Um caos delicioso

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Eu lembro exatamente como foi quando voltei para o dormitório depois de ouvir nossa música tocando no rádio. A euforia corria pelo meu corpo como eletricidade, e eu mal conseguia esperar para contar para os caras. Subi as escadas quase tropeçando de tanta empolgação, e assim que abri a porta, vi que a maioria já estava no sofá da sala comum.

Jisung, Minho e Changbin estavam sentados no chão, encostados no sofá, com copos de uísque na mão. O cheiro do álcool misturado com o de cigarro enchia o ar do dormitório. Eu já tinha um cigarro entre meus dedos, tragando com uma satisfação nervosa enquanto entrava.

— Vocês não vão acreditar no que acabou de acontecer! — comecei, minha voz um pouco alta demais, quase ofegante pela correria.

Seungmin e Jeongin, que estavam na cozinha, viraram a cabeça curiosos, sorrisos já aparecendo em seus rostos, como se soubessem que vinha notícia boa. Chan, que estava mexendo em algumas anotações, olhou para mim com aquela mistura de empolgação e expectativa, as sobrancelhas erguidas.

— O que rolou, Hyunjin? — ele perguntou, colocando as anotações de lado e cruzando os braços, meio que esperando que eu explodisse de vez.

Eu traguei profundamente o cigarro, tentando me acalmar por um segundo antes de soltar a bomba.

— Lost and Found — falei, tentando segurar a excitação que dominava minha voz. — Tava tocando no rádio! Agora há pouco! Eu estava na lanchonete, e de repente eu ouço minha própria voz! Caralho, gente, nossa música tava na porra da rádio!

Os olhos de todos se arregalaram, e antes que eu pudesse continuar, a sala explodiu em gritos e risadas de surpresa.

— Você tá falando sério? — Jisung quase engasgou com o uísque, batendo no peito e rindo ao mesmo tempo. — Nossa música? No rádio?

— Caralho, isso é enorme! — Changbin exclamou, levantando o copo de uísque como se brindasse. — Eu falei que ia acontecer!

Seungmin e Jeongin trocavam olhares e riam, como se tivessem acabado de ganhar na loteria. O sorriso de Chan crescia mais e mais, e dava pra ver o brilho de empolgação nos olhos dele.

— Eu sabia que esse momento ia chegar, só não achei que seria tão rápido — ele admitiu, levantando-se do sofá e caminhando na minha direção. — Isso significa que estamos no caminho certo, Hyunjin.

Eu só conseguia sorrir e tragar meu cigarro, sentindo meu corpo tremer com a adrenalina.

Mas o que mais chamou minha atenção foi a expressão de Felix. Ele estava sentado em uma poltrona no canto da sala, de olhos arregalados, completamente imóvel. Era como se ele estivesse em choque. Nossos olhares se encontraram por um segundo, e eu vi um misto de surpresa, orgulho e... algo mais. Eu não sabia bem o que era, mas o jeito que ele me olhava me deixava ainda mais eufórico.

— Felix, você ouviu o que eu disse? — perguntei, soltando a fumaça enquanto me virava na direção dele, sorrindo como um louco.

Ele piscou, parecendo voltar à realidade, e assentiu devagar.

— Eu... eu ouvi — ele murmurou, um pequeno sorriso crescendo nos lábios. — Nossa música, no rádio... Isso é surreal.

Eu ri alto e me joguei no sofá ao lado dele, minha perna encostando na dele sem querer, mas eu não me importava. Eu estava completamente fora de mim de felicidade.

— Isso é só o começo, Felix! — eu falei, quase gritando de empolgação. — Nossa música vai explodir, eu tô sentindo isso. A gente vai deixar de tocar nesses clubes de merda e vai ter a porra de uma turnê! Acredite em mim!

Ele riu, balançando a cabeça, como se estivesse tentando processar tudo.

— Eu acredito em você, Hyunjin — ele respondeu, a voz um pouco baixa, mas sincera. — Sempre acreditei.

E foi nesse momento, enquanto eu tragava mais uma vez, que eu percebi que Felix estava me olhando de um jeito diferente. Era como se ele estivesse me estudando, vendo algo que ele não tinha visto antes. Eu senti meu coração acelerar, mas dessa vez, não era só pela euforia da música. Era por ele. Felix. E o jeito que ele me olhava, com aqueles olhos castanhos cheios de algo que eu não conseguia decifrar completamente, fez minha mente girar de um jeito completamente diferente.

Eu sabia que aquela noite, depois de tudo isso, eu não conseguiria pensar em outra coisa.

A euforia ainda corria nas minhas veias quando fui até o quarto de Felix mais tarde. O fato de ouvir nossa música no rádio, de ver o sorriso dele enquanto eu falava, e de perceber como ele me olhava... tudo isso me deixou com uma adrenalina que eu precisava extravasar. E tinha uma única pessoa com quem eu queria compartilhar aquele momento.

Empurrei a porta do quarto dele devagar, sem fazer barulho. Felix não estava lá, mas eu conseguia ouvir o som do chuveiro ligado no banheiro. Eu me sentei na beirada da cama dele, olhando ao redor. O quarto de Felix sempre foi bem organizado, até demais. As roupas estavam dobradas em cima da cadeira no canto, e o caderno de letras dele estava na mesa, ao lado de uma paleta de maquiagem aberta. Eu sempre achei que o quarto dele refletia quem ele era, meticuloso e quieto.

Eu tirei o cigarro da boca, apagando-o no cinzeiro que estava em cima do criado-mudo. A ansiedade crescia dentro de mim. Eu me senti inquieto, como se não pudesse ficar parado. Passei a mão pelos meus cabelos e puxei do bolso um pacotinho com um pouco de pó branco. Eu só queria uma carreirinha, só pra manter o ânimo.

Coloquei um pouco do pó sobre a mesa, formei uma linha fina e, com um canudo improvisado, cheirei aquilo rapidamente. O pó queimou levemente minhas narinas, e logo a sensação familiar de energia renovada me atingiu, fazendo meu coração bater ainda mais rápido.

Fechei os olhos por um segundo, saboreando o efeito. Eu me senti... revigorado. Pronto para qualquer coisa. O mundo estava nas nossas mãos agora, e eu mal podia esperar para ver onde tudo isso iria nos levar.

Fiquei ali, sentado na cama dele, batendo os dedos contra o colchão, esperando pacientemente. O som da água do chuveiro ainda corria pelo banheiro, e eu sabia que, a qualquer momento, Felix iria sair dali. Ele nem fazia ideia do que eu estava sentindo. Não podia esperar para ver o rosto dele de novo, ver aqueles olhos que me olhavam de um jeito que ninguém mais fazia.

A ansiedade e a empolgação misturavam-se com a adrenalina. Era um caos delicioso dentro de mim.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora