Andando nas nuvens

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Nosso álbum estava pronto, e com ele, finalmente veio uma folga. Não tínhamos shows marcados em nenhum clube noturno, e isso era quase um milagre para nós. Depois dessa folga, já estava tudo planejado: uma turnê estadual, mais apresentações, mais dias na estrada. Mas naquele dia em particular, o que me ocupava a cabeça não eram os compromissos futuros ou a carreira da banda. Era Felix.

Eu não conseguia parar de pensar na noite que tivemos juntos. Cada detalhe, cada toque, cada gemido contido. O jeito que ele se movia, o calor do corpo dele contra o meu. Era impossível esquecer. Mas, além do desejo, havia algo mais me perseguindo: a imagem dele sob a luz da manhã, deitado ao meu lado. As sardas escuras e grandes que cobriam as bochechas dele. Aquele detalhe, que eu nunca tinha realmente reparado, me deixou fascinado. Era como se cada sarda formasse um mapa que eu queria explorar.

Eu estava sentado no canto do dormitório, tocando uma melodia qualquer na guitarra. Minha cabeça estava longe, perdido nas memórias da noite anterior, quando ouvi a porta do quarto se abrir. Jeongin e Seungmin entraram, me tirando dos meus devaneios.

— Tá compondo mais alguma coisa? — Jeongin perguntou, jogando sua jaqueta na cadeira ao lado.

— Não exatamente — respondi, ainda dedilhando as cordas sem prestar muita atenção ao que estava tocando.

Seungmin se jogou na cama ao lado e cruzou os braços atrás da cabeça.

— Cara, tô tão cansado — ele disse com um suspiro. — Mas, ao mesmo tempo, ansioso pra essa turnê. Finalmente vamos sair dessa de clube noturno e tocar pra mais gente.

Eu dei um leve sorriso e assenti, mas a verdade era que minha mente estava longe. Claro, a turnê era importante, e eu estava animado. Mas naquele momento, Felix dominava meus pensamentos. Ele tinha mexido comigo de um jeito que eu não esperava.

— Hyunjin, você tá aí? — Jeongin estalou os dedos na minha frente, me fazendo voltar à realidade.

— Hã? O que foi?

Jeongin riu, se sentando na cadeira.

— Perguntei se você tá compondo. Mas, pelo jeito, sua cabeça tá em outro lugar.

Seungmin deu uma risadinha do outro lado da cama, já sabendo o que estava acontecendo.

— Ele tá pensando no Felix — ele comentou, com aquele tom de quem sabe de mais do que deveria.

Eu franzi o cenho, embora soubesse que não tinha como disfarçar. Seungmin era observador demais pra ser enganado.

— Como você sabe? — perguntei, meio rindo, meio tentando esconder o desconforto.

— Ah, por favor — ele revirou os olhos. — Todo mundo viu a química entre vocês nos últimos shows. E você tá mais quieto do que o normal desde ontem. Alguma coisa aconteceu.

Jeongin arqueou as sobrancelhas, claramente surpreso.

— Vocês dois? Tipo, sério?

Eu suspirei e encostei a cabeça na parede, ainda segurando a guitarra no colo.

— Aconteceu... uma coisa, sim. Mas eu não sei o que significa. A gente ainda não conversou direito sobre isso.

Jeongin soltou uma risada suave, se ajeitando na cadeira.

— Isso é uma merda. Vocês precisam resolver isso logo, antes da turnê começar. Porque se não, vai ficar um climão entre vocês e ninguém vai querer lidar com isso na estrada.

Seungmin concordou com a cabeça.

— Ele tem razão. Vocês dois precisam conversar. Se for pra rolar algo, que role logo. Se não, vocês precisam esclarecer as coisas. A última coisa que a banda precisa agora é de drama interno.

Eu sabia que eles estavam certos. Mas a ideia de ter essa conversa com Felix me deixava nervoso. Não era só sobre o que tínhamos feito — era sobre o que eu sentia por ele. E isso me assustava.

— Eu vou falar com ele — eu disse, mais para mim mesmo do que para eles.

Seungmin deu um sorriso satisfeito.

— Boa. É melhor assim. Resolver antes que as coisas compliquem.

Jeongin balançou a cabeça em concordância, mas logo mudou o assunto, começando a falar sobre as ideias para os figurinos da turnê, algo que ele sempre estava empolgado em discutir. Eu tentava acompanhar a conversa, mas minha mente continuava voltando para Felix.

Eu tinha que falar com ele. Tinha que entender o que ele estava pensando. Porque, no fundo, eu sabia o que eu queria: eu queria mais noites como aquela. Mais manhãs ao lado dele, observando aquelas sardas sob a luz suave do amanhecer. Eu só precisava descobrir se ele sentia o mesmo.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora