Capítulo 20 - A faxina

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Mon

Mon entra no carro e sente como se tivesse acabado de fugir de um grande perigo. Ao mesmo tempo que queria ficar, queria sair de perto, isso era muito confuso para sua mente sempre tão lógica. Sam, que coisa improvável. Quais as chances de se trombar numa ciclovia e ainda por cima cuidar dos ferimentos na casa dela, tocar em sua pele, sentir o toque da médica em seus cabelos e os olhares que fizeram Mon esquecer até seu próprio nome durante aqueles segundos?

A verdade é que desde que consolou Sam quando Peter morreu, Mon sentiu um carinho, uma conexão sem sentido. Mas ela associou isso à situação trágica e por Sam estar fragilizada. Hoje ela viu que não era tão simples assim, tanto que teve o gesto ousado de deixar seu telefone. Deu partida no carro e pegou o caminho de casa.

- Oi mãe, oi Nop. To quase atrasada para a reunião com o senhor Saravanan. Vou tomar meu banho e me aprontar.

- Mon, ele mandou um email a algumas horas atrás. Desistiu da ação - diz Nop.

- Como assim desistiu? Ele explicou o motivo?

- Não, só que não queria saber de tribunais. Mas depositou a quantia que combinaram referente aos meses que o estava representando - explica Nop.

- Não entendo. A ação é simples, claro, tem o suposto filho que é metido com pessoas suspeitas, mas isso não é motivo - diz Mon sentando no sofá da sala.

- Não desanima filha, isso é só o começo. Muitos ainda virão.

- Sua mãe tá certa amiga. Com seu currículo, redes sociais e site, daqui a pouco tem fila na porta. Não esqueça que para semana que vem temos três clientes para começar - fala Nop.

- É verdade, não vou desanimar. Bem, vou tomar um banho e ver a senhorita Ka.

Sam

Quando acordou no dia seguinte, Sam se espreguiça na cama e sente o pé mais pesado do que o normal, aí se lembra. Ciclovia, pipa, Mon. A advogada irritante mostrou que poderia ser uma boa enfermeira. Sam percebeu que seu pé realmente ficou imobilizado e ela só sentiu um pouco de dor, o que um analgésico resolveu e ela dormiu a noite inteira.

Com sua muleta/esfregão foi até ao armário e pensou no que vestir. Com o pé assim uma calça seria inviável, então escolheu um vestido preto abaixo do joelho. Fácil e prático para vestir. Em seguida foi para o banho. A parte chata era ter que ficar sentada e com plástico no pé, mas no fim deu tudo certo. Na hora de lavar o rosto, sentiu o curativo e devagar retirou. Assim que olhou o desenho fofo com o número de celular de Mon sorriu. Se sentiu inexplicavelmente feliz em ter aquele número e poder falar com Mon de novo. Guardou o esparadrapo em cima da pia do banheiro, ao lado da caixa de madeira de suas bijuterias, seria bom olhar para aquela carinha piscando todo dia.

Já estava pronta quando Heng tocou o interfone. Sam liberou o portão, destrancou a porta e se sentou para poupar o pé. Heng entra e assustado pergunta:

- Jesus Sam, o que houve com você?

- Ah, um pequeno acidente de bicicleta meu amigo, mas eu estou bem.

- Ah, foi ao hospital? Está imobilizado. Até a testa você machucou? Foi um belo tombo hein? - diz Heng.

- Não fui ao hospital. Você acha que eu iria só pra ver uma entorse? Cuidei aqui em casa mesmo.

- Hum, mas não foi você que fez isso. Tá muito certinho para alguém com dor e sem ângulo fazer uma imobilização. Quem fez?

- Uma amiga - responde Sam.

- Ah tá, amiga... Bem se não foi Yuki e você não tem outras amigas só consigo pensar naquela mulher bonita... qual o nome?

- Heng...

O vôo das borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora