Chapter 3: Chocolate e Paradas de Trens

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Don't do this and don't do that,

What are they trying to do?

Make a good boy of you;

Do they know where it's at?

Don't criticise, they're old and wise;

Do as they tell you to,

Don't want the devil to,

Come and put out your eyes...

- "School" Supertramp, 1974

Remus dormiu mal. O vagão do trem estava escuro e sua cabeça não parava de bater contra a janela. Antes de pensar em enrolar sua jaqueta e usá-la como travesseiro ele não conseguiu se sentir confortável o suficiente para tentar dormir um pouco, mas mesmo sem ela o trem ainda parecia uma fornalha. O suor escorria por suas costas e passava pela cintura, e ele não conseguia abrir a janela nem para entrar um ar para refrescar um pouco, pois a trava estava quebrada. Ele estava viajando na classe econômica, cercado por muitos outros viajantes infelizes durante a noite, incluindo o homem à sua direita que estava reclamando sobre queimar um assado de domingo enquanto dormia. Se ele tivesse pegado o trem na manhã anterior, Remus provavelmente teria seu próprio vagão, mas esse era um privilégio esquecido nas circunstâncias atuais.

Giles ficou quieto durante a maior parte do caminho até a estação, mas, assim que chegaram lá, ele vestiu seu cargo — certificando-se de que tinha todos os documentos da escola, lembrando-o de fazer a barba para baixo e não para cima, e de não passar todas as aulas com o nariz enfiado em um livro — até que Remus teve que gritar com ele para parar.

"Ligue se precisar de alguma coisa," Giles ordenou. "E chega de socar os professores ou terei que dirigir até as Terras Altas para dar uma surra eu mesmo em você."

"Não tenho certeza de como o Royce se sairia em estradas de terra, Gil," Remus tinha provocado. Isso fez Giles sorrir, e ele suspirou um pouco antes de bater em seus ombros de modo afetuoso.

"Seja bom", disse ele, "e se você não puder ser bom, então seja esperto".

Eles se separaram na plataforma da estação pouco antes da meia-noite, e Remus pegou o último trem para a Escócia sozinho e sentindo pena de si mesmo. Agora, várias horas depois, ele passava pelas primeiras horas da manhã acordado e desejando poder fumar um cigarro, mas era proibido fumar no vagão e seu malão estava enfiado acima dele, no porta-malas, junto com seus cigarros, alguns livros e a pequena coleção de álbuns de sua mãe. Mesmo que ele pudesse ter fumado um sem enfrentar represálias do atendente ou de outros passageiros, o Sr. Assado-de-Domingo era tão barrigudo que, mesmo magro como era, Remus duvidava que conseguisse passar sem pedir licença. E isso, claro, exigiria uma conversa, o que ele estava muito irritado para considerar.

Então o sono não veio, e Remus foi forçado a assistir enquanto passavam pelo grande campo inglês no escuro. Ele estaria em sua nova escola nas Terras altas da Escócia em breve, onde supostamente, inúmeras famílias britânicas ricas e abastadas enviavam seus filhos para crescer e florescer sob a melhor educação que o dinheiro poderia comprar. Para aqueles que desejassem entrar em uma boa universidade, a Hawkings Independent School era o primeiro passo; para Remus, poderia muito bem ter sido outra prisão. O vilarejo mais próximo do terreno da escola ficava a quatro quilômetros de distância, e mesmo assim o município escocês de Craigtyre tinha pouco a oferecer, considerando o que o guia da escola falava.

Depois de quase meia hora roendo as unhas até a carne, um empurrão pesado nos trilhos acordou o parceiro de assento de Remus. O homem bufou grotescamente e olhou ao redor como se não conseguisse lembrar onde estava. Remus evitou contato visual, virando o peito para a janela, confiante de que a pouca luz do vagão desencorajaria qualquer conversa, mas isso não parecia importar muito para o homem. Ele estendeu a mão e cutucou o ombro de Remus.

The Cadence of Part-time Poets [tradução]Onde histórias criam vida. Descubra agora