Juntos no silêncio

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A casa estava quieta. O som das risadas e conversas havia desaparecido, substituído pelo silêncio que só a madrugada traz. Cada um dos caras já tinha se retirado para o seu próprio espaço, mas eu... eu não conseguia. Chan tinha me dito para dar um tempo, dar espaço ao Felix, mas eu não conseguia ficar parado. Algo me incomodava, me corroía por dentro. Ele estava distante, e não era só o físico, era algo maior, algo que eu precisava entender, resolver.

Olhei para a porta do quarto dele. Estava fechada, claro, mas aquilo não me deteria. Dane-se o que Chan disse, pensei enquanto abria a porta devagar, tentando não fazer barulho para não acordar ninguém.

Quando entrei, Felix estava deitado na cama, completamente coberto. Eu soube na hora que ele não estava dormindo, mesmo que ele tentasse fingir que estava. Respirei fundo e caminhei até ele, sentando ao lado da cama. Eu fiquei ali, esperando, sem saber bem o que dizer ou fazer. Apenas esperando que ele reagisse, que mostrasse algum sinal.

Minutos se passaram em silêncio absoluto, até que Felix finalmente se mexeu. Ele tirou a coberta de cima de si devagar e se sentou na cama, sem me olhar diretamente. Seus olhos estavam baixos, e havia algo diferente nele. O rosto estava limpo, sem maquiagem, e as sardas marrons que eu tanto amava estavam à mostra, sem nada para escondê-las. Eu sorri de leve ao vê-las. Mesmo em um momento como aquele, ele era lindo. Sempre foi.

Por alguns segundos, ele permaneceu em silêncio. Não disse nada, nem precisava. Era como se palavras fossem inúteis naquele momento. E então, sem aviso, ele se inclinou para frente e se agarrou a mim. Eu senti os braços dele ao redor do meu corpo, apertando com uma força que me surpreendeu. Felix se enroscou em mim como se eu fosse a única coisa que o mantivesse ali, no presente.

Eu fiquei quieto, apenas o envolvendo também, sem saber o que mais fazer além de estar ali para ele. Senti a respiração dele pesada, mas ele não chorava, pelo menos não por fora. Ele estava tão exausto, e eu podia sentir isso na forma como ele se apertava contra mim.

— Amor... — Eu comecei a falar, mas ele me interrompeu com um leve movimento da cabeça, indicando que não queria que eu dissesse nada. Eu entendi. Às vezes, o silêncio dizia mais do que qualquer palavra poderia.

Nós ficamos assim por um tempo, apenas respirando juntos, sentindo a presença um do outro. Mas eu sabia que tinha algo que ele precisava dizer, algo que estava preso nele. Eu acariciei os cabelos loiros dele, sentindo a maciez entre meus dedos. Queria que ele soubesse que eu estava ali, que ele podia falar quando estivesse pronto.

Depois de um longo tempo, Felix finalmente quebrou o silêncio. A voz dele era baixa, quase um sussurro.

— Eu odeio isso, Hyun... — Ele disse, com a voz um pouco rouca. — Eu odeio fingir que nós não somos nada. Odeio o jeito que eles falam de mim... Eu odeio... Eu não consigo... — Ele parou, suspirando, as palavras pareciam escapar dele, difíceis de serem ditas.

Eu o apertei mais contra mim, tentando oferecer qualquer tipo de conforto que ele precisasse.

— Eu sei, Lix... — Respondi, passando a mão pelo ombro dele. — Eu odeio também. É uma merda. Mas eu estou aqui, com você.

Felix ficou em silêncio por mais um tempo antes de continuar.

— Aqueles comentários... Aqueles olhares... Eu nunca me importei de verdade, sabe? Mas agora... Agora, tá ficando difícil. E o que aconteceu hoje... Aquilo no programa... Não é a última vez que vai acontecer.

Eu suspirei, sabendo que ele estava certo. Eu odiava pensar nisso, odiava que as pessoas olhassem para ele de maneira tão cruel. Eu odiava ainda mais não poder fazer nada sobre isso.

— Vamos dar um jeito, tá? Você e eu... A gente sempre dá — Eu tentei ser otimista, mas a verdade é que eu também estava cansado de fingir. Fingir nas câmeras, fingir para o público. Mas ali, naquele quarto, naquele momento, não havia necessidade de fingir nada.

Felix não respondeu de imediato. Em vez disso, ele apenas se afundou mais nos meus braços, deixando o peso de seu corpo descansar completamente sobre o meu.

— Eu só quero... Eu só quero a gente, Hyun — ele murmurou contra meu peito. — Sem ninguém nos dizendo o que fazer, sem ninguém nos julgando.

— Eu sei — sussurrei de volta, beijando o topo da cabeça dele. — E você tem a gente. Sempre vai ter.

Naquele momento, eu não precisava de mais nada. Só queria estar ali, segurando ele, sentindo ele. Não importava o que viesse depois, o que as pessoas diriam, o que teríamos que enfrentar. Por enquanto, era só eu e Felix, juntos, em silêncio. E isso era suficiente.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora