Capítulo 18 - Traumas

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Depois do funeral, todos se despedem e Sam se prepara para ir para o carro quando o chefe a chama.

- Oi chefe - responde Sam que está abatida e parece que perdeu vários quilos em dias.

- Na medida do possível, como você está?

- Ainda não consigo responder isso chefe. Ainda me sinto meio anestesiada, fora do ar, vazia - diz Sam.

- Entendo. Eu esperava isso mesmo, afinal foi um baque forte para você. Aproveitando o assunto eu te chamei para falar duas coisas.

- Pode falar chefe.

- A primeira é que quero que tire duas semanas de licença. Precisa organizar sua cabeça, viver esse luto. Você sempre vai lembrar dele, mas depois será uma saudade sem dor, enquanto isso você precisa de descanso.

- Chefe eu prefiro trabalhar, assim ocupo a mente e...

- Doutora Sam, isso não é uma sugestão.

- Mas chefe eu...

- Sam. Por favor.

- Ok, duas semanas - disse Sam contrariada.

- Certo a segunda coisa é que precisa fazer sessões de terapia. o conselho médico orienta quando um profissional passa por algum tipo de trauma psicológico, que faça terapia. Ora Sam, não faça essa cara! Terapia não vai te fazer mal, muito pelo contrário.

- Chefe eu nunca fiz terapia, nunca precisei recorrer a isso para lidar com meus problemas.

- Ok, mas dessa vez você precisará e de novo, não é uma sugestão.

- Está bem, está bem! Duas semanas sem trabalhar e terapia, que maravilha - fala Sam irritada.

- Aproveite para ir à praia, montanha, a natureza provoca milagres dentro da gente - diz o chefe.

- Ok, irei à terapia. Afinal tenho escolha?

- Não, não tem. Eu te mando por email o endereço e os dias.

Sam saiu pisando firme e com a cara fechada. Estava profundamente contrariada com tudo isso. O chefe já estava indo embora quando de novo a chama.

- Sim, chefe. Não me diga que vou precisar fazer meditação e yoga também? - Sam disse com sarcasmo. Ela só queria ficar sozinha.

- Sam, sente aqui um instante, quero lhe contar uma coisa - fala o chefe apontando para um banco de concreto na calçada.

Sam não tinha como fugir da situação, então sentou.

- Primeiro vou lhe pedir que essa conversa jamais saia daqui, eu estou confiando em você Sam.

- Sim, pode ficar tranquilo chefe - disse Sam curiosa.

- Os avós de Heng não são meus pais de sangue, eu vim de um orfanato, como Peter. Minha mãe era sozinha e viciada e eu filho único. Ela morreu de overdose quando eu tinha cinco anos e fui levado pela assistência social. Acabei indo parar num orfanato. Quando eu com onze anos já havia perdido as esperanças de ser adotado, eles apareceram, meus pais adotivos.

Eles tinham em mente adotar uma criança menor, mas por obra do destino ou de Deus se encantaram por mim e eu por eles. Foi quase instantâneo o carinho que sentimos e depois de todo processo, lá estava eu, com uma casa e meus pais. Me deram educação, carinho, atenção e o principal: valores. Como ser um homem honrado. Mas mesmo com todo esse suporte, eu sentia uma raiva dentro de mim e não sabia de onde vinha.

Arrumava brigas na escola, essas coisas, até que foi orientado que eu fizesse terapia e o que eu descobri sobre mim mesmo... foi doloroso, mas necessário. Ver minha mãe se drogando, morrer na minha frente e parar num orfanato machucou muito meu coração e minha mente, mesmo eu sendo tão pequeno na época, eu lembrava de coisas. Depois de entender foi quando comecei a melhorar, mas sem a terapia eu não sei qual caminho eu teria seguido.

O vôo das borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora