1- Uma estranha

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11/07/2018

Luxemburgo é com certeza uma escolha peculiar para morar, desde que minha mãe encontrou um cara aqui, não para de falar que o lugar é maravilhoso. Não sei se concordo com a parte do "maravilhoso", mas tenho que admitir, não é o pior. É um país desenvolvido, limpo, tem festas legais e baladas boas.

Mas o que mais tem é gente vendendo drogas, viciados em apostas, velhos ricos safados e um motel público; reviro os olhos ao ver as pessoas se pegando, no canto da rua.

Sinto a brisa gelada bater contra meu rosto, fazendo um arrepio se formar em minhas entranhas. Caminho sobre as ruas da cidade, pensando e refletindo sobre a vida, bom...sobre esse fiasco na qual dizem que tenho que ser grato.

Caminho pela grama na frente de um lago, com visão para uma grande ponte. Sento-me, em uma rocha grande e com partes planificadas, admirando a estrutura totalmente vazia à minha frente. Não há nenhum movimento de carros, ou pessoas, apenas o silêncio e sua extensão baldia.
Suspiro fundo, puxando uma grande lufada de ar e solto imediatamente, ao vir flashbacks dos gritos de Jennifer em minha cabeça. Seus gritos por socorro e pavor ao me olhar, ainda atormentam meus pensamentos.

— não pretende pular, né? — ouço uma voz feminina preencher meus ouvidos e me recuso a virar para olhar.

— por que acha isso? — pergunto ao ver uma menina de cabelos pretos cumpridos, se sentar um pouco distante à mim.

— Não sei. Geralmente não tem muitas pessoas à não ser suicidas aqui — fala, olhando para a grande ponte — além do mais, você está olhando muito — diz despreocupadamente.

— você está aqui — observo. É um pouco curioso o fato de não vir muitas pessoas sem ser suicidas e a mesma estar aqui, e ainda agir com naturalidade à respeito.

— Sim. Estou — reforça, encostando as costas na pedra, alheia à minha presença talvez ser um perigo — não costumo ser suicida, já você...? — questiona.

— costuma se intrometer na vida dos outros? — retribuo de forma seca, ainda entretido com o lago.

— só quando parecem mais fodidos que eu! — murmura irrelevante e eu sorri, tendo certeza de que ela não viu.

Ela está certa, eu estou realmente fodido, meus pensamentos estão conturbados e sem sossego. Desde que meus poderes apareceram, ou seja, antes dos meus cinco anos; minha mãe, amigos ou qualquer pessoa ao meu redor me temem, ou me julgam por tudo o que faço. Ainda mais os que descobrem o que eu sou. Ser um demônio é superestimado pelos humanos, é como se eu fosse perder meu tempo cuidando da vida ou pecado dos outros.

— mas e você? — pergunto.

— eu o quê? — vira o rosto em minha direção, me dando visão dela.
Seu rosto é bem desenhado e delicado; olhar amendoado que reflete a luz natural da lua; cabelos pretos e lisos caindo sobre seu rosto, dissolvendo pelos ombros.

— pretende pular? — minha pergunta soa direta.

— hum...não! — responde, após pensar um pouco — apenas gosto de vir aqui, quando me sinto sufocada.

— deve vir com frequência — acuso.

— fato! — me lança um sorriso.

— Agora estou curioso. Não deve ser tão ruim, já que pareço mais fodido... — insinuo. Ela mexe os ombros, em talvez.

— conto, se você contar! — cruza as pernas, afagando a calça jeans. Uma proposta tentadora. Assinto. Pronto para ouvir o que à aflige tanto.

— briguei com a pessoa mais importante para mim e por motivos...— parece procurar a palavra certa — bobos. — concluí.
    Me sinto culpada, mas não errada — posso sentir em seu tom de voz, angústia e raiva a tomando.

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