Capítulo 2 - A neurologista

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POV Sam

Sempre gostei de morar sozinha. Talvez pelo fato de ter perdido meus pais cedo e com isso perdido também a referência de lar, para mim sempre foi muito mais fácil lidar comigo mesma e minhas neuras do que ter que dividir espaço com outras pessoas. Mesmo meus tios tendo me criado com todo carinho e cuidado, não era a mesma coisa, por isso na primeira oportunidade segui meu rumo.

Ter meu canto para ouvir a música que preferir, sair sem roupa do banheiro, levar poucas, mas algumas mulheres para uma pegação básica vez ou outra e meu café moído na hora para beber na minha xícara vermelha, isso era vida!

Hoje o dia estava nublado e perfeito para ficar na cama, mas nada me deixava mais feliz do que trabalhar, principalmente na área que me fascinava: o cérebro humano. Tão magnífico e desafiador! Apesar de muitas doenças ainda não existirem cura, inúmeros pesquisadores trabalham incansavelmente pelo mundo todo buscando respostas.

Cheguei no hospital e qualquer desânimo ficou do lado de fora. Saber que haviam pacientes precisando da minha ajuda renovava minha alma.

- Bom dia Yuki. Jim. Yuki, já estou indo para meu consultório, pode liberar os pacientes daqui a dez minutos, ok?

- Certo doutora Sam.

Entrei na sala, examinei rapidamente as fichas, coloquei o jaleco e aguardei o primeiro paciente do dia. Entram uma moça com um senhor que após alguns minutos identifico como seu pai.

- Bom dia, meu nome é doutora Sam. Em que posso ajudar senhor... Rajan?

- Bom dia doutora, eu sou Arunee, filha dele.

- O que está havendo Arunee?

- Doutora, há alguns meses meu pai tem estado muito esquecido e olha que ele sempre teve uma memória melhor que todos lá em casa! Além disso anda sem interesse em fazer coisas que ele sempre gostou, como caminhar pelo parque, pescar. Também algumas alterações de humor sem motivo aparente.

- Certo. Qual sua idade senhor Rajan? - perguntei direto ao paciente, mais para testar se estava concentrado em nossa conversa, pois já estava na ficha. Ele tinha sessenta e nove anos.

- Papai, a doutora lhe fez uma pergunta.

- Ah, me desculpe. Estava distraído. Já acabamos, filha?

- Senhorita Arunee, vou solicitar um exame de sangue e uma ressonância para seu pai. Assim que estiver com os resultados, marque nova consulta comigo. É provável que ele tenha que passar pela geriatria e psiquiatria para fecharmos um diagnóstico - enquanto falava preenchi os pedidos e entreguei para a moça.

- Muito obrigada doutora. Vamos papai, temos que marcar os exames logo.

- Não esqueça do retorno assim que estiver com os resultados - falei para a senhorita.

Quando estava quase saindo, ela volta e se aproxima perguntando num tom mais baixo:

- Doutora, é Alzheimer não é? - pergunta com o rosto aflito.

- Senhorita Arunee, não posso dar nenhum diagnóstico sem o resultado dos exames, mas posso te dizer que seja o que for, seja forte. Ele precisa de vocês.

- Eu entendo... Obrigada - saiu da sala de braços dados com o pai.

Mesmo querendo estar errada, eu sabia. Tinha 90% de chances de ser Alzheimer.

Continuei com os atendimentos e a última paciente era uma menina de nove anos com epilepsia. Já tratava Sarisa há quase um ano.

- Oi pequena! Nossa, que tranças lindas! Como você se sente hoje? Olá mãe, tudo bem?

- Oi doutora. Infelizmente não. Os novos medicamentos não estão fazendo efeito, já não sei mais o que fazer! As crises continuam, ela vive machucada dos tombos, ainda tem que usar capacete mesmo dentro de casa, não posso tirar os olhos dela nem dormindo porque até nessa hora a crise vem e...

- Entendo. Mas calma, sente-se. Sarisa quer aquele doce? Trouxe especialmente para você - a menina sem muito ânimo aceitou e sentou no colo da mãe.

- Doutora, eu não sei mais o que fazer para proteger minha menina - disse a mãe. Qualquer um que olhasse para aquela mulher veria o sofrimento não só em seu rosto, mas em todo seu ser. Ela exalava a dor de uma mãe.

- Mãe, infelizmente a epilepsia às vezes é complicada de tratar porque não existe um remédio único para ela. É necessário por vezes três remédios diferentes, uma combinação de fórmulas que faça efeito para aquele paciente. Já tentamos três combinações diferentes e nada, então agora vamos tentar o uso da cannabis medicinal.

- Cannabis? Maconha para minha filha? Não, nem pensar! - disse a mãe indignada.

- Mãe, fique calma. A senhora me conhece a quanto tempo? Acha realmente que eu recomendaria algo que fosse prejudicial para qualquer paciente? Eu entendo seu estranhamento... é um tipo de tratamento relativamente novo e tudo que é novo provoca receio, mas acredite, não é preciso. Vou pedir para o doutor Ramesh te explicar detalhadamente como funciona e a senhora pode levar nossos panfletos e um DVD explicativo. Olhe nos meus olhos: Confie em mim!

A mãe com os olhos cheios d'água num misto de desespero e esperança me olhou profundamente e aceitou. Pedi para Yuki levá-la ao doutor e eu fiquei no consultório agradecendo mais uma vez aos cientistas e pesquisadores por terem feito a descoberta sobre a cannabis, fazendo que seu uso medicinal fosse possível. O que eu sinto nesses momentos? Pura felicidade por poder dar esperança para pessoas em desespero.

Fontes:

Alzheimer: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/alzheimer

Sintomas do Alzheimer: https://clinicalucidioportella.com.br/sintomas-de-alzheimer/

Cannabis medicinal: https://paulocasali.com.br/entenda-a-funcao-da-cannabis-medicinal-e-conheca-seus-beneficios/

Cannabis na Tailândia: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/tailandia-descriminaliza-cannabis-mas-pessoas-nao-podem-fumar-maconha-diz-ministro/

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