Chapter 63: Memória

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Oh no, not me,
I never lost control;
You're face to face,
With the man who sold the world...

- "The Man Who Sold the World" David Bowie, 1971

Ele provavelmente deveria ter ficado mais bravo com Sirius. Muito mais bravo. Deveria ter sido fácil — Remus era uma pessoa raivosa, afinal. Nos últimos anos de sua vida, sua raiva o deixou sentindo como se estivesse em um carrossel sempre girando, sem nenhuma maneira de sair. De vez em quando, ele se enganava pensando que havia escapado — que as memórias finalmente pararam de perseguir e assombrar seu sono —, mas então ele voltava para casa, ou recebia uma carta, ou alguém dizia coisas como sua mãe ter se matado, e a coisa toda começava de novo; girando e girando.

De tudo isso, a única coisa que Remus nunca se permitiria ter era raiva de seus amigos. Simplesmente não vinha naturalmente. Ele ficava irritado com eles frequentemente, às vezes até lívido, mas raiva...  raiva de verdade... isso sim era algo reservado para pessoas muito piores que amigos.

Provavelmente era a razão pela qual ele acreditava que Sirius nunca deixaria de cumprir sua palavra. Estúpido. Sirius estava tão bravo quanto ele, ele simplesmente... mostrava isso de maneiras diferentes. Remus costumava acreditar que James e Sirius eram dois lados diferentes da mesma moeda, mas mesmo tão próximos quanto eram, tudo o que seria preciso era um pouquinho de previsão para perceber o quão errado ele estava. Não havia espaço em uma moeda como aquela para alguém tão bom quanto James.

"Vamos jogar uma moeda, hein Moony?" Sirius sugeriu uma vez. "Cara para você, coroa para mim."

Era por algo estúpido, como quem pegou o último cigarro da caixa, mas enquanto os dez centavos brilhavam no ar em câmera lenta, Remus se viu rezando para que desse cara. Ele ainda dividiria o cigarro, é claro, mas seria dele e isso seria motivo mais do que suficiente para se gabar.

Cara. Cara. Que seja eu. Eu. Eu. Eu. Eu. Eu.

Ele sentiu o mesmo quando viu a brincadeira final deles se desenrolar — depois de concordar em desempenhar a peça-chave do plano, garantindo a ele um lugar na primeira fila para a vingança de Sirius. Apenas... eu. Eu. Eu. Eu. Que seja eu. Olhe para mim — olhe para mim!  Mas então a realidade finalmente amanheceu.

Sirius não estava olhando para ele. Ele não conseguia. Não havia espaço para ele. Sirius estava perdido em suas próprias memórias — ocupado com um carrossel sem fim próprio. Ele não tinha tempo para pensar em Remus, ou em qualquer outra pessoa, na verdade. Na mente de Sirius era exatamente a mesma coisa. Eu. Eu. Eu. Por favor, que seja eu.

E realmente... quem poderia culpá-lo por isso?

* * *

"Sirius, ainda não entendi o que devo dizer a ele!"

"Qualquer coisa! Diga a ele que você quer aulas de violino."

Remus ficou boquiaberto; "Aulas de violino? Você é louco?!"

"Você sempre pode desafiá-lo para um duelo."

"Você poderia tentar não ser um completo babaca por dois segundos?!"

"Só diga que quer conversar", James forneceu, parecendo bastante tonto — bem diferente de quão nervoso ele estava depois que eles se arrastaram para fora da cama cedo para arrumar tudo. James sempre foi um madrugador, mas entre futebol e pegadinhas, ele parecia prestes a desmaiar em pé na maioria dos dias.

"E depois o que?" Remus exigiu. "Devo sugerir tricô para passar o tempo?"

"Se você realmente quiser", Sirius deu de ombros. "Mas vamos lá, Moons, você é inteligente — seja criativo com ele. Só certifique-se de que ele esteja no alvo antes do primeiro sinal tocar. E não se preocupe, nós daremos um pequeno apito para você logo antes, para que você tenha tempo de sair do caminho."

The Cadence of Part-time Poets [tradução]Onde histórias criam vida. Descubra agora