Uma névoa de acontecimentos

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Eu estava no fundo do poço. Cheirando tanta cocaína, tomando tantos comprimidos que, a certa altura, a sensação de leveza virou uma mistura estranha de torpor e desespero. Minha cabeça parecia nas nuvens, mas não de um jeito bom. Era como se tudo ao meu redor estivesse prestes a desabar, e eu não conseguia mais enxergar nada direito. As luzes piscavam, minha visão ficava com pontos pretos, e às vezes, o som à minha volta se tornava abafado, distante. Mas eu continuava. Continuava porque precisava daquilo, ou pelo menos era o que eu achava.

Eu me convencia de que era isso que me mantinha de pé nos shows, que me fazia tocar, cantar, e que me fazia conseguir encarar Felix de perto, com toda a intensidade que nossa conexão exigia. Mas, no fundo, eu sabia que não sentia mais a mesma coisa de antes. A droga não me preenchia mais, não me fazia mais sentir invencível. Ela só me levava mais fundo nesse buraco. Só que, mesmo assim, eu não conseguia parar.

Foi em uma noite de janeiro. Eu nem sei bem o que aconteceu. Sabe, eu lembro de flashes, de coisas soltas. Mas foi nesse ponto que tudo explodiu. Meu corpo, minha mente… não sei. Eu só sei que desabei.

Mas eu vou deixar Felix contar a vocês essa parte. Porque, honestamente, eu não lembro direito. A verdade é que minha mente já estava tão fodida naquela época que a linha entre o que era real e o que era efeito da droga estava quase inexistente. Eu apenas sei que alguma coisa quebrou naquela noite. Mas, pra mim, é só uma névoa confusa. Eu não posso contar o que aconteceu, porque eu mesmo não sei.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora