Foco excessivo

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Na segunda quinzena de outubro, finalmente tínhamos gravado todas as músicas do álbum. Era um alívio enorme, mas sabia que ainda teríamos bastante trabalho pela frente. As mixagens começariam logo e o álbum sairia em janeiro de 1978, exatamente dois anos após o Lost and Found. A pressão de cumprir os prazos e de manter a qualidade era imensa, mas estar no estúdio e criar algo com significado sempre me dava uma certa paz. Ao menos ali, o caos lá fora ficava em segundo plano.

Mas, é claro, nem tudo era perfeito. A tensão no grupo estava presente, especialmente com Jisung e alguns dos outros membros. Eu sabia que não era fácil para eles verem a mídia sempre focando em mim e Felix. Éramos oito, afinal, mas parecia que todas as manchetes, fotos e entrevistas eram sobre nós dois. Aquilo era algo que incomodava, e, sinceramente, eu entendia. Só que, por mais que eu tentasse não chamar tanta atenção, Felix e eu tínhamos uma conexão forte demais. E, inevitavelmente, isso se refletia nas músicas, nos palcos e, claro, nas fotos.

No dia da sessão de fotos para a capa do disco, tudo começou relativamente bem. O fotógrafo nos colocou em várias poses, pediu que ficássemos juntos, separados, em pares... Mas era visível que ele estava mais interessado em mim e Felix. Foram, sei lá, 10 fotos com o grupo completo, e pelo menos umas 70 só de mim e Felix.

Eu olhava para os outros, e a irritação era palpável. Enquanto o fotógrafo ajustava a câmera e preparava mais uma pose só minha e de Felix, Jisung encostou-se a uma parede, acendendo um cigarro com o rosto fechado.

— Ei, não esquece que a gente é oito, não dois — ele disse, meio em tom de brincadeira, mas com um certo veneno nas palavras.

O fotógrafo sequer olhou para ele. Apenas murmurou algo como "Aham" e continuou focando na gente. Isso deixou Jisung ainda mais irritado. Eu via nos olhos dele que, se pudesse, ele arrancaria aquela câmera da mão do fotógrafo e a quebraria ali mesmo.

Minho, que estava ao lado de Jisung, percebeu a irritação e se inclinou para sussurrar algo no ouvido dele. Não ouvi o que foi dito, mas o suficiente para Jisung revirar os olhos e soltar a fumaça com força, visivelmente contrariado.

Jisung soltou mais uma baforada de fumaça, claramente tentando manter a calma, mas o rosto dele denunciava o contrário. Minho sussurrou de novo no ouvido dele.

— Eu sei que não vai ouvir. Mas é irritante pra caralho — Jisung resmungou, olhando para a câmera como se quisesse destruí-la com o olhar.

Eu suspirei, tentando não deixar aquilo me afetar, mas era difícil. Felix estava ao meu lado, pronto para mais uma foto, e eu sabia que ele sentia o peso da tensão também. Mesmo assim, mantínhamos as expressões, como bons profissionais. Sabíamos que, uma vez que a câmera estivesse em nós, teríamos que entregar o melhor.

O fotógrafo ajustou a lente e nos pediu para nos aproximarmos mais, quase encostando os rostos um no outro. Felix me olhou por um segundo, com aquele brilho nos olhos que ele sempre tinha quando sabíamos que estávamos prestes a criar algo especial. Era uma conexão que só nós dois entendíamos. Mesmo com todo o caos ao redor, quando era só eu e ele, parecia que o mundo desaparecia.

— Perfeito, mais perto, por favor — o fotógrafo instruiu, sem notar o clima tenso ao redor.

Eu obedeci, inclinando a cabeça em direção a Felix, enquanto ele fazia o mesmo. A proximidade nos deixava no limite entre o conforto e o desejo, algo que sempre ficava evidente quando estávamos juntos. Eu sabia que isso passava para a foto. E, mesmo que isso irritasse os outros, era o que o público adorava. E, no fundo, o fotógrafo sabia disso.

Do canto do olho, vi Chan, que estava mais afastado, conversando com Jeongin, Seungmin e Changbin. Eles pareciam tranquilos, aceitando o que estava acontecendo. Mas Jisung não. Ele deu uma última tragada no cigarro antes de jogá-lo no chão, pisando com raiva.

— Foda-se, então — ele murmurou, virando-se para sair do estúdio por alguns minutos.

Eu sabia que ele estava no limite. E, sinceramente, eu também ficaria se estivesse na posição dele. Não era justo que a banda inteira fosse ignorada em prol de mim e Felix. Mas o problema é que nós não tínhamos controle sobre isso. A mídia, o público... Todos queriam aquilo. Queriam a nossa imagem juntos, a nossa história.

— Hyunjin — Felix me chamou baixinho, me tirando dos pensamentos. — Vamos terminar logo com isso.

Eu assenti, virando minha atenção de volta para a câmera, enquanto o fotógrafo continuava a dar instruções. Tiramos mais algumas fotos, e eu percebia que, apesar da tensão, Felix estava tentando se concentrar. No entanto, sabia que ele sentia o peso de tudo aquilo. Mais do que qualquer um de nós.

— Isso, perfeito! — o fotógrafo exclamou, finalmente satisfeito com o que tinha capturado. — Vocês dois juntos são uma química única. Nem preciso dizer que vai vender bem.

Eu sorri de leve, mas por dentro, me sentia dividido. Sabia que tínhamos criado algo incrível, mas a que custo? Felix parecia exausto, e os outros estavam claramente desconfortáveis com o foco excessivo em nós dois.

Depois das últimas fotos, o fotógrafo finalmente deu por encerrada a sessão. Felix suspirou aliviado, e eu o abracei de leve, percebendo que ele precisava de um momento.

— Vamos sair daqui — eu sugeri, baixinho, ao ouvido dele.

Ele assentiu, e saímos juntos, deixando o estúdio enquanto os outros membros recolhiam suas coisas. Sabia que aquela tensão ainda ia continuar por um tempo, mas naquele momento, eu só queria estar com Felix e esquecer um pouco daquele caos.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora