Capítulo 17 - Que o vento leve. Leve

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Sam ficou por alguns instantes olhando para o menino e para as máquinas.Talvez ele voltasse, talvez ele ainda tivesse forças, talvez... Nesse momento Heng entra correndo no quarto pois ele também sabia o que significava aquele barulho contínuo. Olhou para Sam que continuava de mãos dadas com Peter e dizia:

- Vamos filho, aguente só mais um pouco. Você viu a foto do seu quarto não é? E essa pipa colorida que você tanto queria para ir ao parque, hein? E ainda vamos voar bem alto, lembra? - Sam aperta e esfrega com força e agonia as mãos do menino sem vida em meio a lágrimas que molhavam todo lençol.

- Sam, vem comigo. Ele se foi amiga, vamos...

- NÃO! Me solte! Você não entende Heng? Nós estávamos combinando um monte de coisas, nós.. nós...

- Amiga, eu sinto muito, você sabe que fizemos o possível - diz Heng.

- Pois teriam que fazer o impossível Heng! Ele é meu filho, meu filho! - Sam saiu correndo do quarto com o peito cheio de mágoa, raiva e desespero, sumindo pelos corredores do hospital com a pipa colorida nas mãos.

- O doutor quer que procuremos por ela? - pergunta uma enfermeira.

- Não, ela precisa ficar sozinha com essa dor, precisa sentir tudo isso para entender. Deixe ela.

Mon

Como o encontro com o cliente era somente no final do dia, Mon vai ao hospital às 15h30. Ela precisava tirar aquele peso de ter obedecido Tee mesmo sabendo o quão nojenta e suja foi aquela proposta. Na recepção fala com a atendente:

- Eu gostaria de falar com o diretor do hospital, diga que é a doutora Kornkamon, advogada.

- Um momento por favor - a atendente faz uma ligação, olha de relance para Mon e desliga o telefone dizendo:

-  A doutora pode subir. Sabe onde fica a sala dele?

- Sei sim. Obrigada - Mon se encaminhou para o elevador lembrando do pequeno Bernardo, sua mãe Laura e toda confusão baseada no dogma de uma religião que culminou na morte do menino.

Chegou na porta do diretor, bateu três vezes e ouviu a voz do chefe:"entre".

- Olá doutor Thahan, obrigada por me receber.

- Não por isso, mas confesso que estou curioso para saber o que a traz de volta ao hospital. As acusações não foram retiradas?

- Sim, claro. O hospital e o doutor Heng não tem com o que se preocupar. Na verdade eu vim por conta própria para me desculpar.

- Se desculpar? - fala sem entender o diretor.

- Sim. Pelo ocorrido com o caso do senhor Arthur e tudo mais. Eu me senti muito mal, na verdade, enojada com a proposta que fiz naquela reunião. A ideia toda foi da dona da empresa, a doutora Tee, porém eu também tive minha parcela de culpa. Eu poderia ter me recusado a cumprir essa ordem, mas não o fiz. Me desculpe por isso.

- Entendi. A doutora Tee sabe que a doutora está aqui hoje?

- Eu pedi demissão. Saí da empresa logo após o caso do senhor Arthur ter sido encerrado. Decidi que não posso trabalhar em um lugar que toma decisões que vão contra meus princípios. Quando eu me formei, jurei que trabalharia para condenar os culpados e defender os inocentes, essa é minha função. A advocacia está no meu sangue assim como fazer de tudo para que seja feita a justiça, nada além disso.

- Confesso que estou surpreso com tudo isso, mas preciso lhe dizer que admiro pessoas que admitem erros e principalmente, tem coragem para se desculpar. Doutora, acabou de ganhar um admirador.

O vôo das borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora