a cabeça arredondada, com chifres longos e negros despontando do meio das orelhas, enquanto uma cauda chicoteava o ar atrás de mim, com uma ponta tão afiada quanto a lamina de uma espada. Tentei manter o controle da minha mente, mas tudo que eu sentia era o desejo por todas aquelas almas que corriam tentando sair dali.

Um verdadeiro espetáculo, pensei, antes de libertar aquela criatura do meu controle e deixa-la ir em busca daquilo que mais queria. O chão rachou sobre meus pés quando saltei, atingindo quem estava no caminho com aquelas garras, enquanto lançava outros contra as paredes e para dentro do fosso com a cauda. Desejei todas aquelas almas e senti quando elas eram trazidas até mim, fazendo minha sede aumentar e o poder crescer.

Saltei de uma varanda para a outra, batendo aquelas asas enquanto a boca da criatura se abria e estraçalhava quem conseguia alcançar. O cheiro de sangue preencheu tudo, nublando a minha visão com a morte. Se Fedra me visse naquele momento, ela ficaria enojada. Se Sebastian me visse, ele teria pesadelos. Mas fiz o que precisava fazer, roubando e devorando a alma de todos que não conseguiam fugir.

Quando cheguei aos corredores, matei todos aqueles guardas que eu havia gravado os rostos. Aqueles que me chicoteavam e menosprezavam. Que gostavam de ver o sofrimento dos escravos tanto quanto os outros de sangue nobre. Estraçalhei seus corpos pelo caminho, destruindo parte do castelo no processo. Tinha mais força do que era capaz de controlar. Um salto por uma parede e ela se desfez em escombros.

Quando cheguei até as cavernas lá embaixo, as garras afundaram no chão quando encarei Nilus, o peregrino encarregado dos escravos. Aquele que havia me deixado com fome e sede por muitas noites. Que havia me chicoteado até eu desmaiar de dor, com as costas escorrendo sangue. Ele era poderoso como peregrino, mas sabia que não conseguiria bater de frente contra um demônio.

—Harper? —Nilus exclamou, parecendo surpreso quando a criatura explodiu em milhares de corvos e então eu apareci de novo. Lancei a ele um sorriso de escárnio, lançando meu poder contra o dele com um pensamento, quando senti que ele estava tentando usar o dele para me controlar.

—Algum troféu hoje, Nilus? —Indaguei, cheio de sarcasmo, vendo o medo que surgiu nos olhos dele quando reconheceu aquela maldita frase. —Quero seus ossos como troféu, por cada ano que passei aqui.

—Seu escravo imundo! —Ele rosnou, antes daquela besta explodir de dentro de mim quando disparei na direção dele. A boca da criatura afundou na garganta do peregrino, a arrancando do seu corpo. Fiz isso com cada guarda que tentou me parar, até arrombar aquelas grades que estavam entre mim e os escravos.

Quando entrei naquela onde todos dormiam, como bichos enjaulados, voltei a ser apenas o Harper, ajudando-os a sair dali e ficarem livres. Soltei todas as crianças que estavam nas celas, guiando-as pelo caminho certo. Eles correram para fora daquelas cavernas, desviando dos corpos dos guardas pelo caminho.

Quando fiquei sozinho, caminhei até o pequeno canto onde costumava dormir, sentindo o doce sabor da vingança na ponta da minha língua. Não conseguia ver meu reflexo no espelho, assim como nunca conseguia ver Daren por um. Mas podia ver pelas águas que se acumulavam no chão, brilhando pela luz das tochas. Eu tinha me tornado um monstro.

—Acho que eu deveria ter bebido seu sangue quando tive a chance. —Sadie sussurrou do meio da escuridão, antes do ar se mover atrás de mim quando ela surgiu em um piscar de olhos tentando morder meu pescoço.

Mas ela tropeçou para trás quando tudo que encontrou foi corvos, voando contra aquele teto rochoso, antes de se lançarem contra ela. Agarrei a garganta dela assim que me transformei de novo, sentindo o poder pulsando dentro de mim, vendo-a engolir muito lentamente quando esmaguei sua garganta, até escutar o som do osso se quebrando. Como sabia que ela se curaria se a deixasse daquele jeito, arranquei a cabeça do corpo, antes de virar as costas e ir atrás da última alma que eu queria.

Não precisei ir muito longe, porque Hunter estava dentro do fosso, encarando as paredes e o chão sujos de sangue. Quando caminhei para dentro do fosso, ele se virou para olhar pra mim, parecendo saber que não iria sair inteiro daquele lugar. Eu poderia queimar no inferno pelo resto da minha eternidade, mas destruiria todos eles no processo.

—Daren trouxe você dos mortos. —Hunter constatou, balançando a cabeça negativamente, como se aquilo fosse bem a cara dele. —Pensei que tínhamos conseguido o que queríamos, Harper. Você libertou sua amada e aquele yatori, enquanto eu tinha me trono.

—Não consegui o que queria, porque ainda estou preso aqui, com todos vocês. —Falei, estalando a língua e negando com a cabeça. —Se vou ficar preso no inferno, então você também não vai ter o que deseja.

—Você me enganou primeiro. —Hunter se apressou em dizer, quando dei um passo na direção dele. —Eu só quis te dar o troco. Além do mais, a morte não vai gostar do que fez aqui, matando todos eles.

—E quem disse que eu estou preocupado com o que ela vai gostar ou não? —Indaguei, observando Hunter se preparar para me lançar algum feitiço quando me ouviu.

Mas eu já tinha disparado na direção dele, o agarrando e o lançando contra a parede, que afundou com a força que eu usei. Hunter gritou quando esmaguei seus ossos, antes da magia queimar com tanta força nas minhas mãos que Hunter se desfez em cinzas nos meus pés em um piscar de olhos.

Puxei o ar com força, deixando minhas mãos caírem ao lado do corpo, enquanto encarava as rachaduras na parte afundada da parede, onde Hunter estava segundos atrás. A magia desapareceu de dentro de mim, quando forcei aquela besta para o fundo da minha mente, abafando o desejo dela de voltar.

—Que cela espetacular. —Escutei a voz de Adya atrás de mim, antes de ela começar a bater palmas. Me virei para encara-la, vendo-a me observar com um sorriso falso, que transparecia sua raiva. —Terminou o seu show, Harper?

—Só vou terminar depois que destruir seus outros dois territórios. —Afirmei, vendo os lábios dela tremerem como se ela estivesse tentando se controlar.

—Daren ainda vai me pagar caro pelo que fez. Nenhuma ação sai empune comigo. —Prometeu, fazendo uma risada escapar pelos meus lábios.

—Pode fazer o que quiser comigo, Adya. Nada será pior do que tudo que já passei nesse lugar. —Falei, observando ela rir e negar com a cabeça, como se eu estivesse contando alguma piada. Mas subitamente Adya ficou tensa, olhando para qualquer lugar menos pra mim. Sua expressão endureceu e ela soltou um barulho de escárnio com os lábios.

—Achei que minha casa fosse nojenta demais pra você, irmã. —Adya rosnou, antes de uma fêmea surgir atrás dela, fazendo a respiração se prender na minha garganta quando a reconheci na mesma hora.



Continua...

Bosque dos Sonhos Mortos Onde histórias criam vida. Descubra agora