O Natal de 1978

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O Natal de 1978 chegou mais rápido do que eu esperava, mas a verdade é que o ano tinha sido tão caótico que eu mal sabia em que dia vivíamos. Quando recebemos o convite para participar de um especial de Natal com outros artistas, parecia uma oportunidade de estar com a banda em um ambiente mais leve, mais festivo. Não éramos mais aquela família unida de antes, e isso doía. Muito. Mas, de alguma forma, aquela apresentação parecia uma chance de estarmos juntos, mesmo que só de fachada.

O estúdio estava decorado com luzes, árvores de Natal e flocos de neve de mentira pendurados no teto. O programa seria transmitido ao vivo para todo o país, e artistas renomados passavam por ali. Mesmo com a tensão no ar, todos nos cumprimentavam com sorrisos calorosos. Cada um de nós colocou a sua melhor máscara de felicidade, fingindo que nada estava errado.

Durante os ensaios, cantei ao lado de Hyunjin, como sempre. Nossos olhares se cruzavam de vez em quando, e cada troca de olhar era um lembrete amargo do que tínhamos sido, do que éramos e do que estávamos tentando esconder. Já fazia um mês desde aquela noite em que ele apareceu bêbado na porta do meu quarto. Eu ainda lembrava perfeitamente dele desabando nos meus braços, chorando sem parar enquanto eu tentava segurar nossos pedaços quebrados. Aquela noite, nós apenas dormimos juntos, sem palavras, sem beijos. A presença dele ao meu lado foi um conforto que eu não tinha sentido em muito tempo. Mas depois daquela noite, não se repetiu.

Agora, ali estávamos, lado a lado, diante de um público gigantesco, fingindo que éramos apenas amigos de banda. Eu passava o dedo discretamente pelo anel que ele tinha me dado no Natal do ano anterior. Eu usava o anel todos os dias, mesmo que ninguém soubesse seu verdadeiro significado. Para todos os outros, era só mais um acessório. Mas para mim, era o que restava do nosso amor, o que me conectava a ele de uma forma que ninguém mais podia entender. Eu sabia que ele tinha notado. Hyunjin sempre notava.

Enquanto cantávamos as músicas natalinas, as lembranças daquele último Natal inundavam minha mente. Um ano antes, nós estávamos juntos. Secretamente, mas juntos. Lembro-me de como trocamos presentes naquela noite fria de dezembro, escondidos no dormitório, longe de todos. Hyunjin me deu o anel com um sorriso tímido, e eu disse que o amava pela milésima vez. Naquele momento, tudo parecia possível. Mas agora... tudo parecia distante, como se tivesse sido parte de outro tempo, outra vida.

As câmeras captavam nossos sorrisos, e eu sabia que o público assistindo em casa via uma banda unida, celebrando o Natal com alegria. Eles não viam a tensão entre nós, não viam os olhares que trocávamos e o que estava por trás de cada gesto. E talvez fosse melhor assim. Talvez fosse melhor que ninguém soubesse o quanto estávamos despedaçados.

No fim da apresentação, todos os artistas se reuniram para cantar uma última música juntos. A letra falava sobre amor e união, sobre encontrar conforto nos braços daqueles que amamos. Eu cantei a plenos pulmões, tentando não pensar na ironia daquilo. Quando a música acabou, o público aplaudiu de pé, e nós nos curvamos para agradecer. Olhei para Hyunjin mais uma vez, e por um breve momento, nossos olhares se encontraram de novo. Ele sorriu, mas era aquele sorriso pequeno, melancólico, que só eu conhecia. Aquele sorriso que me dizia que ele sentia o mesmo que eu.

Quando o programa terminou e as luzes se apagaram, eu ainda podia sentir o peso do anel no meu dedo. Aquele era o único pedaço de Hyunjin que eu podia segurar agora, e, por mais que doesse, eu sabia que continuaria segurando. Mesmo que fosse só em segredo. Mesmo que fosse só nas lembranças.

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