Chapter 84: Natal, 1977

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No one knows what it's like,
To be the bad man;
To be the sad man,
Behind blue eyes;

No one knows what it's like,
To be hated;
To be fated,
To telling only lies;

But my dreams, they aren't as empty,
As my conscience seems to be;
I have hours, only lonely,
My love is vengeance that's never free...

- "Behind Blue Eyes" The Who, 1977

"Aqui, querida, abra esta aqui em seguida. 'Para Remus, com amor, mamãe e papai'."

Ele pegou o presente ansiosamente. Seus dedos eram pequenos e redondos. Jovens, então. Dentro da caixa embrulhada, ele encontrou um par de luvas, feitas de couro de pelo de ovelha e ajustadas especialmente para aqueles dedos minúsculos. Ele as experimentou, principalmente para deixar sua mãe feliz, mas quando Hope deslizou o próximo presente em sua direção, Remus rapidamente jogou as luvas de volta na caixa para serem esquecidas.

"Este é da mamãe", ela sorriu. Era um toca-discos totalmente transistorizado, completo em sua própria caixinha de plástico para transporte.

"Tem até cinco discos", Hope se gabou, apontando para o lado de fora da caixa; The Four Seasons, Petula Clark, Herman's Hermits, Peter and Gordan, e sim! —The Beatles.

"Ele nunca mais vai dormir. Ele vai ficar ouvindo essa coisa a noite toda", disse Lyall, sentado atrás deles em uma das poltronas caras e entalhadas do salão. Ele tinha uma taça de xerez em uma das mãos. Remus olhou para ela, e a taça piscou para ele em todas as cores da árvore de Natal brilhante.

"A música é enriquecedora", disse Hope, enquanto Remus desistia do copo piscante e começava a rasgar a caixa do toca-discos. Ela estava sentada no tapete ao lado dele, as mãos dobradas cuidadosamente no colo como uma verdadeira dama. Ela também estava bonita, com o cabelo e a maquiagem todos arrumados, apesar da hora cedo. Era surpreendente, considerando que ela só tinha saído do hospital na semana anterior. Remus não conseguia se lembrar de como sabia disso.

Paralelamente à esposa, Lyall usava calças bem-ajustadas e uma camisa social, como se estivesse pronto para um dia no escritório em vez de um feriado de folga. Ele também era bonito. Remus esperava que ele fosse bonito assim um dia. Por enquanto, tudo o que ele tinha para vestir eram pijamas com cowboys. Afinal, era manhã de Natal e ele tinha apenas nove anos. Nove... Era de se esperar.

"Você está feliz, querida?" Hope sorriu, enquanto Remus brincava com o plugue do tocador. Ele assentiu, examinando o resto de seus presentes. Nenhum deles chegou perto do toca-discos.

"Posso tocar?", ele perguntou, levantando a nota 45 dos Beatles. Lyall se levantou um segundo depois, com sua taça de xerez vazia.

"No seu quarto", ele disse, mas quando Remus se levantou para fazê-lo, Hope os impediu.

"Espera aí, querida, tem mais uma!"

Remus mal podia acreditar. Havia mais?

Enquanto Lyall lentamente retornava ao seu assento na poltrona para observar, Hope deslizou pela sala. "É um presente secreto!" Ela gritou, antes de empurrar uma caixa grande para fora de trás da espreguiçadeira do salão. Estava toda embrulhada em vermelho, com um grande laço dourado no topo. Remus ficou exultante instantaneamente, e enquanto sua mãe o arrastava sobre o tapete em sua direção, seus dedos coçavam para libertar o presente de sua prisão de papel.

"De quem é essa, então?", perguntou Lyall.

"Minha tia," Hope respondeu simplesmente, antes de depositar o presente na frente de Remus. "Vá em frente, querida. Abra!"

The Cadence of Part-time Poets [tradução]Onde histórias criam vida. Descubra agora