Sucesso estrondoso e problemas nos bastidores

29 8 0
                                    

Em novembro de 1977, lançamos Glass Shadows como single. Inicialmente, estávamos inclinados a escolher Aurora, a musica que marcava meu relacionamento com Hyunjin. Ela tinha um ar mais romântico e seria uma escolha fácil, algo que agradaria o publico. Mas, com tudo o que vinha acontecendo nos últimos meses — as tensões internas, a pressão da gravadora, os problemas de mídia e os desentendimentos entre os membros —, Glass Shadows parecia a escolha mais adequada. Era a música que capturava a raiva e frustração que estávamos sentindo, e todos no grupo concordaram que era o caminho certo.

Glass Shadows falava diretamente sobre a crítica às pressões externas e os julgamentos constantes. O nome remetia à sensação de estarmos constantemente sob observação, como se fôssemos frágeis, prestes a quebrar a qualquer momento, enquanto o mundo nos olhava de cima, julgando cada movimento. A música tinha guitarras pesadas, riffs afiados e batidas fortes que ecoavam a nossa fúria. Não era uma canção fácil de ouvir. Era crua, agressiva e sem concessões — e era exatamente o que precisávamos transmitir.

Lembro que, durante as gravações, Hyunjin e Jeongin praticamente destruíram as guitarras de tanto que se entregaram na execução dos riffs. A energia que eles colocaram naquilo era algo surreal. E Jisung... Eu nunca tinha visto ele tão satisfeito. A bateria era o centro nervoso da música, marcando cada batida com uma intensidade avassaladora. Ele finalmente estava recebendo o destaque que merecia, e eu via nos olhos dele que estava orgulhoso do que tínhamos criado. Era como se, por um breve momento, as tensões dentro da banda desaparecessem.

Na primeira semana após o lançamento, Glass Shadows estava em todas as rádios. Era tocada em cada esquina, em cada loja, em cada carro que passava. E não era só na Coreia do Sul. Aos poucos, estávamos começando a ganhar destaque no ocidente. Nossa música atravessava fronteiras, se espalhava por países que até então só tinham ouvido falar de nós vagamente. Era uma sensação estranha... Ver que, de repente, estávamos saindo da bolha onde crescemos. Estávamos entrando no radar de algo maior, e, com isso, a pressão só aumentava.

Mas naquele momento, com Glass Shadows dominando as paradas, sentimos uma espécie de alívio. Era como se toda aquela raiva, toda a frustração que tínhamos acumulado por meses, finalmente tivesse encontrado uma válvula de escape. As críticas, que sempre nos atingiam de forma negativa, dessa vez pareciam impulsionar a música ainda mais. O público entendia o que estávamos tentando dizer. As guitarras pesadas e a batida marcante falavam por nós.

— Essa é a nossa melhor até agora — Jisung comentou um dia no estúdio, quando estávamos ouvindo o single no rádio pela milésima vez.

— Eu acho que a gente acertou na escolha, sim — Chan concordou, com aquele sorriso de líder que sempre tentava manter o grupo unido.

Hyunjin, sempre mais calado nessas situações, apenas assentiu, mas dava para ver o brilho no olhar dele. Ele sabia que aquele single era especial. Não só pela música em si, mas pelo que ela representava para nós como banda. Era uma declaração, uma resposta às críticas, um grito de resistência.

Eu me encostei na parede do estúdio, ouvindo a música tocar pela rádio mais uma vez. Glass Shadows ecoava pelo ambiente, e por um momento, me senti em paz. Aquele caos todo finalmente estava sendo canalizado de forma criativa, e isso nos deu fôlego para continuar. Sabíamos que o trabalho estava longe de terminar, ainda tínhamos mixagens a fazer e o álbum completo para finalizar. Mas naquele momento, com aquela música dominando o mundo, era como se, por um breve instante, tudo estivesse no lugar.

— A gente conseguiu, né? — eu perguntei para Hyunjin, que estava ao meu lado, olhando o horizonte pela janela.

Ele sorriu, aquele sorriso que só ele conseguia dar, e assentiu.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora