O mundo desmoronando aos poucos

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Foi só uma questão de dias para as manchetes começarem a pipocar. Não havia internet naquela época, mas os jornais e revistas de fofoca se encarregaram de espalhar o caos. Em abril, a revista mais famosa dos Estados Unidos estampou na capa: Felix e Hyunjin: Os vocalistas da década de 70 teriam um caso fora dos palcos? A foto era uma nossa, tirada de um show, no momento em que lambia Hyunjin no palco. Mas a merda toda já estava feita, e aquilo só jogou mais lenha na fogueira. E era horrível saber que as pessoas nos tratavam apenas como "caso". Elas não faziam ideia, ninguém fazia ideia do quanto eu e Hyunjin nos amávamos.

A pior parte não foi ver a capa nos quiosques, nem os olhares curiosos das pessoas nas ruas quando eu passava. Não, o pior de tudo foi o silêncio que seguiu entre mim e Hyunjin. Nos bastidores, nos ensaios, nas passagens de som, nos shows... a gente fingia que nada tinha acontecido. A gente fingia que não tínhamos sido forçados a terminar nosso namoro. Cantávamos e tocávamos como sempre, mantínhamos a química no palco, mas por dentro, eu estava em pedaços. Eu sentia falta dele.

Eu mal saía do hotel. Sério, eu evitava sair a qualquer custo. Minha rotina se resumia a ir para as passagens de som e os shows. E mesmo nesses momentos, tudo era desconfortável. Cada segundo com Hyunjin ao meu lado era uma tortura. O que antes parecia tão fácil e natural, agora era sufocante. Não conseguíamos nos olhar. Nem mesmo nas músicas mais intensas, onde o público esperava que nossa química explodisse. A gente só seguia o script, fazia o que tinha que ser feito e pronto.

Lembro que, um dia, na passagem de som em Boston, eu estava ajustando o microfone enquanto Hyunjin entrava no palco, segurando a guitarra. Senti sua presença antes mesmo de vê-lo. Sempre foi assim, como se o ar mudasse quando ele estava por perto. Mas dessa vez... dessa vez era diferente. Ele passou por mim, conectou a guitarra no amplificador sem olhar na minha direção e começou a afinar as cordas. Não trocamos uma palavra.

Os outros membros da banda, claro, percebiam. Era impossível não notar o clima tenso entre nós dois. Entre todos nós na verdade. Os membros mal se falavam... estávamos sub-divididos, como nos últimos meses, só que pior. Chan até tentava aliviar as coisas algumas vezes, soltando piadas entre uma música e outra, mas não adiantava. Nada que ele ou qualquer um dos outros pudesse fazer resolveria aquilo. A dor estava ali, latente, cada vez mais profunda.

Dentro da banda, o mundo estava acabando. Eu estava perto do homem que amava, mas não podia ama-lo, não podia beija-lo, nem nada. Lá fora, o mundo estava desmoronando sobre a gente. As fofocas, as suposições, os comentários que cresciam e ganhavam vida própria. Alguns fãs gritavam nossos nomes com ainda mais intensidade, como se quisessem ver algum tipo de confirmação. Outros nos atacavam, como se esperassem que a gente desmentisse tudo. E nós? Nós não dizíamos nada. A banda, a gravadora, o Park... todos preferiram o silêncio.

Só que, no fundo, esse silêncio estava nos matando. Cada dia parecia mais difícil, e eu não sabia quanto tempo mais eu aguentaria. O show tinha que continuar, como sempre. Mas à medida que o tempo passava, eu percebia que aquele show, aquela turnê, não era mais o sonho de antes.

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