Capítulo 6 - Espera e possibilidades

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Heng estava de pijama, largado no sofá e o corpo dormente de cansaço. Seu peito doía demais. Ele não conseguiu ajudar o menino, decepcionou seu pai e provavelmente nunca mais poderia exercer sua profissão. O que restava? Que futuro ele tinha? Nesse momento o interfone tocou e ele não estava com a mínima vontade de falar com ninguém, na verdade ele não tinha o que falar. O interfone insistente acabou fazendo Heng ceder e com uma certa dose de raiva atendeu:

- O que é?

- Heng, abre. É Sam.

- Sam eu não quero falar nada, por favor.

- Heng! Abre essa merda senão eu vou ficar tocando o dia e a noite inteira. Anda logo, abre essa porta!

Conhecendo a amiga, sabia que ela mesmo seria capaz de ficar plantada lá embaixo até ele abrir, então apertou o botão liberando o trinco da portaria. Destrancou a porta do apartamento e se sentou no sofá. Sam entra, se aproxima de Heng e sem dizer nada puxa o amigo para um abraço forte.

Heng não suportando mais, chora compulsivamente no ombro da amiga. Sam fica em silêncio deixando Heng desaguar tudo que precisasse, mas ela também sentiu lágrimas pelo seu próprio rosto. Ela chorava a dor do seu amigo. Depois do que pareceu uma eternidade, os dois se sentaram, Sam buscou água para Heng e disse:

- Amigo, tudo tem um jeito. Não se entregue por favor.

- Que jeito Sam? Acabei com minha carreira e não consegui ajudar o menino. Se pelo menos eu tivesse sido mais rápido... teria valido a pena. E a Jim? Yuki te contou não é?

- Contou. Aquela vadia! Mas já dei uma palavrinha com ela. Ela já está avisada a não se meter com você, comigo e Yuki. Mas não quero falar dela, ela não vale a saliva que temos. Heng, por que você não me falou nada? Eu poderia ter ajudado, você sabe que eu não hesitaria.

- Exatamente por isso que não falei Sam. Sei que você toparia na hora, mas não podia colocar a sua carreira em risco também. Olha no que deu. Ferrei com meu nome, do hospital e o que mais me dói, meu pai. Você sabe como está o menino?

- Estava nas mesmas condições quando saí de lá, mas Yuki vai me informar caso haja qualquer mudança. Eu até tentei pedir autorização para acompanhar o menino, mas seu pai foi bem claro: Não posso chegar perto do Bernardo e nem dos pais. Mas ele já deve ter convocado advogados para lidar com isso amigo, só podemos esperar.

- É, tá certo. Mas eu não vi melhora nenhuma no menino Sam. Se o estado dele não fosse tão grave, talvez até funcionasse, mas...

- Bem, vamos esperar amigo. Mudando de assunto quero te falar uma coisa - diz Sam.

- Diga.

- É sobre o Peter. Ele não teve mudança no quadro e não apareceu nenhum doador infelizmente.

- Eu te falei Sam, é muito mais difícil para crianças.

- Sim, sim. Mas eu estava pensando... Sabe, supondo que ele consiga o transplante e ele vai conseguir. Supondo isso, ele voltaria para o orfanato certo?

- Sim, claro. Ele veio de lá e não tem família. Mas o que você... Sam?

- É isso mesmo. Quero adotar o Peter! Qual seria o problema? Seria melhor para ele ter uma médica para acompanhar a evolução de saúde dele, não sou rica, mas tenho condições financeiras para isso e sabemos que as chances dele ser adotado é quase nula. Todos querem bebês lindos e saudáveis e não uma criança com problemas cardíacos e com quase dez anos.

- Amiga, você tem certeza? Isso é sério! Adoção... você está disposta a ser mãe dele? - diz Heng preocupado.

- Estou Heng. Eu me apeguei muito a ele e ele a mim. Claro que sei que haverá uma adaptação, nunca fui mãe né? Mas ninguém nasce sabendo ser mãe, se aprende. Sim, vou falar com a assistente social.

O vôo das borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora