Capítulo 41: Precisamos de um mapa.

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Não fechei os olhos um único segundo sequer, me obrigando a observar cada canto da floresta. Não sabia quanto tempo tinha passado, mas dei tempo o suficiente para que Fedra e Sebastian dormissem. Como ali nunca ficava claro, era difícil saber quando era dia e quando era noite. Mas os acordei em algum momento para que seguíssemos viagem. Quanto mais andássemos, mais longe de Hunter ficávamos.

Fedra parecia mais calma e estava conversando normalmente com Sebastian, já que era eu quem estava em silêncio o tempo todo. Mas eu precisava me concentrar ou iriamos acabar ficando perdidos naquela floresta. Tudo estava calmo por enquanto, mas eu não conseguia imaginar quanta sorte teríamos, antes de alguém ou alguma coisa nos encontrar.

—Pra onde estamos indo? —Sebastian se apressou para caminhar ao meu lado, fazendo mais barulho do que deveria. —Você não nos disse nada. Estamos indo para essa tal sala do tesouro? Você sabe onde fica?

—Não, não sei. Precisamos de um mapa para saber onde ela fica. —Afirmei, erguendo a mão e passando pelos meus cabelos, que já estavam grandes demais e precisando de um novo corte. —Existe um lugar nessa floresta. Um tipo de mercado onde várias pessoas se reúnem. Já ouvi falar sobre ele quando ainda era um escravo. Estou tentando nos levar até lá, onde poderemos encontrar um mapa.

—Não é arriscado demais? —Fedra questionou, me lançando um olhar tão intenso que o calor subiu pelo meu corpo, quando me obriguei a desviar os olhos dela para não acabar caindo de joelhos na sua frente. —Jonas está caçando você, Harper.

—Eu sei. Ele não é o único agora, certo? —Ri sem humor, esfregando a testa para tentar pensar direito. —Mas essa é a opção que temos. Conheço alguém que é desse lugar, que visitou o castelo de Jonas para ver os espetáculos no fosso. Vendi e comprei algumas coisas dele. Talvez se eu o encontrar ele possa me ajudar. Sei que ele tem algumas pendencias com Hunter e posso usar isso ao meu favor.

—E se ele considerar que não é uma boa ideia ajudar você? —Sebastian estava parado na minha frente com as sobrancelhas erguidas, como se aquilo fosse muito arriscado. Mas tudo que fiz até ali era arriscado e por algum motivo eu ainda estava vivo, indo mais longe do que imaginei que conseguiria. —Como sabe como chegar a esse lugar?

—Olhe com atenção para as folhas das árvores. —Me inclinei ao lado de Sebastian, segurando o queixo dele e o fazendo olhar para um dos milhares de arbustos que havia ali, entre aqueles cogumelos gigantes.

Em uma das folhas mais escondida, algo cintilante surgia e desparecia com o passar dos segundos. O desenho de uma cabeça de javali, com uma faca cravada na cabeça. Era pequeno e muito bem escondido, para que apenas aqueles mais atentos que sabiam onde procurar o encontrasse. Estavam espalhados por toda a floresta, mostrando o caminho para um mercado tão imundo quanto o restante desse lugar.

—Viu? Siga os símbolos e então estaremos lá em algum momento. —Falei, vendo Sebastian olhar fixamente para o ponto onde eu falava, podendo ver o símbolo que estava na folha, antes dele desparecer de novo. —Vamos continuar. Não acho que estejamos nem perto de chegar lá.

Sebastian assentiu, seguindo na minha frente dessa vez, enquanto olhava atentamente para cada folha no caminho, como se aquilo tivesse roubado toda sua atenção. Fiquei feliz, porque pelo menos ele estava sendo mais silencioso do que nas últimas horas. Mas também fiquei tenso, porque Fedra se aproximou de mim e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

Olhei pra ela por um momento, observando o sorriso pequeno que estava nos seus lábios quando apertou minha mão, deslizando o polegar pelos meus dedos. Nenhum de nós disse nada e eu também não a afastei, apenas voltei a olhar pra frente e continuei a andar, muito ciente do calor da mão dela contra a minha. Parecia que a noite de ontem havia rachado a barreira que havia entre nós dois e eu estava com medo do que ia acontecer quando ela caísse de vez.

[...]

Não sei em que momento chegamos de fato, mas senti quando a floresta ficou diferente ao meu redor. Os cogumelos pareciam mais vivos e iluminados do que antes, pelo excesso de magia naquele lugar. O silêncio desaparecia, dando lugar ao som dos corvos que se escondiam pelas partes mais escuras da floresta.

Apertei a mão de Fedra, que continuava contra a minha. Não falamos nada sobre isso ou sobre ontem durante a caminhada, mas Fedra não soltou minha mão um segundo sequer. Nem mesmo quando Sebastian viu esse pequeno ato e sorriu, me fazendo comprimir os lábios e suspirar pesado, desejando que ele não abrisse a boca para comentar o que estava passando pela sua cabeça.

Mas o puxei mais para perto de Fedra e eu quando nos aproximamos do imenso cogumelo, que tinham o dobro do tamanho dos outros que ocupavam a floresta. Suas cores também eram diferentes, com tons de preto e verde. No centro da estipe, a estrutura de sustentação do cogumelo, havia uma porta de madeira, com o topo em formato de arco. O desenho da faca cravada na cabeça do javali marcava a madeira bem no centro.

—Seb? —Fedra sussurrou, tocando o ombro de Sebastian com a mão. Olhei para os dois, absorvendo o tom doce e carinhoso que ela o chamou, antes de acenar com a cabeça pra ele. Sebastian se transformou na mesma hora, enquanto eu engolia em seco quando ele rastejou até mim e se escondeu dentro das minhas roupas, subindo até estar enrolado no meu tronco.

—Desconfortável ainda? —A serpente indagou, mas eu podia sentir o toque de bom humor na voz dele, como se isso o divertisse.

—Apenas fique quieto. —Resmunguei pra ele, ouvindo sua risada e sentindo suas escamas frias contra minha pele quente, me causando um calafrio, antes de eu caminhar até a porta ao lado de Fedra.

Encarei o desenho do javali, antes de apertar meus lábios e então erguer a mão para bater na porta. O segundo se passou lentamente, enquanto eu checava as facas presas na minha cintura. Estavam todas lá, mas eu esperava não ser obrigado a usar qualquer uma delas. Um pouco de sossego seria muito bem vindo depois de tudo que aconteceu.

—Sim? —Uma pequena janela foi aberta na parte de cima da porta, com os olhos amarelos de um bruxo averiguando eu e Fedra, como dois estranhos que poderiam causar problemas. A puxei para mais perto de mim involuntariamente, enquanto puxava quatro moedas do bolso e mostrava ao bruxo.

—Estou aqui pra falar com Daren. —Afirmei, vendo os olhos do bruxo se acenderem como duas tochas ao ouvir o nome, antes da porta se abrir e ele arrancar as moedas da minha mão, dando uma boa olhada em Fedra, que estava mais ocupada espiando para dentro daquele lugar.

—Seja bem-vindo, Fox Harper. —O tom veio repleto de sarcasmo quando gesticulou para que eu entrassem. —Daren imaginou que viria.


Continua...

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