Tentando não se afogar junto

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Eu não tinha ideia do que tinha acontecido naquele dia para Hyunjin estar daquele jeito. Ele entrou no ônibus todo agitado, jogou uns doces na cama e se jogou no sofá, sem dizer uma palavra. Algo tinha acontecido, mas eu sabia que se eu perguntasse, ele não ia me responder. Era assim que ele lidava com as coisas. Ele fechava o mundo, me fechava, e se afundava mais nas drogas. Eu já estava acostumado, mas doía. Doía pra caralho.

Naquela tarde, durante a passagem de som, eu o vi novamente. Estava de costas pra mim, inclinado sobre a pia do banheiro improvisado no camarim, cheirando mais uma vez. Aquilo era uma rotina agora. Cada pausa era uma desculpa pra ele ir ao banheiro e cheirar. Era uma droga diferente a cada hora do dia, e ele nem fazia questão de esconder. A cada vez que ele saía do banheiro, os olhos dele brilhavam de um jeito que não era natural, que não era o Hyunjin que eu conhecia.

Eu o observei de longe, meu peito apertando de frustração, de impotência. Ao meu lado, Chan estava de braços cruzados, olhando pra ele também. Ele suspirou pesado, balançando a cabeça, claramente desapontado. Eu sabia que Chan estava no limite. Ele tentava ajudar Hyunjin de todas as formas, mas era como bater em uma parede de concreto. Não importava o quanto a gente se importasse, Hyunjin continuava se afastando de nós, afundando mais e mais.

— Ele vai se matar desse jeito — Chan murmurou, sem olhar pra mim. — Não sei mais o que fazer, Felix.

Eu apenas engoli em seco. O que eu podia dizer? Ele estava certo, e todos nós sabíamos disso.

No meio daquela tensão, Jisung se aproximou com um cigarro pendendo no canto da boca, observando a cena como quem já tinha visto tudo aquilo antes. Ele deu uma longa tragada, liberando a fumaça pelo nariz e pelos lábios, e se inclinou um pouco pra falar comigo.

— O que vai fazer agora? — ele perguntou, com o tom despreocupado de sempre, mas com um olhar que mostrava que ele entendia a gravidade da situação.

Eu olhei pra Hyunjin de novo. Ele estava agora de volta ao microfone, ajustando a guitarra, como se nada tivesse acontecido, como se não estivesse se destruindo um pouco mais a cada hora que passava.

— O que eu posso fazer, Jisung? — respondi, frustrado, sentindo um peso enorme nas minhas palavras. — Eu já tentei de tudo, mas ele só se afasta mais. Ele tá me destruindo junto, cara.

Jisung deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça lentamente, os olhos perdidos no palco.

— Eu sei. Todo mundo vê isso. Mas ninguém pode salvar Hyunjin... a não ser ele mesmo — Jisung disse, a voz baixa, mas direta.

Eu queria acreditar nisso. Queria acreditar que Hyunjin conseguiria sair dessa por conta própria. Mas a cada vez que ele entrava naquele banheiro, a cada vez que eu o via com os comprimidos na mão, a esperança ia diminuindo um pouco mais. Eu estava começando a me perder também.

Eu voltei meus olhos para ele, tocando a guitarra como se fosse a única coisa no mundo que ele ainda conseguia controlar. Sua cabeça balançava levemente, perdido na melodia que criava, mas seus movimentos eram tensos, rápidos demais. Ele estava inquieto, nervoso, e eu sabia que mais uma dose de alguma coisa ia acontecer em poucos minutos.

— Eu não sei quanto tempo mais eu aguento isso, Jisung — admiti, sentindo o nó na minha garganta se formar.

Jisung deu mais uma tragada e colocou a mão no meu ombro, apertando de leve.

— Só lembra de uma coisa, Felix. Por mais que você ame o Hyunjin, não dá pra se afogar junto com ele.

Eu fiquei em silêncio, as palavras dele ecoando na minha mente. Eu sabia que ele tinha razão. Mas como era possível não me afogar, quando eu não sabia mais viver sem ele?

Olhei para o palco de novo, onde Hyunjin agora estava prestes a começar a cantar, os olhos dele procurando os meus, como ele sempre fazia. Era como se ele se conectasse comigo de novo, como se, por alguns minutos, tudo estivesse bem entre nós. Era um ciclo vicioso. E eu estava preso nele.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora