Lutas internas

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É claro que nada podia ser perfeito. Por um lado, as composições estavam fluindo. Cada dia no estúdio parecia uma explosão criativa, e nós estávamos mais unidos do que nunca. A química entre todos os membros da banda estava no auge, e cada nova música que surgia parecia ainda mais promissora do que a anterior. Nós mal podíamos esperar para gravar as novas faixas e compartilhar com o mundo o que estávamos criando.

Mas, como sempre, a realidade encontrava uma forma de se infiltrar.

Os comentários ruins começaram a se tornar mais frequentes, como uma onda silenciosa que, pouco a pouco, ia se avolumando. Antes, eu só conseguia enxergar os elogios, o reconhecimento, as boas críticas. Eu focava nas coisas boas, na energia positiva que recebíamos dos fãs e da indústria. Mas agora... era impossível ignorar os comentários negativos. Eles estavam por toda parte.

De início, era como se fossem apenas ruídos de fundo, mas a cada dia, pareciam gritar mais alto. Estavam sempre falando de mim. Felix isso, Felix aquilo. As críticas sobre a minha aparência eram as mais constantes. “Aquelas roupas não são para um homem.” “Quem ele pensa que é com aquela maquiagem?”Aqueles brincos são ridículos.”

Era como se a cada dia eu precisasse enfrentar um novo ataque pessoal. O mais doloroso é que não se limitavam apenas às minhas roupas ou acessórios. Eles iam além. Eles falavam sobre minha voz. Diziam que, apesar de ser potente, não combinava comigo. Que eu não tinha presença o suficiente porque eu era "afeminado demais".

Afeminado demais.

Eu nunca entendi por que alguém deveria se encaixar em uma caixa tão pequena, tão restritiva. Desde o início, eu sempre quis expressar quem eu era, me vestir da forma que eu me sentia bem. Para mim, música e visual sempre andaram juntos. Fazia parte da minha arte. E agora, de repente, essas pessoas, que nem sequer me conheciam, queriam tirar isso de mim.

Lembro de uma noite em particular, quando estávamos saindo do estúdio. Eu e Hyunjin caminhávamos de volta para o nosso dormitório, e eu estava em silêncio, perdido nos meus pensamentos. Hyunjin notou meu estado de espírito, claro. Ele sempre sabia quando algo me incomodava.

— O que foi, Felix? — ele perguntou, parando no meio da calçada e me puxando pelo braço.

Eu hesitei por um segundo, mas sabia que não podia esconder mais aquilo dele. Eu suspirei, esfregando as mãos no rosto antes de finalmente responder.

— Eles não param de falar, Hyunjin. — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. — Não importa o que a gente faça. Não importa o quanto a gente trabalhe duro. Eles só conseguem enxergar o que está por fora. Minhas roupas, meu jeito... minha voz.

Hyunjin ficou em silêncio por um momento, e eu senti o peso daquelas palavras pairando entre nós. Ele parecia estar processando o que eu tinha acabado de dizer. Então, ele se aproximou e segurou meu rosto nas mãos, olhando diretamente nos meus olhos.

— Felix, escuta — ele começou, sua voz firme, mas cheia de carinho. — Eles só estão falando porque você é diferente. E ser diferente assusta as pessoas. Mas você não está aqui pra agradar ninguém. Você está aqui pra ser você. Pra cantar. Pra fazer arte. E isso é algo que eles nunca vão entender.

Eu queria acreditar nas palavras dele. Eu queria. Mas naquele momento, parecia tão difícil. Cada crítica, cada ataque pessoal... era como um tijolo sendo adicionado a um muro, separando o que eu era do que eu achava que deveria ser. Eu abaixei a cabeça, me afastando levemente do toque de Hyunjin, e olhei para o chão.

— E se eles tiverem razão? — murmurei, a voz vacilando. — E se... e se eu não for bom o suficiente?

Hyunjin bufou, incrédulo. Ele segurou meu queixo e me fez olhar novamente nos seus olhos.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora