Sinfonia Elemental

Prólogo.

FOGO 火

DESDE muito antes de nascer, Madison sempre foi muito querida pela família. O sonho de sua mãe era ter uma princesinha para alegrar ainda mais seus dias, pois engravidar era um desejo antigo e adormecido seu. E após muitas tentativas, desempenhando uma série de exames, a mulher finalmente conseguiu realizá-lo. Quando a notícia de sua gravidez foi espalhada por toda a família, todos celebraram a vida da pequena Madison Flowers, que formava-se em seu ventre.

A condição financeira de toda a família de Madison era considerada boa demais para os padrões da região, em outras palavras, faziam parte da elite local. Seu pai, Robbert Flowers, era arquiteto corporativo, e sua mãe era designer de interiores de grandes empresas. Por isso, viviam confortavelmente em uma casa grande o suficiente para a sua família, mesmo que alguns quartos e cômodos ficassem um tanto quanto vazios. Gostavam do conforto em misto ao luxo, mas não esbanjavam tanto dinheiro assim.

Obviamente para os pais da menina a condição financeira da família era como a de qualquer outro cidadão de São Francisco, como se fossem apenas mais um casal da cidade com um dinheiro razoável, o que não era bem uma mentira. Sempre foram muito modestos, como se não se importassem com aquele fato. Dinheiro e luxo não eram seus objetivos, mas saúde e família sim.

Para os pais de Madison, dinheiro não era nada além de simples cédulas de papel.

Depois de um tempo de gravidez, os exames da mãe da garota começaram a indicar algumas pequenas surpresas para o casal, e o resultado disso tudo era uma gravidez de gêmeos. MinJi, a mãe de - agora - duas lindas meninas, não podia estar mais feliz com isso. As duas estavam sendo ansiosamente aguardadas por toda a família, como se fossem um lindo milagre para o casal, o que de fato era visto como um, devido as tantas baterias de exame de fertilização e tentativas em vão.

A família de MinJi tinha descendência sul-coreana, apesar da própria ser estadunidense, enquanto a de Robbert era puramente estadunidense. Os parentes mais distantes de MinJi vieram de Seoul para aguardar o nascimento das novas integrantes da família, colaborando com o suporte da mamãe Flowers, enquanto os familiares de Robbert providenciaram o enxoval, os móveis e brinquedinhos para ambas as garotinhas.

No dia trinta e um de outubro, a senhora Flowers começou a sentir contrações muito fortes e seu marido acordou assustado com os gritos contidos de dor e inquietação da mesma. A mulher revirava-se por inteira, sentindo aquela dor tão terrível sobre a cama, tendo uma de suas mãos em seu ventre e implorando para que aquilo parasse. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, enfatizando mais ainda como a dor era forte. Robbert, desesperado com a dor de sua amada, liga para a emergência.

Ao chegar no grande hospital particular no qual foi feito todo o acompanhamento da gravidez da mulher, ela foi rapidamente socorrida e levada para a área de emergência cirúrgica. Como era urgente, o pai das doces crianças aguardava no saguão de recepção na qual fora designado a esperar, pois a entrada fora restrita. A ansiedade corria por todo o corpo do grande homem e fazia o mesmo andar para todos os lados da área, apenas aguardando algum médico ou alguma enfermeira mandar notícias.

Depois de algumas horas, um dos médicos que havia entrado com sua esposa para a sala de cirurgia saiu de um dos elevadores, nitidamente cansado. Ele ainda trajava a proteção higiênica que um cirurgião precisa para operar, mas estava sem as luvas, sem o avental e sem sua máscara. Não havia sinal algum de sangue. O homem se levantou de sua poltrona para ir diretamente até o cirurgião, que exibia um semblante abatido e, de certa forma, frustrado.

— E então, doutor? Como estão minhas adoráveis garotas? — Robbert perguntou, esboçando um sorriso esperançoso.

O médico suspirou, pensativo. Era profissional o suficiente para repassar a informação liberada pela finalização da cirurgia, e já havia feito aquilo diversas vezes.