Uma madrugada de chuva

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Naquela noite, eu me senti vazio. Pela primeira vez desde o início da turnê, eu me deitei sem sentir a presença de Hyunjin ao meu lado. A cama parecia maior, mais fria. Me virei para o lado tantas vezes, tentando encontrar uma posição confortável, mas nada parecia certo. Eu já estava acostumado a sentir o calor do corpo dele, a ouvir sua respiração pesada e ritmada enquanto ele dormia. O silêncio no ônibus me engolia, junto com os pensamentos que eu tentava afastar.

Eu estava no ônibus azul, junto com Chan, Changbin e os outros. Todos estavam por ali, fazendo suas próprias coisas, conversando e rindo. Mas eu estava quieto. Perdido nos meus próprios pensamentos, na minha própria angústia. Sentado na pequena sala de estar improvisada do ônibus, mexendo distraidamente em uma pulseira no meu pulso, eu não conseguia tirar Hyunjin da cabeça.

Chan se aproximou e sentou ao meu lado, sem dizer nada por alguns segundos. Ele olhou pra mim de um jeito que só um líder consegue olhar, com aquela mistura de compreensão e autoridade, como se ele soubesse exatamente o que estava acontecendo. E eu sabia que ele sabia.

— Felix, tá tudo bem? — A voz de Chan era calma, mas havia uma preocupação genuína ali.

Eu suspirei fundo, meus dedos ainda mexendo na pulseira enquanto evitava o olhar dele. Não queria falar sobre isso, mas ao mesmo tempo, eu precisava. Precisava desabafar, de alguém que entendesse. E, porra, Chan sempre entendia.

— Não tá, Chan — murmurei, finalmente soltando as palavras que estavam presas na minha garganta. — Hyunjin… me expulsou do nosso ônibus.

Chan não pareceu surpreso. Ele balançou a cabeça levemente, como se já esperasse por isso.

— O que aconteceu? — Ele perguntou, me incentivando a continuar.

Eu suspirei de novo, desta vez mais fundo, e acabei falando tudo o que estava acontecendo entre mim e Hyunjin. Falei sobre nós e sobre como as coisas tinham mudado tanto. Falei sobre como tudo começou em 1974, dos dias na praia, das canções que compomos juntos e que eram todas sobre nós. Sobre como, mesmo com tudo isso, eu ainda o amava. Mesmo que ele fosse uma tempestade incontrolável, eu não conseguia ficar longe dele. Quando terminei de falar, eu me sentia mais leve, mas ao mesmo tempo, mais vulnerável. Falar em voz alta fazia tudo parecer mais real.

Chan me olhou com aquele olhar de irmão mais velho que eu já conhecia tão bem, e ele apenas assentiu, como se estivesse processando tudo o que eu havia dito.

— Eu já sabia — ele disse, de forma simples, mas com um pequeno sorriso nos lábios. — Todo mundo sabia, Felix. É óbvio.

Eu o encarei, surpreso. Senti minhas bochechas corarem levemente, como se tivessem sido pegas em flagrante.

— Como assim…? — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

Chan riu levemente, mas não era uma risada debochada. Era mais como uma risada de quem já tinha visto tudo.

— Vocês dois… a forma como vocês olham um pro outro no palco, como vocês cantam juntos. Isso é mais do que só química de banda, Felix. É pessoal. Todo mundo vê.

Eu fiquei quieto por alguns segundos, deixando as palavras dele afundarem na minha mente. Sabia que a conexão entre eu e Hyunjin era intensa, especial. Mas ouvir de outra pessoa tornava tudo mais real. Era como se eu tivesse me esforçado tanto para esconder, e no final, todo mundo já sabia.

— Mas… — eu hesitei, olhando para Chan. — Se é tão óbvio… por que ele continua fugindo?

Chan me encarou por um longo momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Ele sempre foi o mais racional de nós, o mais sensato, então quando ele falava, as palavras tinham peso.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora