Capítulo 62 - Os olhos são o espelho da alma

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Sam

O hospital estava lotado. Parece que houve um grande acidente envolvendo um caminhão que tombou em cima de um carro e os carros que vinham atrás, sem tempo de frear, foram batendo um no outro como um efeito dominó. Sam passou pela recepção cumprimentando com a cabeça os enfermeiros quando escuta alguém chamá-la:

- Sam, espera!

- Heng. O que foi?

- Bom dia para você também. O chefe quer te ver.

- O que ele quer comigo? Não tenho nada para falar com ele.

- Mas ele tem algo para falar com você, ele é o chefe. Meu Deus Sam, você precisa...

- Pode parar por aí Heng, eu sei do que eu preciso. Vou falar com o chefe - Sam sai em direção a escada para a sala do chefe, ele evitava ao máximo pegar elevadores.

Houveram mudanças durante esses anos no Hospital. O doutor Thahan, pai de Heng havia se aposentado e em seu lugar a direção colocou o doutor Rune Thosarat. O doutor Rune era bem diferente do antigo chefe. Ele apesar de ser clínico geral, atuava pouco na prática, gostando mais de delegar e da parte administrativa, fazendo mudanças em todos os setores, normas para atendimentos e os vistoriar também, o que irritava profundamente Sam. Os desentendimentos entre os dois já era conhecido por todos. Sam bateu de leve na porta e entrou:

- O doutor queria me ver?

- Ah, doutora Khun Sam. Sim. Sente-se por favor.

- Estou bem de pé. Do que se trata?

- Está bem, se prefere assim. Doutora Sam, lembro que inseri nas novas normas do hospital a ordem de atendimento dos pacientes. Expliquei que a prioridade de atendimento são para pacientes particulares, em seguida os planos de saúde. A doutora está ciente?

- Sim, vi isso nas normas.

- E por que a doutora não consegue seguir essa simples regra?

- Porque eu pratico medicina e fiz um juramento. Eu atendo primeiro os que mais precisam de atendimento ou por ordem de chegada se não houver nenhuma emergência e meu juramento à medicina está acima dessas regras, se me permite dizer, absurdas - disse Sam sem se alterar e olhando fixamente para o chefe.

- Não me interessa sua opinião sobre as regras, apenas que as siga doutora. Espero não precisar ter essa conversa de novo.

- Sinceramente eu também espero, mas eu e minha equipe continuaremos atendendo como sempre fizemos. Se preferir leve o caso à diretoria. É só isso, chefe?

- Por hoje só, mas sim, veremos o que a diretoria dirá a respeito do seu comportamento "rebelde" como uma adolescente - diz o chefe com um sorriso debochado.

- Doutor Rune, me respeite! Não vou admitir que um merda como você, que vive escondido nessa sala sem atender pacientes, venha questionar minha competência! Se olhe no espelho e veja o papel ridículo que está fazendo. Vá a diretoria, vá para o inferno, não me interessa, mas não ouse me desrespeitar. Tenha um bom dia - Sam saiu batendo a porta e deixando o chefe assustado com a ferocidade de Sam.

O chefe já havia insinuado para a diretoria sobre a relutância da doutora Sam em algumas mudanças que ele propôs, mas Sam era a melhor neurologista da cidade, talvez do país e muitas vezes fez diagnósticos considerados impossíveis, foi ela que conseguiu abrir as portas para o uso da cannabis a anos atrás no hospital e além disso tudo, suas colaborações nas pesquisas eram sempre muito elogiadas. Não, a diretoria sabia do valor da doutora Khun Sam.

- E aí Sam, o que ele queria? pergunta Heng.

- Infernizar minha vida, como se fosse possível ficar pior do que já é. Mas ele que vá merda com essas regras estúpidas. Eu atendo meus pacientes como acho correto.

O vôo das borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora